Durante dois anos, os professores Xacriabá em formação, no Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais, realizaram uma pesquisa, nas suas aldeias, sobre as tradições de seu povo. Esse trabalho resultou na escrita de três tipos de texto:
— Narrativas, em verso, de acontecimentos e fatos importantes na vida da comunidade Xacriabá: a luta pela posse da terra, a morte do líder Rosalino, a formação dos professores.
— Narrativas, em prosa, do massacre ocorrido em 1987, na aldeia Sapé, no município de São João das Missões, quando Rosalino Gomes de Oliveira, pai do professor José Nunes de Oliveira, foi assassinado.
— Coletâneas de contos tradicionais, que pertencem ao extenso universo ficcional do sertão mineiro, transmitidos, oralmente, de geração a geração.
Os textos foram escritos num esforço conjunto dos professores, que ouviram, gravaram e traduziram, na forma escrita, histórias e casos dos seus pais, avós, tios, enfim, daqueles que detêm os saberes tradicionais na aldeia.
Pela escrita, eles pretendem constituir, esteticamente, novas imagens de sua comunidade. Escrever, para eles, é antes o ato político de dar um sentido para sua existência, junto à sociedade brasileira.
Se os Xacriabá perderam, à força, sua língua, agora eles se ' apoderam da língua portuguesa, dando-lhe uma entonação cabocla.
Como pesquisadores e professores das escolas Xacriabá, estes novos autores apontam para uma outra cena literária: a produção comunitária do livro, livre do princí pio da autoria, enraizada na oralidade.
A grafia como um gesto de reafirmação da força política de quem, na conquista do próprio território, transforma as penas em poesia
Durante dois anos, os professores Xacriabá em formação, no Programa de Implantação das Escolas Indígenas deMinas Gerais, realizaram uma pesquisa, nas suas aldeias,sobre as tradições de seu povo. Esse trabalho resultou na escrita de três tipos de texto:
Narrativas, em verso, de acontecimentos e fatos importantes na vida da comunidade Xacriabá: a luta pela posse da terra, a morte do líder Rosalino, a formação dos professores.
Narrativas, em prosa, do massacre ocorrido em 1987,na aldeia Sapé, no município de São João das Missões,quando Rosalino Goms de Oliveira, pai do professor JoséNunes de Oliveira, foi assassinado.
— Coletâneas de contos tradicionais, que pertencem ao extenso universo ficcional do sertão mineiro, transmitidos,oralmente, de geração a geração.
Os textos foram escritos num esforço conjunto dos professores, que ouviram, gravaram e traduziram, na formaescrita, histórias e casos dos seus pais, avós, tios, enfim,daqueles que detêm os saberes tradicionais na aldeia.
Pela escrita, eles pretendem constituir, esteticamente,novas imagens de sua comunidade.
Escrever, para eles, é antes o ato político de dar um sentido para sua existência,junto à sociedade brasileira.
Se os Xacriabá perderam, à força, sua língua, agora eles se' apoderam da língua portuguesa, dando-lhe uma entonação cabocla.
Como pesquisadores e professores das escolas Xacriabá,estes novos autores apontam para uma outra cena literária: a produção comunitária do livro, livre doprincípio da autoria, enraizada na oralidade.
A grafia como um gesto de reafirmação da força política de quem, na conquista do próprio território, transforma as penas em poesia
Para isso eu dou terras,
p'ros índios morar
Daqui para Missões cabeceira de Alagoinhas
Beira do Peruaçu até as Montanhas
p'ra índio não abusar de fazendeiro nenhum
eu dou terra com fartura p'ro índio morar.
A missão para a morada
0 brejo para o trabalho
Os campos gerais para as meladas e caçadas
B as margens dos rios para as pescadas.
Dei, registrei, selei
Pago os impostos
Por cento e sessenta réis
Assim é que traduziram, em versos, um documento. Um dia,no Curso de Formação, no Parque Rio Doce, estávamos lendo
O que é literatura, de Marisa Lajolo (Coleção Primeiros Passos, Editora Brasiliense).
Creuza Nunes Lopes, professora Xacriabá, foi encarregada de transmitir oralmente aos colegas os resultados da sua leitura, suas reflexões sobre o tema tratado no livro.
O que ela fez?
Foi lá na frente da turma e declamou versos que eram, literalmente, o texto ensaístico de Marisa Lajolo.
A turma aplaudiu.
Nós, professoras da UFMG, entendemos finalmente que a leitura é também a tradução do texto em uma cadência, um ritmo que não é outro senão o da tradição poética à qual pertencemos.
Assim, a História, a Geografia, a Literatura, a Filosofia, as Ciências Naturais, a Matemática, vão entrando pelos ouvidos e saindo em ritmo Xacriabá, em forma de livros para serem lidos em voz alta, decorados, recontados, em volta de uma fogueira, nas noites bonitas do cerrado, ou, quem sabe, numa boa sala de aula.
Maria Inês de Almeida
Profa, de Literatura Brasileira UFMG
1- MARIZ, Alceu Cotia (et alli). 1982. Relatório de viagem à área Indígena xacriabá FUNAI. P.16
Vocabulário Xacriabá
Aiató dadamá olho
Amiotsché banana
Angrata avó eavô
Bacotong/ B i c o n g fi l h a
Balozinha menina/mulher
D'agrí mulher
Estragó sol
D'ateà perna
D'atohá boca
cornek a n é a r c o
Cudaió criou tamanduá bandeira
Cudaió porco do mato
Ukú onça
Inscgiutú tio
Lavazar/manãmam fumo
Nhionosso cacau
Ingrá filho
Etiké flecha
D'agrang cabeça
D'ahaschi cabelo
Goabsang cão
Grí casa
Oaitomorim estrela
Oá lua
Oté árvore
Kupaschú farinha
Kuú água
Kutsché fogo
Nchatari mãe
Notsché milho.
Mamang pai
Churer anta
Leia o Texto completo no scribd