A Amazônia registrou um desmatamento de 185 quilômetros quadrados em fevereiro, um índice 29% superior ao mesmo período de 2009. O Ministério do Meio Ambiente atribuiu o aumento às mudanças meteorológicas, com redução da área coberta de nuvens, o que permite captação melhor das imagens pelo Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter). A expectativa é de que nos próximos meses esses índices possam apresentar ainda uma ligeira elevação. Tanto pela melhora das condições meteorológicas quanto pela chegada do período em que tradicionalmente há aumento da atividade de desmatamento.
Apesar do desempenho registrado em fevereiro, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse estar confiante sobre o ritmo de queda de desmatamento no País. Dados do Deter revelam que 1.352 quilômetros quadrados de floresta foram derrubados entre agosto de 2009 e fevereiro de 2010. Um índice 51% menor do registrado no período entre agosto de 2008 e fevereiro de 2009: 2.781 quilômetros quadrados.
Com novos índices agora coletados, a expectativa do Ministério é de que muito rapidamente o País consiga reduzir o desmatamento para a marca de 6,5 mil quilômetros quadrados anuais - algo que estava previsto para ser atingido apenas em 2015.
Em fevereiro, a área de cobertura de nuvens na Amazônia foi de 57%. Nessa região encoberta, o sistema Deter não consegue verificar se houve desmatamento. Em fevereiro de 2009, a área de cobertura de nuvens foi maior, 80%. Dados divulgados hoje mostram ainda que o Deter detectou em janeiro 23 quilômetros de desmatamento. No mês, 69% da área analisada estava coberta por nuvens. Em dezembro, dados não foram divulgados justamente porque toda a área estava encoberta.
LÍGIA FORMENTI - Agência Estado
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Flagrante via satélite
O desmatamento da Amazônia sempre foi uma vergonha nacional sem rosto. Há duas décadas, quando satélites começaram a cruzar o espaço acima das árvores e fotografar, a cada quinze dias, o panorama da floresta, se sabe que a Amazônia está sendo devorada em grandes nacos. O ritmo da destruição flagrada pelas fotos mostra que por ano, em média, desaparece a cobertura vegetal de uma área equivalente a metade do Estado de Alagoas. São medições muito precisas e inquestionáveis. O levantamento feito do espaço, porém nunca pôde responder à perguntar crucial: quem são os responsáveis pelos focos de destruição? Na semana passada, pela primeira vez desde que a devastação sistemática da província ecológica mais rica do planeta começou a tirar o sono do mundo, as autoridades brasileiras puderam localizar os culpados. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis já tem em mãos o nome dos dez maiores desmatadores do ano passado. "De agora em diante será possível identificar e responsabilizar individualmente os grande agressores da floresta", diz Rodolfo Lobo, chefe do Departamento Nacional de Fiscalização do Ibama. Para fazer esse cadastro dos destruidores da mata, o Ibama teve de cruzar dados de diversas fontes. Foi uma operação em três fases. Na primeira, o Centro de Sensoriamento do órgão analisou as fotos do satélite Landsat e identificou nelas as áreas desmatadas com mais de 1 000 hectares, equivalentes a 1 200 campos de futebol. Como não tiveram acesso integral aos levantamentos mais antigos, os técnicos se fixaram sobre as glebas desmatadas mais recentemente, entre 1997 e 1998. O tamanho de 1 000 hectares foi escolhido porque todo desmatamento dessa dimensão ou maior só pode ser feito com um relatório de impacto no meio ambiente, Rima. A segunda etapa foi sobrepor as fotos do satélite aos mapas locais das regiões onde foram encontradas as áreas desmatadas. Isso permitiu saber em que município estão localizadas as fazendas. A terceira e última foi a fase mais complexa. Com as imagens e mapas na mão os técnicos do Ibama foram a campo descobrir os fazendeiros responsáveis pelo corte ilegal de árvores. A partir dos dados de latitude e longitude das áreas desmatadas, fornecidos pelo cruzamento das fotos de satélite com os mapa locais, os fiscais foram para o corpo- a- corpo. Essa última etapa do levantamento foi acompanhada pelos repórteres de Veja. Equipados com GPS, instrumentos de navegação via satélite, os fiscais checaram cada um dos pontos indicados pelas coordenadas geográficas das fotos feitas do espaço. Só assim foi possível descobrir o nome das fazendas e de seus proprietários.
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