quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Expedição faz novas fotos dos índios isolados da floresta amazônica.



Índios isolados  que vivem em terras indígenas no Paralelo de 10°S e suas imediações, no Acre, voltaram a ser fotografados em julho durante sobrevôo de avião organizado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e o governo do Acre. Os índios isolados ocupam três conjuntos de malocas, situados nas cabeceiras do rio Humaitá, no alto Riozinho e no alto igarapé Xinane.


Dois desses povos têm presença permanente constatada em território brasileiro há décadas, enquanto o terceiro se assentou há menos de dois anos no alto Xinane, oriundos do lado peruano da fronteira. Um quarto povo, os Mashco-Piro, passa temporadas, geralmente durante o verão, em território brasileiro, nos rios Envira, Iaco e Chandless (os últimos dois afluentes do rio Purus).


A divulgação de fotos das malocas dos isolados nas mídias nacional e internacional, após sobrevôo realizado em abril do ano passado, alertou sobre a necessidade de ações continuadas para a proteção desses povos e de seus territórios. Esse é o principal objetivo de um componente do Termo de Cooperação Técnica assinado em outubro último entre a presidência da Funai e o governo do Acre.


Existem no Estado três terras indígenas (Kampa e Isolados do Rio Envira, Riozinho do Alto Envira e Alto Tarauacá), com extensão de 636,3 mil hectares, destinadas à proteção de três povos “isolados”.


Também situadas na fronteira com o Peru, outras seis terras indígenas e o Parque Estadual Chandless constituem territórios utilizados pelos isolados em seus deslocamentos e em suas atividades de coleta, caça e pesca.


As dez terras e o parque têm extensão agregada de pouco mais de 2 milhões de hectares, integrando um mosaico contínuo de 28 terras indígenas e 15 unidades de conservação (de uso sustentável e proteção integral), de 7,7 milhões de hectares, que ocupa 46% da superfície total do Acre.


Participaram da expedição o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Jr., coordenador da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira e assessor Especial dos Povos Indígenas do governo do Acre,  Francisco Pinhanta, além do fotógrafo Gleilson Miranda, da Secretaria de Comunicação.


Fotos: Gleilson Miranda/Secom

 

terça-feira, 15 de setembro de 2009

CAMINHANDO COM OS KAMAYURÁS



NOSSOS
ÍNDIOS


CAMINHANDO
COM OS KAMAYURÁS




O primeiro contato com os Kumayurás foi realizado por Karl Von den Stein, etnógrafo alemão, em 1886, em companhia do seu patrício Paul Ehreinreich.
Eles visitaram toda a região da galhada formadora do Xingu,
contatando com 4 aldeias Kamayurás que lá existiam. Neste
momento, eles se encontravam em fase histórica da migração para
assentar-se na Lagoa de Ipavú. Mas foi a partir da expedição
Roncador-Xingu, nos anos 50, que se sucedeu os contatos mais
estreitos com os Kamayurás.


A aldeia era formada por
uma série de casas chamadas "malocas", dispostas
circularmente em torno do centro desta aldeia. Cada uma delas possuía
um "dono", o "hokayat", que presidia sua
construção. Em cada maloca morava uma família com todos os seus
parentes. A duração de uma casa era de 10 anos e a disposição do
povoado mudava a cada 30 anos. Quando um homem procedente de outra
aldeia se casava, tinha que viver com a família da mulher e, deveria
trabalhar para seu sogro durante vários anos.

As relações
intertribais entre os grupos indígenas do Alto Xingu era embasada nos
intercâmbios comerciais e nos casamentos. Os "Aweti" são a
aldeia que havia se especializado na produção do sal. Os "Aruák"
produziam e intercambiavam cerâmicas e os "Kalapálo"
confeccionavam os tão apreciados colares e conchas de caramujos, um
molusco que era o dinheiro oficial no Alto Xingú.



O sal era obtido de
diversas plantas aquáticas, principalmente da "uapa",
considerada um produto precioso. Para sua obtenção deve-se proceder a
secagem da planta, depois sua queima e filtragem das cinzas. Os
Kamayurás são também conhecidos pelos seus arcos de cor negra.



A base da alimentação
deste povo é a mandioca, o pescado do rio, entre eles a crimata,
corumbatas, tucumaré, tec. A dieta é complementada ocasionalmente com
banana, milho, mamão, frutos silvestres.


A vida cerimonial
Kamayurá circunscrevia ao centro social da aldeia e tinha relação
direta com o mundo dos espíritos.





MITOS E
ANCESTRAIS

A palavra Kamayurá
Moroneta designa o conjunto de explicações verbais e visuais para
explicar o nascimento de uma cultura, já que eles não  possuem
língua escrita.

Mavutsinim, foi o
primeiro homem (pai de todos os homens) criador das pessoas, dos povos,
do mundo, da serpente, do fogo e da água. Equivale a figura do Deus que
habitava o Morená, um lugar mítico. Parte da história ancestral dos
Kamayurá são comuns aos Yawalapiti e os Aruák, que chamam Wamuté
(língua Aruák) ou Kwamuati (entre os Yawalapoti) a Mavutsinim.
Mavutsinim, criou a
mulher a partir de um tronco chamado "mawu", passando uma
folha denominada "anemob" sobre o tronco e rezando. Depois
pegou um mosquito e colocou suas asas no nariz da mulher, que espirrou e
despertou. Ao ver Mawustinim que a mulher não tinha cabelo, colocou-lhe
então um cabelo comprido. O primeiro filho desta mulher chamou-se
"Ianama"e a primeira filha "Tanumakalo".

                   

Mavutsinim criou primeiro
o peixe e soltou-o na água. Depois falou com Kwat e Jal, o Sol e a Lua,
filhos da Onça, para que pescassem somente quando estivessem crescidos.
Dando continuidade a sua criação Mavutsinim criou mais água e o lago
de Morená. Os irmãos, Sol e Lua, desejavam mais pessoas e então,
Mawustinim criou mais 20 homens entre eles: Kamiyat, Kuarup, Mabu e
Kuayakaup. A partir destes troncos, se formaram as nações índias do
Xingu. Deste modo, foram criados ainda, os: Aurák, Kuikúro, Nafukuá,
Kalapálo, Machipú, Yaealapiti, Trumáe, etc., e os enviou para povoar
o mundo.


Foi também Mavutsinim
quem criou o arco convencional dos índios, o arco negro para os
Kamayurá, muito valorizado em todo o Xingu, por sua dureza e
resistência e foi quem curiosamente forneceu as armas de fogo ao homem
branco. Conta-se que tomando quatro pedaços de barro, resolveu criar as
tribos Kamayurá, Kuikúro, Waurá e Txukaha mãe. Criou também as
panelas de barro, a "borduna" (arma de madeira indígena), os
arcos brancos e negros e a espingarda.




Mavutsinim resolveu
colocar os brancos em cidades bem distantes das aldeias dos índios,
pois padeciam de muitas enfermidades e tinham armas de fogo.
Posteriormente,
fundiram-se outros elementos à mitologia Kamayurá, logo depois do
primeiro do primeiro contato com o explorador alemão Von den Steinen.
Na mitologia, todavia permanecem em Morená um homem branco e um
Kamayurá que estão sentados embaixo da água e não caminham. 


Mavutsinim criou o cavalo
para o branco e também três homens brancos, dois dos quais emigraram,
enquanto o terceiro habita o Morená montando o cavalo. Conta-se que
quando um índio tem a visão deste homem branco montado no cavalo, é
com certeza que morrerá em três dias.



"KUARUP",
A FESTA DOS MORTOS

O
PRIMEIRO KUARUP (Mavutsinim)




Mavutsinim,
desejava fazer com que os mortos voltassem à vida.



Foi
então no mato, cortou dois troncos e deu-lhes a forma de um homem
e de uma mulher, pintando-os e adornando-os com colares, penachos
e braçadeiras de plumas. Cravou-os no centro da aldeia. Preparou
então uma festa e distribuiu alimentos a todos os índios, para
que esta não fosse interrompida. Pediu aos membros da tribo que
cobrissem seus corpos com uma pintura que expressasse apenas
alegria, pois aquela seria uma cerimônia em que, ao som do canto
dos maracá-êp, os mortos iriam reviver: os Kuarups criariam
vida.

 No
outro dia a festa continuava; os índios deveriam cantar e dançar,
embora proibidos pelos pajés de olharem para os troncos. Aguardariam de
olhos cerrados a grande transformação.

 Naquela
mesma noite, as toras começaram a mover-se, as penas mexiam-se como se
estivessem sendo sacudidas pelo vento, tentando sair das covas onde
foram colocadas. Ao amanhecer já eram metade humanos, modificando-se
constantemente. Mavutsinim pediu então aos índios que se aproximassem
dos Kuarups sem parar de festejar, cantando, rindo e dançando. Apenas
os que haviam passado a noite com mulheres não poderiam se integrar à
cerimônia, permanecendo afastados do local. Um destes, porém, com
irresistível curiosidade, desobedeceu às ordens do pajé e
aproximou-se, quebrando o encanto do ritual. E os Kuarups voltaram à
sua forma original de troncos.

 Contrariado,
Mavutsinim declarou que, a partir daquele instante, os mortos não mais
reviveriam no ritual do Kuarup! Haveria somente a festa. Ordenou que os
troncos fossem retirados da terra e lançados ao fundo das águas, onde
permaneceriam para sempre.


 O
Kuarup é portanto, uma cerimônia de homenagem aos mortos, que é
celebrada um ano depois do falecimento do indivíduo. Corresponde a
festa de finados do homem branco. O nome deste cerimonial procede e um
tipo de árvore, cujos troncos representam o espírito dos mortos.


Os
Kamayarás pintam a pele e o cabelo um com corante vermelho chamado
"urucum" e outro verde, conhecido como "jenipapo",
que aplicados a pele, ali permanecem por 10 dias.



Durante o
Kuarup, necessita-se pescar grandes quantidades de peixes para
reparti-los na aldeia.



Vários
meses antes, se celebra a cerimônia de abertura do Kuarup. Para tanto,
a família do morto vai pescar por vários dias e em seu regresso,
entrega todo o pescado obtido, depositando-o no lugar onde está
enterrado o corpo, geralmente no centro da aldeia. Na noite anterior a
chegada dos pescadores, todos os homens do povoado se pintam com urucum
e jenipapo, tocam flauta "jakuí" (instrumento de quase 2
metros, formado de tubos), bebem mingau, cantam e fumam, enquanto
permanecem a espera toda a noite sem dormir. As mulheres não participam
destas reuniões.

O Kuarup é uma festa
alegre e exuberante, onde homens e mulheres cantam e dançam. Na visão
dos índios, os mortos não querem ver os vivos tristes ou feios. Kuarup
é um dia de alegria.
Depois da cerimônia do
Kuarup, os espíritos estão liberados para irem ao mundo dos mortos.


PAJELANÇA,
A ENCANTARIA AMAZÕNICA

O pajé é o xamã,
o médico, o curandeiro e o guia espiritual da aldeia. O ritual de
cura de um pajé exige uma iluminação prévia e uma viagem ao
mundo dos espíritos, para ver claramente a origem da enfermidade
e poder conversar com estas entidades. Elas, podem ter contato com
o pajé em sonhos ou através da alteração do estado de
consciência oportunizado pela ingestão de algumas ervas ou
raízes recolhidas na floresta.



Durante o ritual
terapêutico, o pajé reza e fuma ao mesmo tempo, baforando a fumaça do
tabaco sobre o corpo do doente. Enquanto
isto sustenta em uma das mãos o maracá, cujo ruído assinala a
aproximação do espírito. O pajé pode alcançar o transe fumando e
hiperventilando continuamente, o que lhe provoca visões que lhe
direcionam para compreender os atos estranhos que se sucedem na aldeia,
ou para predizer sucessos e insucessos.


O
pagamento do pajé vai depender do prestígio que ele possui na
comunidade da qual faz parte. Habitualmente recebe como paga um colar de
conchas de caramujos muito valorizado, considerado como pedra preciosa
entre os índios do Xingu. Mas, normalmente, é elevado o preço dos
tratamentos praticados pelos pajés mais afamados, ficando totalmente
inacessível para os índios mais pobres, que procuram então, a
medicina branca gratuita para curar seus males.





A
pajelança é um ato-ritual de cura, levada á cabo por vários pajés.
Nestas ocasiões eles se reúnem para fins curativos ou cuidar da
realização de um feitiço que beneficie todas as comunidades
participantes do evento.


A
crença da pajelança é assentada na figura do encantamento, ou seja,
é um culto á encantaria. Encantados são os seres invisíveis que
habitam as florestas, o mundo subterrâneo e aquático, regiões
conhecidas como "encantes". Os pajés servem de instrumentos
para a ação dos encantados. Para tornar-se pajé, o indivíduo
precisar ter um dom de nascença ou "de agrado"
(adquirido). 

Os
pajés Kamayurá estabeleceram um sistema de saúde baseado na magia,
transmitido oralmente e na utilização de plantas tradicionais. 

O
velho pajé Sapaim é o pajé mais conhecido dos kamaiyrás. Ficou
famoso em 1986 por tratar do naturalista Augusto Ruschi. Hoje ele mora
em Brasília e sua família é mantida pela FUNAI.


NOSSO
ÍNDIOS, ETERNOS ITINERANTES 



Nosso índio era dono
deste pindorama imenso, ele dispunha a seu talante das águas dos rios,
da caça das matas, das praias  de  areia alvíssimas, onde
alegremente colhia a pitanga, o caju e o cardo. Ele que, enfim, na busca
da alimentação para a sua sobrevivência, ou na guerra continuada com
tribos vizinhas, sentia-se livre e feliz, agora cabisbaixo e triste,
caminha quilômetros e quilômetros, para reclamar, seja por intermédio
da imprensa ou das autoridades competentes, terras e subsídios com os
quais possa obter, com o suor do rosto, o pão de cada dia. Hoje, o
campeador de outrora, encontra-se despojado de suas terras e já não
tem palmo de chão para lavrar.

O indígena que
aproximou-se do homem branco, atraído por seus utensílios e
instrumentos que lhe facilitavam o trabalho na luta pela vida, vê-se
agora nas garras da fome, numa agonia intérmina, sem ter ninguém para
protegê-lo.

RESISTIR
É EXISTIR..

Em contato com o branco,
o índio levou uma formidável queda moral. Seus sentimentos mais
sublimes descambaram para o instinto de sobrevivência e tiveram que
lutar bravamente contra os invasores de seus rincões. Pouco a pouco,
foram compreendendo que era inútil lutar... Acabaram entregando-se aos
lusitanos, como boi que procura, voluntariamente, a canga da pesada
viatura. Outros, entretanto, campearam pela liberdade, enfrentaram
então, a selva intrincada com todos os seus demônios e deuses e,
quando não morriam na áspera viagem, foram se organizando em novos
aldeamentos no âmago do sertão. Estes indígenas, que viveram longe da
civilização, mantiveram intactas todas as qualidades de bravura,
agilidade e independência.


O homem branco, em nome
do progresso e da civilização, tem cometido um certo etnocídio somado
a uma irreversível devastação dos ecosistemas.


Depois de longos ciclos
de amarga humilhação e exploração desapiedada é compreensível que
surjam correntes que consagram uma apologia ingênua das coisas
indígenas antes da chegada dos conquistadores portugueses. Hoje,
estamos conscientes que há uma necessidade de se reconhecer a realidade
inexorável de uma sociedade multinacional e pluricultural associada à
bondade dos valores universais. O caminho promissor é aceitar a
diversidade dentro de uma unidade. A senda presente poderia ser descrita
como tolerar-se e respeitar-se, assim como entender o todo. Pelo menos
se deseja que acabe a pretensão de se impor a força à civilização
dos brancos aos índios.
     

Bibliografia


AGOSTINHO,
Pedro. 1974. Kwarìp: Mito e Ritual no Alto Xingu. São Paulo:
EPU e EDUSP.
AGOSTINHO,
Pedro. 1974. Mitos e outras narrativas Kamayurá. Salvador (UFBA
(Coleção Ciência e Homem).

BASTOS,
Rafael José de Menezes. 1983. "Sistemas políticos, de
comunicação e articulação social no Alto-Xingu". Anuário
Antropológico
/81: 43-58.
SAMAIN,
Etienne. 1991. Mononeta Kamayurá: mitos e aspectos da realidade
social dos índios Kamayurá (alto Xingu)
. Rio de Janeiro: Lidador.
VIERTLER,
Renate Brigitte.
1969. Os Kamayurá e o alto Xingu: análise
do processo de integração de uma tribo numa área de integração
intertribal
. São Paulo: USP (Publicação do Instituto de Estudos
Brasileiros, 10).

ÍNDIOS CARIJÓS

ÍNDIOS CARIJÓS
 

Carijó: seu território ia
de Cananéia (SP) até a Lagoa dos Patos (RS). Vistos como "o melhor gentio
da costa", foram receptivos à catequese. Isso não impediu sua escravização
em massa por parte dos colonos de São Vicente. Em 1554, participaram do ataque
a São Paulo. Eram cerca de 100 mil.


O litoral gaúcho e catarinense, ao tempo da descoberta, era
habitado pelos Guaranis, que se estendiam pelo interior, às
margens da imensa lagoa dos Patos.


É interessante a origem do nome desta
lagoa. Conta-se que m 1554, viajavam para o Prata algumas embarcações
espanholas, que acossadas por um temporal, viram-se na contingência
de procurar abrigo na barra do Rio Grande. Aí deixaram fugir
alguns patos que traziam a bordo e de tal modo se deram bem as
aves com o lugar, que se reproduziram assombrosamente, chegando a
coalhar a superfície das águas da lagoa, dando-lhe e nome.





Eram os carijós índios dóceis,
trabalhadores e bem intencionados. Pertenciam ao ramo Guarani e
efetuaram uma marcha migratória do Paraguai para o sul do litoral
brasileiro.


Ayolas, na conquista do Paraguai,
encontrou-se com os Carijós à margem de um rio que deságua
vinte quilômetros acima da foz do ramo principal do Pilcomaio,
onde os ameríndios em questão possuíam uma aldeia cercada por
uma paliçada dupla e guarnecida de "bocas de lobo"
(escavações com estrepes no fundo).

Os espanhóis acossados pela fome, marcharam resolutamente para a
vitória. Os índios, ao ouvirem os primeiros estampidos das armas
de fogo, fugiram em corrida louca, caindo muitos nas próprias
esparrelas que haviam armado aos invasores.


Depois de ocupar a taba, em homenagem a
Santíssima Virgem, deu Ayolas, o nome de Assunção.




COSTUMES



Os Carijós construíam suas casas
cobrindo-as com cascas de árvores e já fabricavam redes e
agasalhos com o algodão que cultivavam, forrando-as com peles e
ataviando-as com plumas e penas.  Acostumaram-se a ajudar
todos os navios que lhe solicitassem auxílio, até que um dia,
traídos na sua boa fé, acabaram considerando os brancos inimigos


Na arte de cura, os Carijós estavam bem
adiante dos demais nativos. O remédio principal era uma ventosa
aplicada pelos lábios do pajé.


Na bruxaria também eram bem
desenvolvidos. Para enfeitiçar um semelhante, costumavam amarrar
um sapo em uma árvore. Á medida que o nojento animal fenecia, a
pessoa enfeitiçada também enfraquecia até morrer.


Se desejavam cegar alguém,
enterravam-lhe debaixo da rede um ovo. Descoberta a mandinga, os
objetos que serviram para a mesma deviam ser arremessados ao rio.

Grande era o número dos que tinham
parentesco com um ser superior que chamavam de
"caraibebes", que os jesuítas traduziram por
"anjos". Gozavam de vida avantajada esses que,
manhosamente se inculcavam ministros dos "anjos".
Recebiam os melhores frutos da terra e as mais cobiçadas caças
que fossem abatidas pelas cercanias.


Quando um guerreiro partia para a guerra,
era honrado com um sopro do "caraibebe", para que não
morresse em combate. Entretanto, se alguns caía morto em luta,
havia a desculpa de que o infeliz, por seus pecados não se
tornara digno da benção do "anjo". Deste modo, esses
pajés se tornaram infalíveis, com prestígio inabalável entre
os seus crentes.


QUEM ERAM ELES?




É sem dúvida bem curioso o modo como se
explica a origem dos Carijós...


Naufragando nas proximidades da ilha de
Santa Catarina um navio português, seus tripulantes conseguiram
atingir a terra, então campeada pelos índios guaranis. Entre os
náufragos contavam-se o português Henrique Montes, o castelhano
Melchor Ramirez e o preto Francisco Pacheco, além de outros. Como
sucedeu a Caramuru e a João Ramalho, esses homens acabaram
unindo-se às índias, adotando um novo regime de vida. Resultado
de tal fato, foi o nascimento de inúmeros mestiços, mamelucos e
cafusos, que de algum modo alterou o aspecto dos indígenas, que
passaram a constituir uma sub-raça com a denominação de Carijós,
que significa arrancado do branco: o mestiço. Daí vem o costume
de chamarmos de carijós às galinhas de coloração preta e
branca.
>

 Fonte:Wikipédia

TRIBO CAETÉS

CAETÉS
Cau-ete, mata primitiva. Tribo indígena oriunda do tronco tupi que vivia no território tribal compreendido entre a ilha de Itamaracá, Igarassu, Pernambuco, até a foz do rio São Francisco, na divisa dos estados Alagoas e Sergipe.
Na Carta de Pero Vaz de Caminha esta tribo é apresentada como de feição parda, algo avermelhadada, de bons rostos e bons narizes, em geral são bem feitos, andam nus, sem cobertura alguma, não fazendo menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão inocentes como quando mostram o rosto. Estudos demonstram que eles eram exímios pescadores e caçadores, construtores de embarcações e que cultivavam milho, feijão, fumo e mandioca.
A tribo caeté entre em confronto com os portugueses tão logo foram sendo escravizados para desenvolvimento da cana-de-açúcar. Entrando em confronto com os propósitos lusitanos, tornaram-se inimigos destes. Mantinham comércio com holandeses e franceses.
Esta tribo indígena é acusada pela história oficial como aquela que. por ocorrência do naufrágio do navio Nossa Senhora da Ajuda, em 1556, nos nos baixios de d. Rodrigo,hoje Barra de São Miguel, em Alagoas, que levava o bispo do Brasil, D. Pero Fernandes Sardinha, quando este e seus 98 tripulantes caem nas mãos e se tornam vítimas dos índios antropófagos. Tal incidente provocou a fúria da Igreja e da Inquisição, a ponto de promover juntamente com forças lusas uma repressão para dizimá-la completamente da face da terra.
Hoje vários estudos colocam em dúvida o incidente antropofágico que resultou na alcunha de que todo alagoano é um papa-bispo, direcionando que a verdadeira morte do primeiro bispo do Brasil ocorreu por vingança do Governador Geral, Duarte da Costa e seu filho Alvaro da Costa que poderiam ter tramado tal crime e incriminando os caetés.

Missionários sem cruz


Missionários sem cruz

Os brancos ajudam no ensino e na saúde,

mas sua maior missão é

preparar os índios para o futuro


Silvio Ferraz, do Xingu



 










Fotos: Paulo Jares




André Villas Bôas, há 21 anos entre os índios.
O dentista Eduardo Biral, a enfermeira Stela Würkir, sua mulher,
e o filho, Januário, um Tarzan brasileiro



Eles não usam barba, elas têm cabelos compridos e tranças.
Esguios, alimentados a peixe moqueado com biju, mingau de amendoim e frutas.
Falam baixo, dormem cedo e só têm uma conversa: índio. É a tribo dos brancos
composta de cientistas sociais, médicos, pedagogos, enfermeiras, biólogas
e engenheiros agrônomos, vindos de diversas regiões brasileiras. Boa parte
da engenhosa engenharia social e cultural que mantém o Parque do Xingu
funcionando em harmonia se deve ao trabalho desses especialistas.


O foco agora é preparar os índios para o inevitável confronto
com a civilização que um dia ocorrerá. As cidadezinhas vizinhas do parque
vão transformar-se em municípios de porte médio, a urbanização baterá
às portas da reserva. Os moradores do parque, cada vez mais, dependerão
de produtos fabricados pelo branco. Em todos os momentos da humanidade,
sempre que o choque ocorreu, o mais forte sobrepujou o mais fraco. Quase
sempre de forma violenta. Neste canto do Brasil, um punhado de brancos
está conseguindo driblar essa inevitabilidade. Procuram transformar o
abraço sufocante em um caminhar de mãos dadas de culturas tão diferentes.


Com um pé na selva e outro no asfalto, André Villas Bôas
é o "cacique" dessa tribo de brancos. Diretor do Instituto Socioambiental,
ONG paulista apoiada pelo governo da Noruega e pelo cantor Sting, convive
com os índios há 21 anos. Apesar do nome, André tem apenas um longínquo
parentesco com os irmãos Villas-Boas, inspiradores do Parque do Xingu.
Depois de ter morado com os xavantes, no Solimões, com os tikunas, no
Alto Solimões e no Xingu, o cientista social conduz o mapeamento, por
meio de satélite, de toda a região xinguana. Nele aparecem, sem retoques,
as ameaças externas: o avanço do desmatamento, a destruição das cabeceiras
dos rios, a poluição ambiental.











Fotos: Paulo Jares


Índios aprendem a ensinar as crianças de suas tribos: geografia,
história e cálculos





Outro que optou pelo verde, deixando para trás uma clínica potencialmente
rendosa em São Paulo, é o dentista Eduardo Biral. Com uma frase, traduz
a complicação que se instala na cabeça dos que convivem com ele: "Minha
família acha que sou comunista, os índios pensam que sou milionário e
meus colegas paulistas, que sou pirado". Eduardo acha que seu destino
é tratar os dentes dos índios numa cadeira de tábuas, à sombra de uma
mangueira. "Sou um escultor de dentes", diz, com luvas cirúrgicas,
tratando a fila de crianças e adolescentes dos índios suyás. Usa um cimento
dental muito resistente desenvolvido pelos americanos durante a Guerra
do Vietnã, e, enquanto obtura as cáries, sussurra delicadamente com os
pacientes na própria língua suyá. Os kayapós, da aldeia metuktire, levaram
o reconhecimento a Biral mais longe. Nomearam Takakran e Koiman Tekré,
seus pais adotivos. Sua mulher, Stela Würkir, enfermeira, há vinte anos
trabalhando com os índios, deixou Higienópolis, bairro paulistano, e embrenhou-se
na mata em 1980, de onde nunca mais saiu. Stela criou no Xingu um grupo
de "agentes de saúde", índios treinados para suprir a ausência
de enfermeiras e médicos nas emergências. De seu casamento com Biral nasceu,
em 1982, Januário, o "Janu", ou "Bep Kangró", como
querem os que moram na aldeia Metuktire. É o Tarzã brasileiro. Nas noites
de luar pode ser visto de pé numa esquálida canoa, pescando jacarés com
arco e flecha. "Desde os 12 anos é ele quem abastece de proteína
a casa", orgulha-se o pai. Faz grande sucesso entre as índias e seus
melhores amigos são índios. Janu não se perturba com a dupla nacionalidade.
Não abandonou a civilização dos brancos. Estuda por correspondência, no
curso especializado do Anglo-Americano, tradicional colégio carioca.











Maria Cristina Troncarelli, pedagoga, ex-artista
de circo: currículo adaptado



"Bimba", como é mais conhecida a professora paulista
Maria Cristina Troncarelli, 37 anos, dos quais quinze no Xingu, foi atriz
e engolidora de fogo nos circos do ABC paulista antes de ir para o mato.
Hoje toca um programa educacional adaptado para os indígenas. Seu entusiasmo
contagia os 53 instrutores tribais reunidos a sua volta, para aprender
a língua dos brancos. Entre os índios, quanto melhor falar o português,
maior status na tribo. O português, na região, é o idioma do entendimento,
já que as catorze etnias têm línguas próprias. Sem preconceitos, sua didática
recorre a vídeos ou a palestras de velhos guerreiros. Seu curso atrai
indígenas até do Acre. De sua união com um índio kaiabi nasceram as gêmeas
que vivem em São Paulo e visitam os avós índios durante as férias.



Os agrônomos Geraldo Mosimann da Silva e Wemerson Ballester
ensinam apicultura. Com trajes especiais, os 25 apicultores indígenas
produziram 600 quilos de mel neste ano. A meta são 2 toneladas. Os índios
estão a um passo de comercializar seu produto, com o apelo de marketing
de ser produzido por floradas exóticas, desconhecidas pelo consumidor
das grandes cidades. A bióloga curitibana Simone Ferreira de Attayde,
mulher de Geraldo, é outra que enfrenta banho de rio, casa com chão de
terra batida e baratas para organizar o comércio do artesanato indígena.
"Estamos tentando manter viva a cultura dos kaiabis na confecção
das lindas panelas de barro. Não é fácil. O barro daqui, quando vai ao
fogo, racha", explica Simone. A tribo dos brancos no Xingu já enxergou
o futuro. Nele, os índios, sem o paternalismo do governo, que criou e
mantém em bases sólidas a reserva, terão de conviver com seus vizinhos.
Quanto mais bem preparados estiverem, maiores serão as chances de manter
seu modo de vida intocado.

 





Os arquitetos da pacificação















Foto: Hevio Rodrigues




Orlando (acima)
chora na homenagem ao irmão Cláudio:

"Meu lugar é aqui"

Rondon (ao lado)
no
mato desde jovem. Seu
lema: "Morrer,
se
preciso for,
matar jamais"



Rondon e Villas-Boas são, no fundo, os pilares
sobre os quais se assenta hoje toda a política indigenista que rege
o Xingu. Sorte dos índios, sorte dos brancos. O homem que tinha
como lema "Morrer, se preciso for, matar jamais" foi inspirado,
no início do século, a embrenhar-se selva adentro, em locais onde
o homem branco nunca havia pisado. O militar, sertanista e geógrafo
Cândido Mariano da Silva Rondon dedicou a vida a promover a colonização
do interior brasileiro. Por onde passava, Rondon pacificava e tratava
a minoria selvagem. Descendente por parte de mãe dos índios terenos,
o militar descobriu montanhas, rios, corrigiu mapas e construiu
linhas telegráficas Brasil afora, rompendo até o isolamento da Bolívia
e do Paraguai. A tribo bororo ficou tão reconhecida ao militar que
lhe reservou um inusitado presente: a mais linda e mais jovem donzela.
Rondon nunca a viu. Era um tímido.



Seguidores da sua filosofia, os irmãos sertanistas
Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Boas mergulharam na missão de
desviar as tribos da rota da extinção. Ela ocorreria por conflitos
armados ou por epidemias, à medida que os contatos com os brancos
se tornassem mais intensos e freqüentes. Pacificaram as tribos do
Xingu e inspiraram a criação de um santuário, o atual Parque do
Xingu. Para lá levaram quinze etnias diferentes, cada qual com seus
usos e costumes e, não raro, inimigas entre si. Pacificados, hoje
os índios vivem o que chamam de "a longa trégua". Orlando
é o sobrevivente, uma legenda. Seu irmão Cláudio é tido pelos índios
yawalapitis como o "espírito do bem que zela por seu povo".
Sobre Orlando, o cacique Aritana sussurra com olhos marejados: "Queremos
ele bem vivo, mas quando chegar a hora repousará no Xingu".

Font= Revista veja Editora abril