quinta-feira, 25 de agosto de 2011

MPF investiga ataque a acampamento indígena que deixou 3 feridos em MS

Polícia Federal encontrou mais de 20 balas de borracha deflagradas.
MPF informou que vai instaurar inquérito por genocídio para apurar o caso.



Iguatemi ataque indígenas MS (Foto: Divulgação/MPF)
Homens dispararam vários tiros e atearam fogo no acampamento, diz antropólogo (Foto: Divulgação/MPF)
O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) investigam o ataque ao acampamento de um grupo de indígenas da etnia Guarani-Kaiowá, que aconteceu na última terça-feira (23), às margens de uma estrada vicinal em Iguatemi, município distante 446 quilômetros de Campo Grande. Segundo informações do MPF, pelo menos três pessoas ficaram feridas após serem atingidas por tiros de bala de borracha.
Nesta quinta-feira (25), o procurador da república, Antônio Marcos Delfino, informou ao G1 que será instaurado um inquérito por genocídio para apurar o caso. “É muito claro que as famílias que estavam acampadas foram atacadas pelo simples fato de serem indígenas. Por isso vamos classificar o caso como genocídio, por se tratar de um crime motivado por diferenças étnicas”, explicou o procurador.

Segundo informações do antropólogo do MPF, Marcos Homero Ferreira Lima, cerca de 30 indígenas estavam no acampamento entre idosos, crianças e adultos.
Os indígenas relataram ao antropólogo e à PF que cerca de 20 homens armados participaram do ataque. Eles chegaram ao acampamento em quatro caminhonetes. “Duas caminhonetes ficaram paradas próximo ao acampamento e outras duas entraram no local. Eles dispararam vários tiros e depois atearam fogo nos barracos, pertences e mantimentos do grupo, contou o antropólogo.
Um indígena de 75 anos foi atingido no rosto, perto do olho direito (Foto: Divulgação/MPF)
Um indígena de 75 anos foi atingido no rosto,
perto do olho direito (Foto: Divulgação/MPF)
Em vistoria no local, a PF encontrou aproximadamente 20 balas de borracha deflagradas.
Nesta quinta-feira um dos indígenas que ficou ferido, de aproximadamente 75 anos, prestou depoimento à PF do município de Nioaque e passou por exames periciais. Ele foi atingido com uma bala de borracha no rosto, perto do olho direito.
No início do mês de agosto o grupo de indígenas ocupou parte da fazenda Santa Rita, em Iguatemi, com o objetivo de pressionar a Fundação Nacional do Índio (Funai) a acelerar o processo de demarcação indígena da terra Puelito Kue.
Segundo o antropólogo, os indígenas deixaram a fazenda e montaram um acampamento na estrada vicinal, que fica próxima à propriedade, porque se sentiram ameaçados.
A fazenda Santa Rita pertence à família do prefeito do município de Iguatemi. Em entrevista ao G1, a administradora da propriedade, Lúcia Felippe Arcoverde, informou que não houve nenhum tipo de conflito dentro da propriedade. Ela informou ainda que não tem conhecimento sobre o ataque ao grupo indígena ocorrido perto da fazenda.

Fonte:
Tatiane Queiroz Do G1 MS

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Uma grande manifestação simultanea e internacional será realizada, contra a Construção da hidrelétrica de Belo Monte

Uma grande manifestação simultanea e internacional será realizada no dia 20 de agosto as 13:00 hrs.

Os estados brasileiros participantes são: Acre, São Paulo, Rio de janeiro, Pernambuco, Amazonas, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Bahia, Brasilia, Belo Horizonte, Maranhão, Mato Grosso, mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas, Paraná, Minas Gerais e Brasilia.

Paises participantes: França, ecuador, Peru, Mexico, Estados Unidos, Canada, Argentina, Chile, Reino Unido, Espanha, Austrália e Portugal.

Em São Paulo-SP o evento se realizará na Av. Paulista, em frente ao MASP ( Museu de Arte de São Paulo) as 13:00 hs


Em Santos-SP, praça das bandeiras, 18:00hs

No Rio de Janeiro-RJ, posto 4 na Av. Atlantica em Copacabana, as 14:00 hs

Em Salvador-BA, Praça Campo Grande, até a Praça Municipal, as 14:00 hs

Em Fortaleza-CE, praça José de Alencar, centro, as 13:00 hs


Em Natal-RN, Calçadão da João Pessoa, centro, as 14:00hs

Em Recife-PE, Praça do Derby, as 14:00 hs

Em Brasília-DF, em frente ao congresso nacional, as 14:00 hs

Em Belo Horizonte
, Av. Afonso pena, centro, em frente a sede da prefeitura, as 14:00hs

Em João Pessoa-PB, feirinha de Tambaú, as 14:00

Em Belém-PA, Praça da República, em frente ao Teatro da Paz rumo ao Ver o Peso, as 08:30

Em Porto Alegre-RS, Praça Parobé, mercado publico, as 14:00hs


Em Canarana-MT, em frente a prefeitura de Canarana, as 13:00hs

Na França, Parvis des droits de l'Homme, place du Trocadéro, Paris, 15:00h

Em Portugal, ...

PORTO, Consulado Brasileiro, Av França n° 20, as 13:00 hs

LISBOA, Consulado Brasileiro, Praça Luis de Camões , CHIADO

Nos Estados Unidos - USA...

Florida, Lincon Rd and Washington Ave Miami Beach,  On August 20th· 18:00 - 21:00pm
 
San Francisco, 300 Montgomery street, Suite 900, San Francisco, CA 94104, day 22, Monday, in Brazilian Consulate.

Washington, DC Brazilian Embasy in Washington DC - Georgetown, Monday, 22 12:30pm


Salt Lake City, Utah Utah Brazilian Consulate, 180 south 300 West, Suite 130, Monday, 22 TDB


New York City, NY Brazilian Consulate, AVE. of theAmericas and 14th ST. NYCMonday, 22 12:00pm


No Mexico, Guadalajara, Brazilian Consulate, monday 22, 12:30pm


Wales Wrexman, Monday 22, 1:00pm


Na Austrália, Caneberra, ACT Brazilian Embassy - Canberra. 19 Forster Crescent, Yarraluma, monday, 22, 1:00pm


No Canadá, Toronto, Ontario Embassy of Brazil in Toronto - 77. Bloor Street West, Suite 1109, Monday 22 3:00pm


Na Inglaterra, London Embassy of Brazil, London, Monday, 22, 1:00pm


Na Alemanha, Berlin Brazilian Embassy in Berlin, Monday, 22 2:30pm


Em Netherlands, Hauge Brazilian Embassy in the Haugue, Monday, 22, 8:30am


Em Scotland, Edinburgh from Carlton Hiil to the Meadows Monday, 22, 12:00pm


Em Taiwan, Taipei Nearest Emassy or Consulate, Monday, 22, 2:00pm


Em Turkey, Ankara Brazilian Embassy, Monday,22, 11:00am


Com realização de cantos e danças tradicionais xinguanas, torés diversos e rituais de guerra xinguanos.

Haverá pintura corporal indigena xinguana, realizada pelos guerreiros do xingu.


CHEGUE CEDO PARA SER PINTADO PELOS GUERREIROS DO XINGU (a partir das 11:00 às 13:00)

Estarão presentes as etnias indigenas: Kalapalo, Kamayurá, Kuikuro, Guarani, Wassu cocal, Xavante, Tikuna, Pataxó, Pankararu, Fulni-ô, Kaiowá, entre outras mais.

COMPAREÇA!!

E faça parte desta grande corrente de cidadania e justiça!!

PELO DIREITO DE SOBREVIVENCIA DOS POVOS XINGUANOS

Organização:

Sany Kalapalo
Neydison Pataxó
Kuana Kamayurá
Eduardo Vitszyn

Apoio:
Blog do Netuno
Vedas
Casa Jaya
Greenpeace
Revolução da colher
Xingu vivo para sempre
Tradição dianica nemorensis
Movimento Brasil pelas florestas
Museu do índio - Embu das artes/SP

Obs: O museu do indio e a Casa Jaya, em são paulo, estarão realizando pinturas corporais indigenas xinguanas na semana anterior o dia do protesto para quem quiser se preparar para o grande ritual antecipadamente.



HISTORICO

O Frente de Ação Pro-Xingu é uma idealização ds índias Sany Kalapalo e Kuana Kamayurá Kalapalo, que criaram este grande movimento visando combater os reais problemas sofridos no Xingu. O principal deles, é a construção de uma mega usina hidroelétrica que, desde que fora projetada em 1980, vem desencandeando uma série de problemas, conflitos e manifestações indigenas, contra as ações do governo que atualmente vem respondendo de maneira cada vez mais danosa para os índios.

O inicio efetivo deste movimento agitado por estas duas jovens guerreiras xinguanas, se deu em janeiro de 2010, onde por uma ideia proposta e muito trabalho, vem crescendo a cada dia, ganhando cada vez mais apoiantes e seguidores.

O primeiro protesto de rua foi realizado, depois de muito esforço e trabalho, no dia 25 de Março de 2011, onde compareceram apenas 12 pessoas, mesmo com uma boa divulgação. Após isto, em empenho maior no tocante ao esclarescimento do foco movimental foi realizado e uma nova manifestação de rua marcada para dia 20 de Maio, desta vez, com cerca de 300 pessoas presentes, dentre elas, representantes de 13 etnias diferentes.

Após este evento, muitas pessoas tomaram conhecimento da luta e se organizaram entre si, realizando mais manifestações.

A proxima manifestação de rua marcada será de cunho internacional, onde todos os estados brasileiros realizarão o mesmo protesto, no mesmo dia e hora, com a confirmação de 16 paises e seus respectivos estados-capitais. Esta manifestação esta marcada para o dia 20 de agosto de 2011 e fora marcada no dia 21 de maio de 2011 em uma reunião de familia.

Desde então os esforços tem sido gigantescos.

Muitos ganhos, muitas dificuldades, muitas alegrias, muitas tristezas, muitas ofensas, muitas decepções....e a preocupação só aumentando e a luta cada vez mais dificil.

Mas essas duas índias guerreiras não desistem e se mantem firma na luta em defesa do seu povo.

Um grande exemplo a ser seguido pelos jovens indígenas do Brasil.....Os verdadeiros donos da Terra!!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

21 línguas em risco de desaparição iminente no México, 5º estado com maior plurilinguismo do mundo

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O Atlas das Línguas em Perigo, elaborado pela ONU, registra 144 próximas da desaparição no México, 21 delas em situação crítica.

O último censo de População e Morada 2010 realizado pelo Instituto Nacional de Estatística e Geografia (Inegi) de México indicou recentemente que mais de 19 línguas indígenas faladas pelos nativos correm um sério perigo de desaparecer, informou nesta segunda-feira a imprensa internacional. Estes dados confirmam os apresentados em 2009 pela ONU, que referiu a existência de 144 em risco e 21 em situação crítica.
O Inegi explicou que muitos indígenas mexicanos abandonam sua língua nativa e outros tantos nem sequer a aprendem. Isso se conclui do estudo realizado pelo referido organismo, que no ano passado registrou 89 línguas autóctones mexicanas, das quais 10 são faladas por menos de 10 indígenas e mais uma dúzia tem menos de 100 falantes.
Entre os idiomas originários que se encontram à beira da extinção estão o chinanteco de Lalana, o popoluca de Oluta, o popoluca de Texistepec, o zapoteco do Recanto, o chinanteco de Sochiapan; o papabuco, o ayapaneco, o mixteco da zona mazateca e o chinanteco de Petlapa, todas faladas por menos de 10 pessoas.
Outros 16 idiomas indígenas estão em risco, como são o paipai, o kumiai e o cucapá, na Baixa Califórnia; o cakchiquel, o quiché e o jacalteco, em Campeche, Chiapas e Quintana Roo; o ixcateco, em Oaxaca; o seri e o pápago, em Sonora; e o kikapú, em Coahuila.
Também estão em risco o maia, com 786 mil falantes (sobretudo em no Iucataão, Campeche e Quintana Roo), e o mixteco, com quase 472 mil pessoas (principalmente em Oaxaca e Guerrero).
O Alto Comisionado da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) indicou na última edição do Atlas de línguas do mundo em perigo que no México existem 364 variantes linguísticas, das quais 52 estão em situação vulnerável, 38 em perigo, 32 seriamente em perigo e 21 em situação crítica.
Significativa subsistência de população falante de línguas originárias mexicanas
Com dados de 2010, no México ainda subsistem 6.6% da população de 3 ou mais anos que fala alguma das numerosas línguas originárias mexicanas. As mais faladas são o áhuatl (23%), maya (11.5%), tzeltal (7%), mixteca (6.9%), tzotzil (6.5%) e o zapoteca (6.4 por ciento).  É o segundo estado americano com mais número de línguas originárias, a seguir ao Peru, e o quinto com mais línguas autóctones no mundo.
6 em cada 10 falantes dessas línguas moram em regiões rurais e 9,7% das crianças falantes entre 6 e 14 anos não frequenta a escola, enquanto 68.8% dos e das falantes com mais de 12 anos se dedica a atividades agropecuárias.
Com informações de TeleSUR, Veracruzanos.com, Informador.com.mx e Instituto Nacional de Estadística e Geografia (INEGI)
Fonte:  Diário Liberdade

domingo, 7 de agosto de 2011

A Amazônia ambicionada

O interesse estrangeiro pela Amazônia antecede o descobrimento: antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o espanhol Vicente Yañez Pinzón visitou a costa nordeste da América e chegou até o estuário do grande rio que, escondido em igarapés, furos, rias e passagens, não se dava a conhecer. Sua foz abarcava mais de 50 léguas e suas águas pareciam avançar 16 em oceano aberto (hoje, se sabe que alcançam 320 km). Indiferente a tudo, o Amazonas abria sua boca no estuário imenso. Toldava de barro as águas azuis do Atlântico.

Pinzón chamou a ilha de Marajó de Marinatãbalo, assinalou um cabo que chamou de São Vicente, que deve ser o cabo Orange, e chamou o Amazonas de Santa María de La Mar Dulce. À região para o norte, onde é hoje o Amapá, chamou de costas anegadas, isto é, terras afogadas. Descobriu o rio Oiapoque, que logo recebeu seu nome. O mistério e a imensidão da região logo despertaram a cobiça e o desejo de possuí-la.
Esta era a região aproximada em que a linha de Tordesilhas encontrava a costa. Tanto pelas indefinições do texto do Tratado, como pela própria dificuldade de se saber onde se estava, não se sabia exatamente onde.
A costa amazônica foi logo visitada por navegantes, corsários e piratas de várias nacionalidades. O primeiro registro muito importante é o da viagem de Orellana, de 1540 a 1542, partindo de Quito e chegando, pelo Amazonas — naquele tempo em geral chamado de rio Marañón —, ao Atlântico. Frei Gaspar de Carvajal, que com ele seguia, contou como tentou explorar a terra da Canela, e seguiu um rio que deu num rio que deu num rio e “aqui demos de chofre na boa terra e senhorio das amazonas… desde o ponto em que deixamos Gonçalo Pizarro já caminhamos 1.400 léguas, antes mais do que menos”. Haviam atravessado a Amazônia.
De volta à Espanha, Orellana ganha a concessão das imensas terras em torno do rio e, ao vir ocupá-las, morre na foz, depois de naufrágios sucessivos. No mesmo ano de 1546, Luís de Melo e Silva passa pela boca do Amazonas e, com o rei de Portugal, consegue também uma concessão, uma capitania cujo nome e documentos não nos chegaram. Mas também morre no desejo de possuí-la, tragado em suas águas, em outro naufrágio.

Apesar da falta de documentos, sabemos que as passagens dos portugueses pela área eram freqüentes: como assinalou o barão do Rio Branco, os mapas desse tempo, inclusive os holandeses, em geral já trazem marcado o nome português de Cabo do Norte para o atual Amapá. Mas o próximo registro é de franceses que visitaram o norte da costa amazônica e depois se fixaram em terras da ilha de Ipaon Açu, no Maranhão: Jacques Riffault e Charles des Vaux.

No seu traço aparece o nobre francês Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, que, partindo de Cancale, na Bretanha, navega por esses mares, ancora no cabo Cassiporé, visita a terra de Yapoco, corre a costa do hoje Amapá, regressa à foz do rio Caiena e volta à França levando um índio, chamado Itapucu, que depois o acompanha em várias viagens. Com ele vinha Jean Mocquet, chefe do Gabinete de Singularidades de Henrique IV, que conta a viagem de La Ravardière e as lutas entre os índios e novidades desse novo mundo. Esse La Ravardière vai ocupar uma posição muito importante na história das descobertas. Recebe de Henrique IV uma concessão para colonizar essa vasta região, fundar a França Equinocial.

Em 1612 instala-se, com o apoio das tribos da região. Fortifica-se. Em homenagem ao rei-menino — Luís XIII tinha 11 anos — dá o nome de seu avô, São Luís, (Luís IX) ao principal núcleo. O projeto abarca toda a costa amazônica e avança até o Caribe. Em Salvador e no Recife concerta-se a reação. Monta-se a expedição de Jerônimo de Albuquerque e Diogo de Campos Moreno por terra e mar. Enfrentam dificuldades para chegar. Mas, surpreendentemente, ante a enorme superioridade em gente, armas, navios, conseguem a vitória de Guaxenduba. É a intervenção de Nossa Senhora, segundo a crônica portuguesa. Seguem-se trégua, negociações e a retirada dos franceses.
Funda-se a primeira cidade da Amazônia, que mantém o nome de São Luís. Dois grupos são mandados ao rio das Amazonas: por terra, sob o comando do capitão Pedro Teixeira, por mar, sob o comando de Francisco Caldeira Castelo Branco. Este cria, em 1616, o forte do Presepe, a futura Belém. Começam os combates sistemáticos contra a pirataria na foz do Amazonas.
Desde 1596 os ingleses haviam aparecido, na pessoa do explorador Keymis, quem primeiro deu o nome de Oiapoque ao rio de Vicente Pinzón. Nesse período, ingleses, irlandeses e holandeses fizeram várias visitas registradas à foz do Amazonas. Eles, também, ganham concessão do rei da Inglaterra, James I. O mais importante, o notório sir Walter Raleigh, estava convencido que ali era o Eldorado, e divulgou este mito. Até o Duque de Buckingham foi dono da margem esquerda do Amazonas e de sua costa atlântica. Fizeram fortes, Cocodivae, Torrego, Cumaú. Os holandeses fixam no Xingu as feitorias de Orange, Nassau, Mondiutuba. Todos eles, depois da derrota dos franceses, foram expulsos da região. Com muita luta: os portugueses tiveram que tomar fortes, destruir feitorias, lutar em patachos e naus. Mas a idéia francesa não morrera: Richelieu criou, em 1633, uma empresa, Companhia do Cabo Norte, para explorar as terras do Amazonas até o Orinoco.

Em 1637 começa a colonização européia do Amapá com a sua concessão, como Capitania do Cabo Norte, por Felipe IV de Espanha e III de Portugal, a Bento Maciel Parente, governador do Maranhão e Grão-Pará. As terras são delimitadas do Oiapoque ao Paru, passando pelo Jari. Como desde 1580 estavam unidos os reinos de Portugal e Espanha, e portanto não havia a questão do limite entre suas terras na América, não se examinou se esse limite estava aquém ou além da linha de Tordesilhas. Bento Maciel Parente logo começa a fazer a ocupação efetiva de sua capitania.
Pedro Teixeira, alertado pela viagem que fazem os franciscanos Domingos de Brieva e André de Toledo, do Napo até Belém, em 1639, sobe o Amazonas e vai a Quito, com 47 canoas, setenta soldados, 2 mil índios. Fixa, no Napo, a localidade de Franciscana, marco entre os dois reinos. Em sua viagem de volta, nesta exploração mais cuidada do Amazonas, veio seguindo pela margem esquerda, que os jesuítas Alonso de Rojas e Christoval de Acuña, enviados desconfiadamente em sua companhia, ao narrarem a viagem, chamam de Banda do Norte. Acuña afirma, descrevendo as inumeráveis riquezas: “[...] outras muitas coisas que cada dia a necessidade e a ambição virão trazendo à luz”.

É a época em que os fortes se sucedem no braço norte, primeiro com a consolidação de Gurupá, logo com o de Cumaú, que, deslocado da ilha de Santana para a margem norte, daria origem a Macapá. Época também da penetração dos religiosos jesuítas e franciscanos, fixando os índios nas aldeias das missões. Os primeiros tempos foram difíceis. O jesuítas Luís Figueira e seus companheiros morrem na ilha dos Joanes, a atual Marajó. O padre Antonio Vieira, ao chegar em 1651, encontra o problema da escravidão dos indígenas e acaba sendo expulso, em 1661.

As ações esporádicas se tornam ações sistemáticas. Em 1643 os holandeses conquistam São Luís, atacam Belém, mas não conseguem na Amazônia o pé firme que haviam posto em Pernambuco.
A partir do final do século XVII os franceses, finalmente instalados em Caiena, passam a tentar fixar seu domínio na margem esquerda do Amazonas. O marquês de Ferroles desce pessoalmente duas vezes a estas terras; da primeira vez até ao Araguari, onde encontra um forte português que faz com que torne caminho; uns poucos anos depois desce com mais armas e toma Cumaú: na ilha de Santana permanece por menos de um mês, logo expulso pelos soldados lusitanos.
O começo do século XVIII é a época da solução diplomática. Tenta-se uma solução de submissão de Portugal. Mas em 1713 é firmado em Utrecht, em meio às grandes negociações entre as potências européias, um tratado que fixa a fronteira entre as terras de França e Portugal, na América, no rio Yapoco ou Vicente Pinzón. Por ele, a França — Sua Majestade Cristianíssima — abre mão expressamente de “todo e qualquer direito e pretensão que pode ou poderá ter sobre a propriedade das terras chamadas do cabo do Norte, e situadas entre o rio das Amazonas e o de Japoc, ou Vicente Pinzón”. Por causa desta dupla alusão, duraria quase duzentos anos a discussão sobre se Oiapoque e Vicente Pinzón eram o mesmo rio e qual rio eram, isto é, onde era nossa fronteira.

Desde Gomes Freire de Andrade os governadores tinham procurado solidificar as fortificações e defesas da região. No começo do governo (em Portugal) do marquês de Pombal, o bispo do Pará, frei Miguel de Bulhões, desmascarou um entendimento entre moradores de Belém e Caiena, isto é, a França.
Pombal, agindo com a clarividência e a determinação que o tornaram um dos grandes nomes do Iluminismo, com a ajuda de seu meio-irmão, o governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, elaborou um projeto estratégico de ocupação da Amazônia e de afirmação de fronteiras. A partir de 1755 fez penetrar o rio Negro, o rio Madeira, num processo sistemático de interiorização que alcançou o planalto central. Na foz do Amazonas, fez construir o forte de Macapá e transformou a povoação nascente em vila, quando corria o ano de 1758. Aí fixou as famílias açorianas que formaram a primeira geração de imigrantes da Amazônia.
No findar do século XVIII a ameaça francesa se faz cada vez mais próxima, no terreno americano ou nas mesas européias. Várias iniciativas são tomadas pelos dirigentes da Guiana no sentindo de fixar um marco de fronteira: em 1776, um posto no Maiacari (que chamam de Vincent Pinçon); aí implantam uma missão franciscana, logo depois tranferida para a margem do Cunani; em 1781 estabeleceram o forte de Vincent Pinçon no Araguari; em 1783, no Macari. D. Francisco de Sousa Coutinho, em 1791, mandou reocupar a área, já abandonada.
Conquistador da Europa Continental, Napoleão fez constar, nos vários tratados que impôs a Portugal — Badajós, Madri, Amiens, Fontainebleau —, que a Guiana vinha até o Amazonas. Mas ao afugentar a família real portuguesa de Lisboa deu origem a uma reação militar que resultou na determinação de D. João de mandar ocupar Caiena. A 1.º de maio de 1808, D. João denunciou formalmente aqueles tratados. Em dezembro nossa esquadra atingiu o Oiapoque, cujo Fort Saint Louis estava coberto por mato. A 6 de janeiro de 1809 foi feito o desembarque na ilha de Caiena.

O futuro marquês de Queluz, Maciel da Costa, governou a antiga colônia francesa por sete anos e recebeu, ao entregá-la de volta, feita a paz entre os dois países e anulados os tratados impostos pelo imperador francês, as lágrimas de saudade da população.

Resolução do Congresso de Viena, em 1815, mandou devolver a Guiana até o Oiapoque, o que foi confirmado pelo Tratado de Paris, de 1817. Mas o documento determina que se “procederá imediatamente das duas partes à nomeação e envio de comissários para fixar definitivamente os limites das Guianas Francesa e Portuguesa, conforme ao sentido exato do artigo VIII do Tratado de Utrecht.” Permanece um estado de dúvida sobre a fronteira durante os primeiros anos do Império brasileiro. O governo de Louis Philipe adota uma política expansionista e sustenta que a fronteira é no Araguari. O Brasil acaba por admitir uma situação de contestação do território entre o Oiapoque e o Araguari, e a acordar com a França uma neutralidade em que nenhum dos dois países deve intervir, a não ser como polícia e justiça de seus respectivos cidadãos.

No final do século XIX acontecem a corrida do ouro e o episódio das repúblicas do Cunani. Houve primeiro uma inteligente e sábia ação diplomática e política, para criar uma região independente, sob a proteção da França. Tentava-se desvincular o sentimento brasileiro da questão do contestado. O antigo sonho do Eldorado persistira na região. Um homem que tivera experiência em Ouro Preto, Paulino, encontra o primeiro ponto explorável comercialmente, no alto Aprouague. Para os habitantes da região, era La couleur. Motivo para tudo. A pequena cidade do Cunani foi ressuscitada.

Em 5 de janeiro de 1894, dois brasileiros, Germano Ribeiro Pinheiro e Firmino, explorando o alto Calçoene, acharam ouro. Mais ou menos na mesma época a mesma descoberta foi feita por Clément Tomba ou Tamba, um africano, provavelmente um dos muitos trabalhadores africanos livres migrados entre 1848 e 1865. A zona aurífera, excepcionalmente rica, era pequena: 8 km de comprimento por 3 de largura.
Esse ouro era quase todo exportado por Caiena. E era contado como produção da Guiana. Esta, que vinha se mantendo em torno de 1.500 kg anuais havia mais de vinte anos, pulou em 1894 para cinco toneladas. Com o ouro, toda a riqueza ficava com a Guiana e sobretudo com seus comerciantes. A população francesa explodiu. Os franceses ocuparam o Calçoene.

A situação de atrito, de faroeste, se agravava. O capitão de Calçoene era Eugéne Voissien. Este resolveu barrar o acesso dos brasileiros às minas. A população do Contestado, embora tremendamente aumentada pela chegada de franceses e créoles de Cayenne, ainda era majoritariamente brasileira. Em Cunani viviam 286 pessoas, das quais só duas não eram brasileiras: uma era um português, outra um natural de Caiena. No Cassiporé viviam 120 brasileiros; em Uaça, viviam oitenta; no Curipi, setenta; em Arucauá, sessenta índios. Só em Amapá a população era maior: em 1899 lá viviam seiscentas pessoas, todas brasileiras. Os franceses se concentravam no Calçoene.

Politicamente, o fio revelador está na figura de Trajano. O preto Trajano na realidade era o capitão Trajano Benitez, comerciante influente — tinha a única casa assoalhada de Cunani —, protegido da França e o criador da République du Counani. O documento fundador data de 23 de outubro de 1886: “Eu, Trajano, capitão-chefe do rio Cunani, chefe da Capitania da Guiana Independente, em nome e delegado pelos principais negociantes e pela maioria dos habitantes, declaro o que se segue:
1) Organizar no nosso país um governo que será República e reconhecido depois pelas duas potências, a França e o Brasil;

2) O governo em questão, já tendo sido declarado e proclamado em mais de dez reuniões públicas, às quais assistiu o sr. Guigues, explorador. Segue-se que queremos:

a) nos reger pelas leis francesas, quer dizer que adotamos o código francês como legislação de nosso país;
b) que a língua francesa seja a língua governamental;
c) …nosso presidente, o sr. Jules Gros…Nossa república tendo sido declarada… pedimos a proteção dos Estados vizinhos.

Viva a França!”
Fazia-se o inverso do que fará Galvez no Acre. No dia 10 de dezembro de 1894 os brasileiros passaram à ofensiva na região do Cunani. Reuniram-se em Amapá os homens de maior prestígio, Francisco Xavier da Veiga Cabral, dito o Cabralzinho, Desidério Antônio Coelho, Manoel Gonçalves Tocantins. Desidério foi aclamado chefe do movimento. Convocou-se uma assembléia-geral do Cunani para o dia 26 de dezembro. Lavrou-se ata: “Aos vinte e seis dias do mês de dezembro do ano de mil oitocentos e noventa e quatro pelas sete horas da nuite [sic] na sala da Capitania do Amapá, achando-se reunidos grande número de habitantes e muitas famílias, o Sr. Desidério Antônio Coelho, que se achava no governo deste distrito, abriu a sessão e agradecendo a nomeação do Capm. do lugar pediu a sua demissão; foi então por ele mesmo lembrado da criação de um novo Governo conforme o programa incluso a do Triunvirato e seus suplentes sendo eleitos por unanimidade para Presidente o reverendo Cônego Maltez, Francisco X. da Veiga Cabral e Desidério Antônio Coelho. Suplentes: os srs. Raimundo Antônio Gomes, João Lopes Pereira, Manoel Joaquim Ferreira. Foi então nomeada uma Comissão para comunicar esta decisão ao Revmo. cônego Maltez, foi saudada por todos os presentes. Aceito o cargo, depois dos presentes terem prometido o seu apoio para que pudesse Governar [sic] com segurança. O ex-Capitão Eugenio Voizen [sic], declarou publicamente aceitar a nova forma de Governo, tendo sido nesta ocasião nomeado Cap. Honorário do Exército Amapaense.”

Neste momento ressurge Trajano Benitez. Assume uma atitude de contestação. Hasteia a bandeira francesa. Provoca. É preso por Cabral na pequena cidade de Cunani e levado para Amapá. No dia 9 de maio, em reação natural de defesa dos interesses dos franceses e também do sentimento patriótico ainda tão exacerbado naqueles dias, a população de Caiena foi às ruas. O governador Charvein teve uma reação desproporcional, pretendendo criar, para a França, uma política de fato consumado e resolveu “enviar sem nenhuma demora o aviso Bengali ao Amapá a fim de libertar o nosso representante, e prender, se possível, os autores de seu rapto”.

A decisão significava uma intervenção militar francesa em território brasileiro. Não era a primeira vez, mas — fora as tentativas de De Ferroles, feitas antes do acordo de fronteiras — até então elas haviam sido lançadas sobre o espaço vazio. Agora elas se projetavam sobre uma região em que a população local tentava suprir a falta de governo, resultado justamente da insistência francesa em manter uma dúvida sobre a fronteira, criando um potencial para sua expansão. A missão francesa termina com o massacre de 38 civis, entre eles mulheres e crianças, para usar os números franceses.

A jogada política transformara-se em tragédia, e o problema mudara de cenário. É necessário resolver definitivamente a pendência entre os dois países. Na cidade do Amapá mesmo, numa demonstração contundente da mudança, prevalecia o anticlímax do conflito armado.
Em princípio de 1896, Cabralzinho parte para um circuito de defesa da posição brasileira na batalha diplomática. Começa levando ao presidente da República, Prudente de Morais, longo relatório sobre os acontecimentos. A viagem é um sucesso. A cada porto, ao longo da costa, as manifestações de solidariedade e entusiasmo explodem.

O barão do Rio Branco assume a defesa do Brasil diante do árbitro escolhido para solucionar o problema, o governo da Confederação Helvética, a Suíça. Apresenta duas memórias avassaladoras, demonstrando a longa e continuada posse e a identidade do Japoc ou Vicente Pinzón com o Oiapoque. Sobretudo nesta última demonstração se apoiava largamente em trabalho de Joaquim Caetano da Silva, que desde 1850 se dedicou a estudar a questão do Oiapoque e da fronteira com a Guiana Francesa, L’Oyapoc et l’Amazone. Mas Rio Branco cobriu todas as lacunas, com o apoio de uma plêiade de documentos históricos e um extraordinário atlas.

A sentença suíça resolvia, de uma vez por todas, a questão do contestado entre a França e o Brasil. Mais uma vez o gênio de Rio Branco afirmara, pacificamente, uma imensa porção do território brasileiro. Nos anos seguintes a fantasia de uma república independente de aventureiros franceses se esfacelaria naturalmente, enquanto a ocupação lenta e pacífica do Amapá se consolidava. Mas, sobretudo, evitava-se a pretensão francesa de chegar à boca do Amazonas, tornando o rio internacional, e garantia-se o nosso controle sobre sua navegação.
O caso do Acre se afastou dos outros problemas de fronteira do Brasil. Ao assumir o Ministério das Relações Exteriores no governo Rodrigues Alves, o famoso gabinete da Rua Larga, o barão do Rio Branco encontrava o desafio de, ao invés de defender direitos históricos, ameaçados por interpretações de tratados, por uma ação sobre o nosso território vinda de nossos vizinhos, defender interesses brasileiros sobre um território que não era nosso.

O acesso ao rio Amazonas, como uma área de navegação internacional, despertava a cobiça estrangeira sobre os nossos vastos territórios. Com a descoberta da borracha, o problema se tornara muito mais agudo, e o sonho do Acre brasileiro começara a se definir.

Tratava-se de assegurar os direitos sobre um produto essencial, em crescente demanda pelos mercados americanos e europeus. Por volta de 1850 a navegação do Amazonas se fazia somente com barcos à vela, quando os portos brasileiros, inclusive o de Belém, eram dominados pelos vapores. Só em 1854 o imperador autorizou Mauá a criar a companhia de navegação a vapor. O nosso ministro em Washington, Sérgio Teixeira Macedo, avisava: “A pretensão do governo americano de fazer explorar por sua conta, e por seus engenheiros e naturalistas, o rio Amazonas, suas margens e seus tributários, envolve como conseqüência necessária a pretensão de obter a livre navegação deles para a sua bandeira”.

Havia, é claro, base na tese do direito de navegação dos países a montante do rio, Equador, Peru e Bolívia. Mas esta reivindicação era baseada em fatos artificiais, já que as regiões amazônicas dos três países eram completamente selvagens, sem qualquer exploração relevante. E, como assinalava o Visconde de Uruguai, em suas instruções ao Barão de Penedo, enviado ao Peru e à Bolívia, “os rios e suas margens são do domínio da nação em cujo território se acham”. E acrescentava, constatando que o fato era um pretexto para a internacionalização da navegação, ou seja, para o que faria “desaparecer a nossa nacionalidade, a nossa língua, e a nossa raça seria substituída”.

O quadro que se sucedeu foi, no entanto, a da ocupação do território boliviano por brasileiros, sobretudo nordestinos, sobretudo cearenses. Foram estes que, sob o comando de homens como João Gabriel de Carvalho e Melo, penetraram no grande vazio — as regiões altas de Purus e Juruá eram quase desconhecidas — estabelecido pelos Tratados de Madri e Santo Ildefonso: “[…] por uma linha de leste a oeste em tal altura que fique repartindo por igual aquelas terras desconhecidas […]”.

Aconteceu então o quadro que Euclides da Cunha observou na síntese definitiva: “Em menos de trinta anos, o Estado, que era uma vaga expressão geográfica, um deserto empantanado, a estirar-se, sem limites, para sudoeste, definiu-se de chofre, avantajando-se aos primeiros pontos de nosso desenvolvimento econômico”.
Em 1898, o ministro d. José Paravicini aplicou, durante alguns meses, o que chamavam de artigo 44, em menção ao rifle usado para instaurar a soberania boliviana. Foi o motivo para começar, no Amazonas mas também no Rio de Janeiro, uma verdadeira comoção popular. Pouco depois um grupo de brasileiros dá uma demonstração de que a força não é o caminho e expulsa o cônsul boliviano em Puerto Alonso. No ano seguinte a viagem da canhoneira americana Wilmington até Iquitos, no Peru, acirra os ânimos. Um repórter do Comércio do Amazonas, Luís Galvez – que publicara um documento de negociações entre americanos e bolivianos, com grandes concessões em troca do apoio –, dá o próximo passo: proclama, a 14 de julho de 1899, a República do Acre.

A mensagem que mandam a Campos Sales é clara: “Brasileiros, na sua quase totalidade [Galvez era espanhol], os habitantes do Acre, o seu proceder lhes foi ditado pela condição triste queficaram, de perder a sua pátria primitiva. Entre o Brasil e a Bolívia não podiam vacilar e, já que não podiam ser brasileiros, resolveram não ser bolivianos”. Seguem-se os primeiros episódios militares.
Quando pareceu que o Acre ficaria, de certo modo, abandonado pelo Brasil, houve uma verdadeira comoção nacional, que não foi localizada somente no Acre ou no Amazonas, por aqueles que participavam das lutas, mas em todo o Brasil, que estava solidário com o Acre.

Mas a verdadeira reação boliviana não foi, na verdade, boliviana. Formou-se, na tradição do colonialismo fim de século, uma companhia de investimento, uma chartered company, o Bolivian Syndicate, uma corporação multinacional, a cooptação do território do Alto Amazonas pelo capitalismo internacional. Em Belém, o grande historiador português João Lúcio de Azevedo denuncia a tentativa imperialista americana. No Rio de Janeiro, o ministro americano informava que os Estados Unidos não poderiam ficar indiferentes aos interesses dos seus súditos. Movimentam-se os grandes diplomatas brasileiros nos centros das decisões: Assis Brasil, nos Estados Unidos, Joaquim Nabuco, em Londres, Rio Branco, em Berlim. Surge, em Xapuri, Plácido de Castro.

Lúcido, Plácido constata o problema em poucas linhas: “[...] [o Bolivian Syndicate] era uma completa espoliação feita aos acreanos. Veio-me à mente a idéia cruel de que a Pátria brasileira se ia desmembrar, pois, a meu ver, aquilo não era mais do que o caminho que os Estados Unidos abriam para futuros planos, forçando-nos, desde então, a lhes franquear à navegação os nossos rios, inclusive o Acre. Qualquer resistência por parte do Brasil ensejaria aos poderosos Estados Unidos o emprego de força e a nossa desgraça seria em breve consumada”. A Revolução Acreana é a resposta da população brasileira do Acre que desmonta a conspiração internacional.

No Rio de Janeiro, recém-chegado, Rio Branco traz o assunto para o terreno da negociação. A 3 de fevereiro de 1903 telegrafa à Bolívia: “[...] não podemos concordar em que ali penetrem tropas ou autoridades da Bolívia. Dos três litigantes, Bolívia, Peru e Brasil, é a este que melhor cabe a ocupação administrativa provisória desta parte do território contestado, atenta à nacionalidade de sua população”. O caminho que ele indicará ao presidente Rodrigues Alves e implementará é o da troca de territórios, seguida com uma compensação financeira pela diferença.

Era o que comunicava a 10 de novembro: “As principais cláusulas são as que Vossa Excelência conhece, mas algumas sofreram, a muito custo, modificações vantajosas para nós. […] A extensão territorial, que, pela retificação de fronteiras, passa à Bolívia, ficou muito reduzida. […] O total que daremos à Bolívia será, pois, de uns 3.100 ou 3.200 km2, ou, excluindo a água, uns 2.500 km2”. Recebia em troca, o Brasil, 191.000 km2, o território do atual Estado do Acre.
A tese de sua internacionalização não é nova nem vai desaparecer. Ela surge e ressurge e ganha contornos mais fortes ou mais fracos, tem várias roupagens e disfarces, diante da nossa capacidade de reagir. Se vacilarmos, se não tivermos a determinação de manter a Amazônia conservada e soberana, ela será submetida como o foram todas as terras ocupadas pela ação e força dos Impérios.

Testemunhei, como Presidente da República, o empenho de governos estrangeiros em fazer, de maneira aparentemente desinteressada, renascer a tese da responsabilidade internacional. Tive que responder diretamente a George Bush, o pai, e ao primeiro-ministro francês Rocard, que fizeram propostas que não eram claras quantos aos interesses do Brasil e da ecologia.
Já nos primeiros meses do meu governo, determinei estudos sobre as bacias do Solimões e do Rio Negro, dos quais nasceu o projeto Calha Norte, essencial ao Brasil, pois se destina a assegurar e garantir a soberania nacional, a integridade do nosso território e assistência efetiva às populações amazônicas em programas de previdência, saúde e assistência social.

Para o Brasil, a Amazônia foi uma parte do suporte físico da nacionalidade. Custou sangue, custou luta, tenacidade, heroísmo de nossos antepassados. É uma característica singular de nossa geografia. A Amazônia constituiu objeto de fascinação universal. Seus mistérios, sua vastidão, suas dimensões míticas têm exaltado imaginações em todo o mundo. E, também, não podemos negar, cobiça.
Falo com a experiência vivida e com documentos.
Em meados do século XIX, a firma de Mauá, primeira a colocar vapores no Amazonas, foi substituída pela Amazon Steam Company, incorporada pela firma Le Roy, Bayard, Co. Ela patrocinou o estudo de Barwington Brown e William Lidestone, em 1873, Fifteen thousand miles on the amazon and its tributaries. A tese dominante era da livre navegação internacional dos rios. Os rios tinham que ser patrimônio de todos. Reagimos.

Moveu-se uma grande campanha mundial sobre esse assunto, envolvendo várias entidades.
Matthew Fontaine Maury, superintendente dos serviços hidrográficos americanos, era um dos que comandavam a tese de internacionalização dos rios. Seu livro The Amazon river and atlantic slopes of America, editado em 1853, já lançava a idéia de que a “Amazônia não pode ser fechada para a humanidade, está aguardando raças fortes e decididas para a empresa de sua conquista científica e econômica”. O pretexto científico, que continua sendo usado, era usado como “batedoras de sociedades mercantis” (Afonso Arinos citando Penedo).
O que foi a viagem de Theodore Roosevelt em 1914, com Rondon? Em 1906 o presidente Rodrigues Alves chamara à atenção Joaquim Nabuco de que a doutrina Monroe, sob Roosevelt, podia assumir aspectos imprevistos e perigosos. Seus instintos guerreiros o haviam levado a participar pessoalmente da conquista de Cuba, como coronel dos Rough Riders. Recebera o prêmio Nobel da Paz, era um defensor da natureza. Mas defendia os animais de espingarda na mão, a paz com exércitos e marinha. Hoje temos que ter muito cuidado com a exploração de nossa biodiversidade, analisando a colaboração internacional nas pesquisas de maneira a proteger o patrimônio genético. Tivemos grandes amigos, como Emílio Goeldi, mas Henri Coudreau intitulara seu grande estudo sobre a região de Les français en Amazonie. O exemplar do Itamaraty está todo anotado por Rio Branco, algumas vezes com contestações a suas afirmativas. Ele faz muitas referências aos interesses franceses na Amazônia, apóia os movimentos autonomistas no Amazonas e no Pará, afirma que “os Estados Unidos, a Inglaterra, até mesmo a Alemanha fazem atualmente propaganda discreta em vista de um protetorado comercial na Amazônia”. O grande La Condamine, que tivera a licença que fora recusada a Humboldt e o apoio do governo português, afrancesou a descoberta da borracha e a localização da fronteira com a Guiana. Henry Alexander Wickman, o grande botânico inglês, enviou as sementes de seringueira que deram origem à produção na Ásia.

Sua atitude pode ser resumida pela de Richard Spruce, que dizia a Von Hagen: “Quantas vezes lamentei o fato de não ser a Inglaterra dona do magnífico vale do Amazonas em vez da Índia. Se aquele papalvo rei James II, em vez de meter Raleigh na prisão e depois cortar-lhe a cabeça, tivesse continuado a fornecer-lhe navios homens e dinheiro até ele formar um estabelecimento permanente num dos grandes rios da América, não tenho dúvida de que todo o continente americano estaria neste momento nas mãos da raça inglesa”.
Em 1826 um barco a vapor americano — simbolicamente chamado de Amazonas — chegou a Belém. A reação da cidade o impediu de subir o rio. Em 1851, William Herdon e Lardner Gibbon descem o Ucaiali até à foz, e sua viagem é comunicada ao Senado americano como da maior importância, pois a Amazônia poderia proporcionar “o bem-estar da humanidade”.

Nosso ministro em Washington, Sérgio Teixeira de Macedo, em documento de novembro de 1850, que está arquivado no museu de Petrópolis, diz: “A pretensão do governo americano de fazer explorar por sua conta, por seus engenheiros e naturalistas, o rio das Amazonas, suas margens e tributários, envolve como conseqüência necessária a pretensão de obter a livre navegação”. E pouco depois: “Não há para mim a menor dúvida de estar a atenção dos homens políticos desse país dirigida para qualquer empresa com o fim de se apoderarem do Amazonas. Dois anos depois, Carvalho Moreira, futuro Barão de Penedo, no mesmo cargo, relatava conversa com o secretário da Guerra dos Estados Unidos, que manifestava intenso interesse na exploração amazônica por capitais americanos”.
O Império terminaria abrindo o rio à navegação internacional em 1866, mas Rio Branco, em 1903, ainda advertia a legação americana no Rio de Janeiro de que “o Brasil sustentou sempre que, quando um rio atravessa o território de dois ou mais Estados, a liberdade de navegação ou de trânsito para o ribeirinho superior depende de prévio acordo com o ribeirinho inferior”.
Já no princípio do século XX o objetivo era outro. A Amazônia devia ser aberta às famosas chartered companies, o instrumento utilizado para a colonização da África e que depredou a natureza daquele continente.

Conspiração que não se limitava somente à chartered company de colonização do Acre. Devemos nos lembrar que, no século XIX, fora constituída uma empresa chamada Amazon River Corporation, que se destinava à exploração da Amazônia. E, quando os navios chegaram para entrar na Amazônia, os habitantes de Belém do Pará não deixaram que o navio penetrasse. Quando, hoje, se diz que nós brasileiros queremos devastar a Amazônia, o que nós brasileiros temos de responder é que fomos nós, brasileiros, que evitamos que essas companhias exploradoras devastassem a Amazônia, como o capitalismo internacional fez nas florestas da Ásia, nas florestas africanas e em todas as outras grandes florestas úmidas do mundo.
Outro documento importante que consta dos arquivos brasileiros é o ofício de 1902, do Barão do Rio Branco, em que comunica que o ministro do Exterior de um grande país europeu, o sr. Oswald Richtofen, dizia: “Seria conveniente que o Brasil não privasse o mundo das riquezas naturais da Amazônia”.
Outro documento, também do princípio do século XX, é do secretário de Estado americano, John Hay. Dizia: “Não vejo perigo, para a soberania das nações americanas, no fato de companhias industriais se instalarem para o desenvolvimento das terras que jazem incultas”.

Depois da guerra veio outro movimento. Desta vez para a Amazônia receber os excedentes populacionais da Ásia. Em seguida, a preocupação científica, chegando a Unesco a elaborar uma decisão internacional que, ao ser analisada pelo Congresso brasileiro, provocou o protesto de Artur Bernardes, então deputado federal. Não a aprovamos. Foi recusada pelo Congresso.
Documento recente, divulgado internacionalmente, afirma que a “Amazônia total, cuja maior área fica no Brasil, mas compreendendo também parte dos territórios venezuelano, colombiano e peruano, é considerada por nós um patrimônio da humanidade. A posse dessa imensa área ocupada pelos países mencionados – afirma o documento – é meramente circunstancial”.

O projeto dos Grandes Lagos Amazônicos, de Herman Khan e Robert Panero, do Hudson Institute, em 1967, pretendia fazer na Amazônia um processo semelhante ao do Panamá, criando uma série de sete lagos interligados até o Caribe, num pacote que tinha muito mais de sondagem que de especulação teórica sobre o futuro da humanidade. (Este mesmo Hudson Institute, em 2004, sustentou ter descoberto que o mundo não deve temer o efeito estufa.)
Ressurge, constantemente, o mesmo tema. As palavras não mudaram, são as mesmas: crime contra a humanidade.
A razão é que mudou, e a palavra a ser explorada, esta palavra que é tão simbólica e idealista: ecologia. E acusam-nos de incapazes de gerir nossos territórios, preservar a natureza, explorar sustentavelmente suas riquezas.

Fomos nós que preservamos a Amazônia. Ela está intacta graças à nossa resistência. Se tivéssemos aceito as companhias colonizadoras, internacionalizado os rios, aberto mão da nossa soberania, a Amazônia seria hoje um deserto, há cem anos explorada pelo mesmo espírito que acabou com as florestas de todo o mundo. Isto mostra nossa coerência histórica. No passado, evitamos que a Amazônia fosse destruída. No presente e no futuro, nós a preservaremos com o mesmo senso de responsabilidade.
Precisamos evitar as queimadas, a ocupação predatória, a destruição dos rios, da fauna e da flora, da cultura e das terras indígenas. Em suma: evitar que o desenvolvimento se faça contra a natureza. Não temos receio da cooperação internacional, necessária e bem-vinda. Queremos participação. Mas recusamos tutela política. Sem xenofobias.

Precisamos também acabar com o flagelo do narcotráfico e seus efeitos nocivos. É preciso desvendar a face oculta do narcotráfico e, agora, o uso de métodos químicos invasivos cujas conseqüências não podemos precisar. Estamos lutando em muitas frentes: contra o terror, contra a pobreza, contra a droga, contra o crime.

Agora mesmo, podemos comparar a nossa atitude em relação à ecologia com a dos nossos críticos, quando vemos os Estados Unidos se recusarem a assinar o Protocolo de Kioto.

O Brasil é o país do mundo que tem melhor legislação ambiental e o único a nível constitucional.
A cobiça internacional sobre a Amazônia vai aumentar cada vez mais. A pressão atual é das multinacionais madeireiras, visando transferir para os grandes paises as essências nobres existentes na região, que têm com carro-chefe o mogno. A biodiversidade é uma atração cada vez maior e, sob o disfarce da pesquisa científica, de todos os modos, estamos sob o saque diário desse patrimônio genético.

Mas há um recurso natural nobre que será o grande tema do futuro: a água. A Amazônia detém 12% da água doce do planeta. Será outra motivação para a tese da internacionalização.
Outro perigo é o esforço para transformar a questão indígena em pretexto para colocarem um enclave na Amazônia.
O Pentágono já listou os conflitos localizados do futuro da humanidade. Um deles é “nações indígenas da Amazônia”. Esse problema deve ser monitorado.

Outras fontes de cobiça referem-se aos minerais na Amazônia. Já existem em exploração gigantescas jazidas de ferro, bauxita, gás, manganês, ouro e outros minerais nobres. A floresta protege o mistério dessas imensas riquezas que o mundo, cada vez mais esgotado de minerais, vê como imenso tesouro a revelar-se.

O Calha Norte foi feito para ocupar nossas fronteiras, assegurar a presença de nossa soberania e assistir às populações amazônicas. O projeto, hoje reconhecido como instrumento de defesa nacional, precisa ser revitalizado, ampliado e implantado para proteger nossas fronteiras e evitar que elas sejam caminhos de violação e penetração em nosso território. Rio Branco já alertava sobre a necessidade de vigiarmos nossas fronteiras, pois elas foram responsáveis pelos maiores conflitos da humanidade.

A retórica da Amazônia, pulmão do mundo, patrimônio da humanidade e tesouro da vida na face da Terra, não visa senão arrancá-la do Brasil.

Sempre, desde os primórdios de nossa história, a Amazônia foi cobiçada. Soubemos fazê-la nossa, brasileira e de brasileiros.
Soubemos preservá-la. Se o mundo tem sua vista colocada sobre a Amazônia é porque nós a conservamos até hoje, quando as grandes florestas úmidas do mundo foram destruídas pela ganância do capitalismo predatório.

Repito o que disse em 1985, na minha visita à região: “Quem tem a Amazônia, não tem medo do futuro”.

 José Sarney

* Publicado originalmente em Lessa, Carlos (org) et al. Enciclopédia de Brasilidade, auto-estima em verde e amarelo. Rio de Janeiro, BNDES e Casa da Palavra, 2005.

Fonte: Raul Mendes Silva

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"Índios da etnia Wanano (Kotiria)"



"Somos conhecideos entre as diversas
etinias da região como hábeis cantores e
dançarinos, e, por conta disso, possuimos
ativos mestres de cerimônia (bagaroa).
Além disso, somos especialistas na
fabricação de carajuru, pó corante feito
de folhas de cipó, utilizado na confecção
de artesanatos de rituais e para pintura
corporal nas cerimônias."
"Vivemos no Rio Uaupés, Maior afluente
do Rio Negro, e estamos distribuídos
por comunidades na Colômbia,
localizadas em um resguardo indígena,
e comunidades na terra indígena
Alto Rio Negro, no Brasil. Esta região
também é ocupada por outras etnias,
como os Tariano, Tukano, Desano e
Kubeo. As comunidades do médio e alto
Rio Waupés fazem parte do Distrito de
Lauarete, Município de Sã Gabriel da
Cachoeira, no estado do Amazonas. O rio
e a floresta são muito omportantes para
nossa sobrevivência e são preservados."
A língua  principal dos Wanano é Piratapuyo, da Família lingüístoca  Tucano Oriental, Que engloba pelo menos 17 línguas, dentre as quais o Tukano propriamente dito é a que possui maior número de falantes. Ela é usada não só pelos Tukano, mas também pelos outros grupos do Uaupés brasileiro e em seus afluentes Tiquié e Papuri. Desse modo, o Tukano passou a ser empregado como língua franca, permitindo a comunicação entre povos com línguas paternas bem diferenciadas e, em muitos casos, não compreensíveis entre si.
"O povo é conhecido Oficialmente como Wanano, que foi dado pelos .issionários. O nome qriginal é Kotiria, que quer dizer Povo da Água."
Na cultura,a música e a dança eram originalmente executadas na maloca, mas com influência dos missionários. as malocas foram destruidas e os povos da região passaram a viver em casas familiares.
A dança fora sa maloca, nas escolas ou centros comunitários, sofreu uma mudança de signiicado e de possobilidades de execução.
O espaço ritual representa o universo de origem dos povos do Rio Negro.
A maloca e cada umas das suas partes (esteios. postes, etc) são sagrdas na disposição original.
Representam aspectos da origem e vitalidade da sociedade, do ambiente e do mundo.
A terra é boa para plantação de mandioca, abacaxi, banana, cana, cará, batata, macaxeira, popunha, copuaçu, açai, ingá, umari, coco, biriba, laranja, jambo eburiti.
A alimentação inclui produtos da mata como bacaba, patava, açai da mata, ocuqui, ocuquirana, japurá, cunuri, vacu, ingá-mirim e inajá.
Tambem a mata oferece cipó e caraná para a construão das casas.


Indio Tukano no Rio Uaupés.
Foto: Acervo Museu do ìndio, 1928.
A história de contato dos povos do Uaupés com os não indígenas é muita antiga, bem anterior ao grande auge da borracha na virada do século XX, remetendo às incursões maciças dos portugueses em busca de escravos na primeira metade do século XVIII. Embora o impacto desses raptores e o contato traumático e duradouro com os seringalistas, esses comerciantes estavam mais interessados nos corpos dos índios do que nas suas almas; em termos religiosos, e talvez em termos sociais também, foram os missionários que provocaram as maiores transformações.
A penetração efetiva dos missionários começou ao final do século XIX, com a chegada dos Franciscanos. Estes, e os Salesianos que os seguiram, viram a cultura dos povos do Uaupés através das lentes de suas próprias categorias religiosas: as malocas dos índios eram consideradas "antros licenciosos e promíscuos", as suas festas de dança ocasiões de "indecência e embriaguez", os pajés eram "charlatões" que aliciavam o povo, e o culto de Yurupari nada mais era do que o "culto ao Diabo" em pessoa. Sem conhecer e sem a mínima intenção de saber o quê essas coisas realmente significavam, os missionários começaram a destruir uma civilização em nome de outra, queimando as malocas dos índios, destruindo os seus ornamentos de penas, quebrando seus recipientes de caxiri, perseguindo os pajés e expondo os Yurupari às mulheres e crianças reunidas na igreja.
Enquanto os padres atacavam os fundamentos da cultura indígena, transformaram as suas sociedades, encurralando as pessoas em vilas com casas rigidamente ordenadas, uma para cada família, e removendo à força seus filhos para serem educados nas escolas ou internatos. Sob o regime estrito dos internatos, as crianças foram ensinadas a rejeitar os valores e os modos de vida dos seus pais, incentivadas a casar-se dentro de seus próprios grupos, e proibidas de falar as línguas que lhes conferiam identidades múltiplas e interligadas. Para os missionários, somente uma identidade importava, a identidade indígena genérica, que impedia o progresso da "civilização".
Como reação inicial contra a exploração pelos comerciantes, as pressões dos missionários e as epidemias que dizimaram a população indígena, irrompeu uma série de movimentos milenaristas na região do Uaupés durante a segunda metade do século XIX. Vestindo-se de padres e identificando-se com Cristo e os santos, os pajés-profetas conduziram o povo na "Dança da Cruz", uma fusão dos rituais de caxiri e dabukuri tradicionais com elementos do catolicismo, que prometiam a libertação da opressão dos brancos e o alívio dos "pecados" que acreditavam ser a causa das epidemias.
Se os missionários foram rechaçados por seus ataques contra a cultura indígena, também foram bem recebidos como fonte de bens manufaturados, como defensores dos índios contra os piores abusos dos seringalistas e como provedores da educação que as crianças indígenas precisariam para se sair bem nas novas circunstâncias. Dos anos 1920 em diante, os Salesianos estabeleceram uma cadeia de missões pela região no lado brasileiro da fronteira, alcançando o alto Tiquié no começo dos anos 40 e destruindo a última maloca nos anos 60. Hoje, a despeito do número crescente de evangélicos, a maioria dos índios do Uaupés se considera católico. Enquanto aumenta cada vez mais o número de pessoas que estão deixando suas aldeias para ir a São Gabriel em busca de educação e emprego, a vida nas malocas e a rica diversidade ritual que a acompanhava persiste agora somente na memória dos mais velhos.
Nos povoados, um centro comunitário substituiu a maloca como foco de atividades coletivas. O centro serve ao mesmo tempo para as orações matutinas conduzidas por um Capitão e catequista, e para as refeições comunitárias, caxiris e dabukuris que marcam eventos importantes nas vidas dos aldeões: expedições de pesca, trabalho coletivo em projetos comunitários, os dias de santo do calendário católico, formaturas escolares, eventos esportivos, reuniões políticas etc. Transformações das antigas festas, esses caxiris e dabukuris de hoje em dia ainda incluem danças e bebidas - mas as danças não são mais acompanhadas pela música nativa e as flautas de pã, mas sim pelo forró e, ao invés da relativa moderação do passado, a cachaça é livremente consumida e seu freqüentemente consumo leva a discussões e brigas. Com níveis crescentes de alcoolismo, a embriaguez que os missionários imaginavam ver nas festas tradicionais hoje tem se tornado uma realidade cruel da civilização que os missionários trouxeram consigo.
No lado colombiano, sob o regime dos Monfortianos, o policiamento e a inserção dos missionários foram muito parecidos às dos Salesianos mas, no final dos anos 50, os Monfortianos foram substituídos pelos mais liberais Javerianos. Estes eram identificados com a nova Teologia da Libertação, que pregava a tolerância com a cultura indígena e acomodação com seus valores e crenças; isto, junto com o isolamento da região, explica porque os habitantes do Pira-Paraná ainda conseguem conservar boa parte da sua religião tradicional e do seu modo de vida. No lado brasileiro, a mudança foi mais lenta, mas, depois que a os Salesianos foram denunciados no Tribunal Russell em 1980 pelo crime de etnocídio, eles finalmente começaram a adotar uma linha mais liberal e progressista.

A religião

Entre os Tukano, a religião não é concebida como um domínio discreto, mas sim como uma dimensão de todo conhecimento, experiência e prática. Isso também se explica porque a vida numa paisagem impregnada de poderes ancestrais e onde a vida cotidiana tem uma dimensão extraordinária e metafísica é potencialmente perigosa. Para sobreviver e prosperar, bem como assegurar o bem-estar de si e de sua família, todos os adultos precisam de alguma habilidade para manejar e controlar as forças de criação e destruição que os cercam. Os conhecimentos técnicos e metafísicos não possuem fronteiras precisas. Os homens adultos devem conhecer tanto os recursos naturais do território quanto suas propriedades espirituais, combinando afazeres rotineiros com procedimentos rituais, com competência tanto para caçar e pescar quanto para fazer encantações para que a carne e o peixe possam ser comidos com segurança. De modo semelhante, as mulheres, "mães da alimentação" cujos tubérculos de mandioca são "filhos", devem controlar a esfera material e espiritual de produção e reprodução de suas roças, cozinhas e corpos, como uma totalidade integrada.
Na Amazônia, freqüentemente se referem aos especialistas rituais com poderes especiais e acesso a conhecimentos esotéricos como "xamãs", rótulo que pode tanto confundir como revelar. Como indicado, para agir com êxito todos os homens adultos devem ser em alguma medida xamãs. Aqueles que são reconhecidos publicamente como tal têm maior conhecimento ritual e uma habilidade especial para "ler" o que está por trás das narrativas sagradas, optando por desenvolver habilidades e conhecimento em favor dos outros, sendo reconhecidos como especialistas. Assim, os "xamãs" são aqueles que se destacam dos demais - mas sempre há outros esperando nos bastidores.
Um segundo aspecto está relacionado ao gênero. Com raras exceções, os especialistas rituais são homens - mas a capacidade das mulheres de menstruar e gerar filhos é considerada como o equivalente feminino ao poder dos homens sobre os ornamentos de penas e os Yurupari. Assim, é possível dizer que se os homens adquiram as suas habilidades xamânicas através da cultura, as mulheres já são "xamãs" por natureza. Não é de se admirar então que, na mitologia tukano, o Povo do Universo, os heróis ancestrais que abrem o caminho para a criação da humanidade, sejam gerados por uma divindade feminina que os Barasana chamam de Romi Kumu ou "Mulher Xamã"; conhecida como "A Velha da Terra" (Ye'pa Büküo, Yeba Büro) em Tukano e Desana.
Finalmente, o rótulo "xamã" nubla uma distinção importante entre dois especialistas rituais, os yai e os kumu. Os yai correspondem ao xamã típico da Amazônia ou o pajé. Suas principais tarefas envolvem lidar com as pessoas e o mundo dos animais e da floresta. Ele desempenha um papel importante na caça por soltar os espíritos dos animais das suas casas nas serras, atividade potencialmente perigosa, que pode demandar compensações no mundo humano como a conversão da vida em morte. O pajé é um especialista na cura de moléstias causadas pela feitiçaria de criaturas vingativas e seres humanos ciumentos, doenças que tipicamente se manifestam como espinhos, cabelo, e outros objetos alojados no corpo. A cura se dá jogando água sobre o corpo do paciente ou soprando-lhe fumaça de tabaco e depois manipulando-o com as mãos, mas sempre envolvendo a sucção de objetos ou substâncias do corpo do paciente.
Yai significa "jaguar", termo que dá alguma indicação do status do pajé na sociedade tukano. O Jaguar é um animal poderoso e potencialmente perigoso, assim como aqueles que têm poder e conhecimento para agir contra a feitiçaria podem também praticá-la. Um pajé é considerado "bom" ou "mal" dependendo se ele é um parente ou vizinho de confiança. O termo yai também tem conotação de selvageria e descontrole, que alude à posição marginal de muitos pajés e ao caráter individual e idiossincrático de seus poderes, freqüentemente associados ao uso de alucinógenos.

Embora tanto o yai como o kumu sejam especialistas, o kumu é mais um sábio e sacerdote do que propriamente um xamã. Seus poderes e autoridade são baseados no conhecimento exaustivo da mitologia e dos procedimentos rituais, resultado de anos de treinamento e prática. Conseqüentemente, aqueles que são reconhecidos como kumu geralmente são homens mais velhos, cujos pais ou tios paternos muitas vezes tinham o mesmo status.
Como homem experiente e sábio, o kumu comumente é também um líder político de sua comunidade e com autoridade considerável sobre uma área mais ampla. Comparados ao yai, figura por vezes moralmente ambígua, o kumu goza de um status mais alto e um maior grau de confiança, fundamentada em seu papel ritual proeminente.
O kumu desempenha um papel importante na prevenção de doenças e infortúnio. Ele é um especialista na arte de soprar encantações sobre a carne de peixe e animais para converter a sua substância em uma forma similar ao vegetal. Tem papel proeminente nos ritos de passagem, realiza as principais cerimônias por ocasião do nascimento, iniciação e morte, transições que asseguram a socialização do indivíduo e a passagem das gerações, assim como ordena as relações entre os ancestrais e seus descendentes vivos. É o kumu que nomeia os bebês recém-nascidos e é ele que conduz os ritos de iniciação, públicos e coletivos, para os jovens e os ritos mais individuais e privados realizados quando moças atingem a idade de puberdade. Tais transições envolvem um contato necessário e potencialmente benéfico entre os vivos, os espíritos e os mortos. Esse contato pode ser perigoso e é o kumu que assume a responsabilidade de proteger as pessoas. Para aqueles que gozaram da proteção de um kumu durante o seu nascimento ou iniciação, ele é seu guu ou "tartaruga", em alusão à carapaça dura e protetora desse animal.
A outra importante função do kumu é presidir as festas de dança, as festas de caxiri e intercâmbios cerimoniais, e de conduzir e supervisionar os rituais em que se tocam os instrumentos de Yurupari, rituais que envolvem um contato direto com os ancestrais mortos. Aqueles que participam desses rituais colocam as suas vidas nas mãos do kumu e é somente os mais sabidos e respeitados que são encarregados desse papel. Do mesmo modo, patrocinar tais rituais significa reivindicar reconhecimento como kumu.
Como "gente" e parte integrante de um cosmo vivo, os seres humanos, os animais, as plantas e os peixes participam de um mesmo sistema, que é engajado e revitalizado durante os rituais de Yurupari. Esses rituais fomentam a reprodução das plantas e dos animais, asseguram o ordenamento normal das estações e a fertilidade contínua da natureza. Ao supervisionar e promover esses rituais, os kumus mais importantes chegam a incorporar os poderes e identidades de Yeba Hakü, o "Pai do Universo", de Romi Kumu, "Kumu Mulher" e de Yurupari, fonte e espírito da vida vegetal. Como mestres do ritual, eles mesmos se tornam criadores.

Um componente crucial das idéias religiosas tukano são as relações entre os seres humanos, os animais e a floresta.




Masa (em barasana), a palavra para "gente", é um conceito relativo. Pode se referir a um grupo em contraposição a outro, a todos os tukano em contraste a seus vizinhos, a índios versus brancos, a seres humanos versus animais e, finalmente, a coisas vivas, inclusive árvores, versus objetos inanimados. Em discursos míticos e xamânicos, os animais são gente e habitam mundos aparentemente semelhantes ao mundo dos seres humanos: vivem em comunidades organizadas em malocas, plantam roças, caçam e pescam, bebem caxiri, usam ornamentos, participam de festas inter-comunitárias e tocam seus próprios Yurupari (flautas sagradas que representam os primeiros ancestrais).

Todas as criaturas que podem ver e ouvir, que se comunicam com os do seu grupo e que agem intencionalmente são "gente" - mas gente de espécies diferentes. São diferentes porque têm corpos, costumes e comportamentos diferentes e vêem as coisas de perspectivas corporais distintas. Assim como as estrelas vêem os humanos como espíritos mortos, os animais vêem themselves as humans and see os humanos como animais. Aos olhos do urubu, quando os humanos vão pescar, eles pescam cadáveres apodrecendo e fisgam tapuru (conhecido como "bicho de pau"); aos olhos do jaguar, os humanos são predadores perigosos que bebem sangue como se fosse caxiri; para os peixes, para quem a água é seu "ar", é impressionante que os humanos não saibam respirar "debaixo da água". Os humanos, por sua vez, logicamente vêem as coisas de outra perspectiva.

Se o denominador comum de todas essas "gentes" é a sua subjetividade e para elas, na condição de sujeitos, seu próprio modo de vida é aquele da cultura humana, as diferenças entre tais "gentes" repousam em seus diferentes corpos: em sua forma, cor, sons, hábitos corporais e dieta.

Essas diferenças estão culturalmente representadas em diferentes gêneros alimentícios de uso ritual, tais como coca, tabaco e a ayahuasca, bem como tintas corporais distintas, ornamentos e roupas, ou como diferentes armas e equipamento ritual. Os índios se referem a todos esses itens como küni-oka, "armas ou escudos", idéia que faz lembrar os uniformes de exército com seus brasões - ao mesmo tempo identidade, vestimenta e arma de defesa. Nessa lógica, as diferenças entre os grupos humanos são representadas como naturais e inerentes. Conceitualmente, os vários grupos tukano constituem tantas "espécies" diferentes quanto as múltiplas espécies animais são "povos" diferentes.

Na vida cotidiana, as pessoas enfatizam sua diferença dos animais, mas no mundo dos espíritos, ao qual se tem acesso pelos rituais, pelo xamanismo, pelos sonhos e pelas visões de ayahuasca, as perspectivas se fundem, as diferenças são abolidas, o passado é presente, e pessoas e animais voltam a ser um. Isto tem importantes repercussões práticas, pois, onde os animais são pessoas, caçá-los e ingerir sua carne é equivalente à guerra e canibalismo. Muitas doenças são assim diagnosticadas como a vingança dos animais que os humanos matam e comem. O risco advindo dos animais é proporcional a seu tamanho e habitat: as antas são mais perigosas do que os macacos, os animais terrestres são mais perigosos do que os peixes, e peixes grandes mais perigosos do que os pequenos.

O perigo também está relacionado ao contato com o domínio metafísico. Um nascimento neste mundo provoca ressentimento entre os espíritos-animais - para eles, representa uma morte. Os bebês humanos, recém-migrantes do mundo dos espíritos, não estão ainda firmemente ancorados a seus corpos e, portanto, precisam ser protegidos das antas ciumentas que ameaçam ingeri-los através de seus ânus - um nascimento ao avesso. Enquanto visitantes do mundo dos espíritos, as mulheres menstruadas e os homens que tomam parte nos rituais ganham temporariamente status de criança e devem restringir sua dieta, evitando alimentos perigosos. Para cozinhar o peixe ou a carne com segurança, um xamã deve primeiro soprar encantações para remover os seus "escudos de proteção" ou "armas" (tintas, peles, dentes, espinhos, escamas e outros atributos corporais identificados aos animais ou peixes) que podem comprometer a identidade especificamente humana do consumidor.

As qualidades de personificação, subjetividade e intencionalidade que os índios aplicam aos animais e os peixes também se estendem ao cosmos como um todo. Os mitos dos povos do Uaupés também são mitos sobre a paisagem, cujos traços distintivos - as serras e montanhas, os rios, as rochas e cachoeiras -, têm nomes que evocam as histórias de sua criação ancestral. Viajar por terra ou canoa é seguir essas histórias e compartilhar os atos de criação descritos por elas. Muitas histórias contam sobre as antigas migrações, atribuindo à paisagem uma dupla dimensão - a dos atos primordiais de criação e a dos atos mais recentes, como a construção de casas e abertura de roças.

Os poderes de criação ancestral incutidos na paisagem se estendem às plantas, peixes, animais e seres humanos que a habitam e também aos objetos confeccionados a partir dos materiais que dela provêm. Nos mitos, os objetos cotidianos tais como canoas, bancos, cestos e potes, emergem como seres animados e autônomos - como visto, do mesmo modo que os animais podem ser gente, as malocas podem ser os corpos dos ancestrais ou daqueles que as construíram. Os objetos confeccionados condensam dois tipos de potência: os poderes de sua matéria-prima e as habilidades e intenções de seus fabricantes. Conseqüentemente, o processo de fabricação dos objetos tem uma importante dimensão religiosa. Durante os ritos de iniciação, os homens e mulheres jovens são sistematicamente treinados na confecção de artesanato, um treinamento que é a um só tempo intelectual, espiritual e técnico. Fazer artesanato é concomitantemente confeccionar a si mesmo e o mundo, numa forma de meditação que traz à tona as interconexões entre objetos, corpos, casas, e o universo.

As aldeias Wanano estão localizadas na beira do rio Uaupés entre Iauaratê, no Brasil, e Santa Cruz, na Colômbia. Tem um grupo com mais de 50 Wanano morando em São Gabriel da Cachoeira, fora da reserva. Há 17 aldeias espalhadas ao largo do rio Uaupés na fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Destas, Sete aldeias ficam do lado da Colômbia e Dez do lado do Brasil.

As etnias e localizações

No Rio Uaupés e em seus afluentes existem atualmente mais de 200 povoados e sítios. Membros dessas etnias também estão presentes nas cidades da região, sobretudo em São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos. As etnias presentes na bacia do Uaupés são as seguintes:
1) Arapaso: Etnia de origem tukano oriental que atualmente fala apenas a língua tukano. Vivem no Médio Uaupés, abaixo de Iauareté, em povoados como Loiro, Paraná Jucá e São Francisco. Várias famílias também moram no Rio Negro e em São Gabriel.
2 ) Bará: Autodenominam-se Waípinõmakã. Habitam principalmente as cabeceiras do Rio Tiquié, acima do povoado de Trinidad, já na Colômbia; o Alto Igarapé Inambú (afluente do Papuri) e o Alto Colorado e Lobo (afluentes do Pira-Paraná). Dividem-se em cerca de oito sibs (grupos de descendentes de um ancestral comum que não podem casar entre si). São especialistas no preparo do aturá de turi, muito usado onde não são disponíveis os aturás de cipó maku. Também fabricam o carajuru. São hábeis ainda na confecção de canoas. Atualmente são os principais especialistas na fabricação dos adornos de plumas usados nas grandes cerimônias.

3) Barasana: Autodenominam-se Hanera. Vivem nos igarapés Tatu, Komeya, Colorado e Lobo, afluentes do Pira-Paraná, e no próprio Pira-Paraná, em território colombiano. Também encontram-se dispersos na bacia do Uaupés, no Brasil. Registram-se 36 subdivisões nomeadas.
4) Desana: Autodenominam-se Umukomasã. Habitam principalmente o Rio Tiquié e seus afluentes Cucura, Umari e Castanha; o Rio Papuri (especialmente em Piracuara e Monfort) e seus afluentes Turi e Urucu; além de trechos do Rio Uaupés e Negro (inclusive cidades da região). Existem aproximadamente 30 divisões entre os Desana, entre chefes, mestres de cerimônia, rezadores e ajudantes. Este número pode variar segundo a fonte. Os Desana são especialistas em certos tipos de cestos trançados, como apás grandes (balaios com aros internos de cipó) e cumatás.
5) Karapanã: Autodenominam-se Muteamasa, Ukopinõpõna. Vivem no caño Tí (afluente do Alto Vaupés) e Alto Papuri, na Colômbia. No Brasil, se encontram dispersos em alguns povoados do Tiquié e Negro. Tinham cerca de oito subdivisões, mas provavelmente apenas quatro delas deixaram descendentes.
6) Kubeo: Autodenominam-se Kubéwa ou Pamíwa. Possuem uma língua bem particular da família Tukano Oriental, sendo por isso algumas vezes classificada como Tukano Central. Em sua grande maioria, se encontram residindo em território colombiano, na região do Alto Uaupés, incluindo seus afluentes Querari, Cuduiari e Pirabatón. No Brasil, ocupam três povoados no Alto Uaupés e estão em pequeno número no Alto Aiari. Estão divididos em aproximadamente 30 sibs nomeados. Estes sibs, por sua vez, estão agrupados em três fratrias não nomeadas que funcionam como unidades para trocas matrimoniais; em outras palavras, ao contrário da maioria das outras etnias do Uaupés, os Kubeo costumam casar-se entre si, pessoas que falam a mesma língua. São especializados na fabricação das máscaras de tururi.

7) Makuna: Autodenominam-se Yeba-masã. Vivem principalmente no território vizinho da Colômbia, concentrando-se no Caño Komeya, afluente do Rio Pira-Paraná, no baixo curso deste rio, e no Baixo Apapóris. No Brasil, são encontrados no Alto Tiquié e nos seus afluentes, os igarapés Castanha e Onça. Estão divididos em cerca de 12 sibs. São especializados em zarabatanas e curare, são também hábeis fabricantes de canoas, além de fornecerem remos leves e muito bem acabados aos índios do Alto Tiquié.
8) Miriti-tapuya ou Buia-tapuya: Atualmente falam apenas a língua tukano. São habitantes tradicionais do Baixo e Médio Tiquié, destacando-se as comunidades de Iraiti, São Tomé, Vila Nova e Micura.
9) Pira-tapuya: Autodenominam-se Waíkana. Estão situados no Médio Papuri (nas proximidades de Teresita) e no Baixo Uaupés. Migraram e vivem também em localidades do Rio Negro e em São Gabriel.
10) Siriano: Autodenominam-se Siria-masã. Moram no Caño Paca e Caño Viña, afluentes do Alto Papuri, em território colombiano. No Brasil são encontrados dispersos em rios da bacia do Uaupés e no Rio Negro. Há informações referentes a 27 sibs siriano.

11) Taiwano, Eduria ou Erulia: Autodenominam-se Ukohinomasã. Habitam o Caño Piedra e Tatu, afluentes do Rio Pira-Paraná, e o Rio Cananari, afluente do Apapóris. Todas estas áreas estão situadas em território colombiano. Há informações que dão conta de oito subdivisões internas.
12) Tariana: Autodenominam-se Taliaseri. Diferentemente das outras etnias da bacia do Uaupés, a maioria dos Tariana adotaram o Tukano Oriental, mas falavam outrora uma língua pertencente à família Aruak, e algumas comunidades ainda a falam. Atualmente moram no Médio Uaupés, Baixo Papuri e Alto Iauiari. O centro do povoamento fica entre as cachoeiras de Iauareté e Periquito. São especializados em implementos de pesca como caiá, cacuri, matapi.
13) Tatuyo: Autodenominam-se Umerekopinõ. Habitam uma área situada na Colômbia: o Alto Rio Pira-Paraná, o Alto Tí e o Caño Japu. No Brasil, são representados sobretudo por mulheres casadas com homens de outras etnias. Existem cerca de oito subdivisões internas.
14) Tukano: Autodenominam-se Ye’pâ-masa ou Daséa. É a etnia mais numerosa da família lingüística Tukano Oriental. Concentram-se principalmente nos rios Tiquié, Papuri e Uaupés; mas também estão morando no Rio Negro, a jusante da foz do Uaupés, inclusive na cidade de São Gabriel. É possível que existam mais de 30 subdivisões entre os Tukano, cada qual com um nome e, idealmente, compondo um conjunto hierarquizado. Atualmente, com todas as dispersões ocorridas nos últimos séculos, as posições hierárquicas são razão de polêmicas e versões variadas. Os Tukano são fabricantes tradicionais do banco ritual, feito de madeira (sorva) e pintado, na parte do assento, com motivos geométricos semelhantes àqueles dos trançados. É um objeto muito valorizado, obrigatório nas cerimônias e rituais, onde se sentam os líderes, kumua (benzedores) e bayá (chefes de cerimônia).
15) Tuyuka: Autodenominam-se Dokapuara ou Utapinõmakãphõná. Estão concentrados principalmente no Alto Rio Tiquié, entre a Cachoeira Caruru e o povoado colombiano de Trinidad, incluindo os igarapés Onça, Cabari e Abiyú. Estão presentes também no trecho do Rio Papuri próximo à fronteira Brasil/Colômbia e em seu afluente Inambú. Possuem cerca de 15 sibs nomeados. São exímios construtores de canoas e, antigamente, eram especialistas na confecção de redes feitas de fibras de buriti. Também são especializados na confecção do cesto urupema, trançado de finíssimas talas de arumã, usado para coar sumo de frutos.

16) Kotiria: Autodenominam-se Kótiria. Predominam no Médio Uaupés, entre a cachoeira de Arara e Mitú. Entre Arara e Taracuá (do Alto Uaupés), os Kotiria são hegemônicos; acima daí, convivem em território onde a maioria é Kubeo. Há informações de que existem 25 divisões entre os Kotiria. Sua especialidade no âmbito das relações de troca interétnica é o preparo do carajuru, um pó corante feito com as folhas de um cipó, muito usado na confecção de artefatos rituais e na pintura do banco tukano, bem como para a pintura corporal. Também são hábeis cesteiros e produtores de objetos de tururi.
17) Yuruti: Autodenominam-se Yutabopinõ. Etnia de língua tukano oriental, ocupa o Alto Paca (afluente do Alto Papuri) e os caños Yi e Tui e áreas vizinhas do Vaupés onde estes igarapés desaguam (em território colombiano). Há informações que possuem nove sibs.
A seguir, é apresentada uma tabela com a estimativa populacional de cada etnia:

Etnia População no Brasil

Arapaso
328
Bará  39
Barasana  61
Desana 1.531
Karapanã 42
Kotiria 447
Kubeo 287
Makuna 168
Mirity-tapuya 95
Pira-tapuya 1.004
Siriano 17
Taiwano 0
Tariana 1914
Tatuyo 0
Tukano 4.604
Tuyuca 593
Yuruti 0
TOTAL 11.130



Valorização da Língua,
Cultura e Danças 
Tradicionais dos Kotiria


Povo Wanano
Das cerimônias que antigamente existiam, apenas seis ainda são conhecidas: Yansã Bahsa, Bua Magapo, Ki Wane, Nuhu Nagapo, Minia Wahku.
Cada dança é dividida entre os cantos do dia e os da noite.
Os cantos, por sua vez, são subdivididos em oito a dez partes.
Nos intervalos entre as partes é tocado e dançado o Cariçu, Japurutu, Theneniaka (flautas de sopro).
realição uma oficina Lingüístico-pedagógica, que resultou em uma escola ediferenciada para incentivar o uso da língua e pesquisar a cultura.
Estam trabalhando a ortigrafia, fazendo registros da cultura oral e de conhecimentos dos mais idosos, e desennolvendo os materiais pedagógicos.
o resultado deste trabalho foi a organização de vários livros da língua deste povo.
Comunidades MuNuhkõ (Ilha de Japu), Khã Nuhkõ(Ilha de Inambu) Koama Phoaye (Caruru-Cachoeira), Soma (Jacaré), Nahpima (Jutica), Botea Wairo (Arara-Cachoeira), Nihã Phito (Taina) e Mane Khoana Photo
388 Habitantes
São Gabriel da Cachoeira - AM
Iniciativa nº:360 (Premiada)
Proponente: José Galnes trindade
Contato:(97) 3475-1116
Fontes de pesquisa: Transcultural, Instituto Socioambiental (ISA) e SESCSP