domingo, 2 de maio de 2010

Terena e Guaikuru na Guerra do Paraguai



De acordo com os registros sobre a Guerra do Paraguai, a participação de índios no conflito é quase que ignorada pelos historiadores. No entanto, os índios Terena e os kadiwéu – representantes do grupo guaikuru da região do Chaco – preservam uma série de narrativas e manifestações culturais que os remetem ao seu envolvimento nesse conflito. Entre outras manifestações, estão a dança do bate pau do Terena e a cavaloada Kadiwéu ritualística que relembra os combates na guerra.
Espalhados ao longo das margens do rio Paraguai, os Terena e Kadiwéu eram conhecidos e temidos por colonizadores espanhóis e portugueses. Formando um amplo rebanho de cavalos domesticados, os kadiwéu utilizavam do animal, como exímios cavaleiros para empreender suas guerras, já os Terena sábios estrategistas no planejamento e exploração dos territórios. Ao longo do processo de colonização da região sul, diversos relatos contavam a forte resistência empreendida por essa união dos índios Terena com o Kadiwéu/Guaikuru. Ao longo do período colonial, a definição das fronteiras sofreu grade influência do papel militar desse povo.
Para o Povo Terena e kadiwéu, a questão militar integra a concepção de mundo desses povos. Além de definir a própria identidade desses povos, a guerra era foi um instrumento de incremento populacional mediante a baixa densidade demográfica dos mesmos. O evento da Guerra do Paraguai, além de reforçar o caráter guerreiro dos kadiwéu aliado a astúcias dos Terena, também demonstrou a relação conflituosa estabelecida com os paraguaios ao longo de sua trajetória.
Essa relação de oposição, aos "brancos" teriam uma grande relação com a cobiça nas terras dos Terena na região de Miranda e Aquidauana e do kadiwéu, na região Porto Murtinho e Bonito. Por isso, essa população indígena se via sistematicamente impelida a afrontar os paraguaios em conflitos, sendo a Guerra do Paraguai mais um dos episódios dessa história. A lógica de uso da terra pretendida pelos "brancos" era vista como uma ameaça à importância dada entre os Terena e os kadiwéu à continuidade de seus povos.
Em 1870, existiam duas realidades indígenas distintas em relação a Guerra do Paraguai, o indígena combatente aliciado pelo estado, como os povos Terena, Kadiwéu e Guarani, e o indígena alcançado pela guerra del 70, como no caso de diversos grupos indígenas localizadas no interior do Paraguai. Todos atingidos e transformados por esta mesma guerra, mas de maneiras absolutamente distintas.
Porém, apesar da violência e a importância deste acontecimento para a historiografia latino-americana, pouco se sabe do impacto desta guerra junto as populações indígenas envolvidas no conflito, como os Terena e os Kadiwéu do Mato Grosso do Sul e parte dos chamados Guarani "paraguaios", que se viram forçados a lutarem por seus respectivos governos nacionais. Assim como em relação as diversas comunidades indígenas Guarani
Como sabido, é a própria história que nos ensina que há "mortos que nunca morrem", pois os nossos valentes guerreiros estarão sempre vivos enquanto nós os índios se lembrarmos deles, mas, na verdade nós somos os "vivos" sobrevivendo quase mortos, pois hoje, se nos nutrem de uma história marginalizada, violentada e silenciada. Se os nossos povos já foram os verdadeiros "DONOS DESSA TERRA", vivemos agora em situação de mendicância. Mendigamos não o pão de cada dia, mas, a necessidade do resgate de nossa identidade, de nossa cultura e de nossa DIGNIDADE enquanto seres Humanos.
Para o "civilizado", "homem branco" é fácil dizer que a história sangrenta desse país já passou, já que eles continuam dominando e atraindo cada vez mais indígenas para as cidades com falsas necessidades e ilusões consumistas. A própria cultura, não se preocupou com a valorização do próprio índio, mas sim cristianizar, civilizar e branquear o indígena. Nossas crenças, juntamente com o conjunto de tão belos mitos e lendas, têm sido ridicularizadas e desvalorizadas pelos ditos civilizados.
O que nós os índios queremos? Justiça e não piedade! Liberdade e não submissão tutelar! Resgate cultural e não à civilização! Sobrevivência e não à exclusão! Somente quando a sociedade brasileira tiver consciência de quem foi os nossos Povos, e de quem o índio é hoje, se dará conta do quanto já nos foi tirado e do quanto ainda podemos perder, se não houver mudanças no modo de agir e pensar da sociedade em relação à nós indios. Não se pode olvidar, pleitear ignorância para eximir o dolo não os isentará da culpa!

*É índio residente na Aldeia Jaguapirú, Advogado, pós-graduado em Direito Constitucional, Coordenador Regional do ODIN/MS (Observatório Nacional de Direitos Indígenas no MS
 

Altor: *Wilson Matos da Silva*

3 comentários:

Maria José Speglich disse...

Obrigada pelas informações.
Parabéns pelo seu blog.

Kuparak Artesanatos Etnocultural disse...

Obrigado Você pela sua visita, sempre que precisar de informações sobre o maravilhoso mundo indigena visite o nosso Blog.

Anônimo disse...

Caro amigo, Sou Historiador do Exército, estamos criando um espaço cultural (museu) em Campo Grande - MS, estive aí faz 2 semanas, será na região central num prédio histórico que já abrigou a região militar, que (em um de seus espaços) terá como tema a guerra do paraguai, onde quero resgatar a participação indígena, inclusive, daí "copiei" essa foto bem interessante que tem no seu blog onde aparecem índios vestindo uniformes militares (com certeza uniformes imperiais do Batalhão de Voluntários da Pátria) Se quiser colaborar com algum tipo de informação entre em ctt meu email ten_edgley@yahoo.com.br sou da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx) estou no RJ. abç e parabéns pelo blog