Eles eram milhares, hoje são pouco mais de 20
FRENTES de contato da Fundação Nacional do Índio (Funai) tentam há 10 anos encontrar outros avás no nordeste goiano e sudoeste tocantinense, mas nenhum 'novo' índio foi localizado. Em outra frente, o Instituto de Pré-História e Antropologia da Universidade Católica de Goiás (UCG) e o chefe do posto da Funai de Minaçu, Valter Sanchez, vêm promovendo encontros entre os dois grupos, em uma tentativa de aproximá-los, estreitar as amizades e, quem sabe, poder ver, em alguns anos, casamentos entre os adolescentes, o que pode significar uma esperança de perpetuação desse povo.
OS DOIS grupos têm a mesma história triste e violenta. A situação atual é resultado de séculos de guerra dos canoeiros - nome dado graças à sua habilidade de usar canoas - contra as sucessivas levas de homens brancos que, munidos do diferencial de terem armas de fogo, invadiram suas terras para transformá-las em fazendas.
ESSA invasão começou a ganhar força no século 18 e gerou tantos confrontos e genocídios que, já em 1860, os avás estavam tão reduzidos que não podiam mais lutar contra os invasores. Mesmo assim, a coragem e a determinação canoeiras iriam atravessar o tempo. Cem anos depois - na década de 60 do nosso século - as lutas continuavam. Foi, então, em Campinaçu, norte de Goiás, que aconteceu o último e definitivo episódio contra a nação canoeira. Fazendeiros armados até os dentes fizeram uma emboscada contra a última aldeia avá que ainda existia e promoveram um genocídio. Eram centenas de índios, mas só sobreviveram os poucos que conseguiram fugir, entre eles alguns dos dois grupos de hhoje. Desde, então, tornaram-se o que Dulce chama de "povo invisível", pois passaram a não deixar pistas e nem a ser vistos.
O GRUPO DE MINAÇU é inteiramente avá e foi contatado em 1983, perto da aldeia atual. Vive na reserva de 38 mil hectares, junto ao Rio Tocantins, dos quais 3 mil foram ocupados pela usina hidrelétrica de Serra da Mesa, que lhes paga royalties. Têm casas de alvenaria, comida boa, assistência e os seus cachorros têm até carteira de vacinação. Com quatro adultos, um adolescente e uma criança, são, a começar dos nomes (Iawi, Tuia, Nakwatxa...), a memória viva do que sua nação foi um dia. São eles também os únicos que ainda falam um pouco da língua avá, mantêm alguns dos rituais e plantam e caçam. Contudo, as constantes fugas pelo mato e o fato de os bebês chorarem e denunciaram suas presenças fizeram com que o grupo passassem a evitar filhos. Depois do nascimento dos dois jovens (Trumak, 11 anos, e Putdjawa, 9), decidiram não ter mais filhos. E não falam mais sobre o assunto.


NESSE contexto, parecem não haver motivos para que os avá do Bananal não queiram ir para a reserva em Minaçu, como propõe a UCG e o posto da Funai local, mas as coisas não são tão simples. Mesmo com origens comuns, os dois grupos tiveram destinos diferentes, o que resulta em nuances de valores, identidades e convivências. "É preciso promover encontros periódicos para que os vínculos sejam maiores", explica Dulce. Os resultados desses esforços só serão revelados pelo futuro. Os dois grupos podem tornar-se mais que amigos, porém nada garante que vão se unir e virar parentes. Em todo caso, se unirem, as chances de não se extinguirem como nação indígena continuarão pequenas; se não se unirem, a extinção torna-se uma questão de tempo. Pouco tempo.
O GRUPO DE MINAÇU é inteiramente avá e foi contatado em 1983, perto da aldeia atual. Vive na reserva de 38 mil hectares, junto ao Rio Tocantins, dos quais 3 mil foram ocupados pela usina hidrelétrica de Serra da Mesa, que lhes paga royalties. Têm casas de alvenaria, comida boa, assistência e os seus cachorros têm até carteira de vacinação. Com quatro adultos, um adolescente e uma criança, são, a começar dos nomes (Iawi, Tuia, Nakwatxa...), a memória viva do que sua nação foi um dia. São eles também os únicos que ainda falam um pouco da língua avá, mantêm alguns dos rituais e plantam e caçam. Contudo, as constantes fugas pelo mato e o fato de os bebês chorarem e denunciaram suas presenças fizeram com que o grupo passassem a evitar filhos. Depois do nascimento dos dois jovens (Trumak, 11 anos, e Putdjawa, 9), decidiram não ter mais filhos. E não falam mais sobre o assunto.

"Histórias de Avá, o povo invisível" (diretor Bernardo Palmeiro)
A história da tribo Avá-Canoeiro, ameaçada de extinção. O filme mostra a busca de outros quatro grupos que ainda vivem isolados na região, sem nenhum contato com o branco (a 500 quilômetros da capital). E o esforço na tentativa de preservar sua cultura.
Reprodução autorizada mediante citação da TV Câmara
Algumas palavras do Vocábulo dos avá-canoeiros
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