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quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Tempo Passa e História Fica, Escrtito pelos indíos Xacriabás



Durante dois anos, os professores Xacriabá em formação, no Programa de Implantação das Escolas Indígenas de Minas Gerais, realizaram uma pesquisa, nas suas aldeias, sobre as tradições de seu povo. Esse trabalho resultou na escrita de três tipos de texto: 

Narrativas, em verso, de acontecimentos e fatos importantes na vida da comunidade Xacriabá: a luta pela posse da terra, a morte do líder Rosalino, a formação dos professores.

Narrativas, em prosa, do massacre ocorrido em 1987, na aldeia Sapé, no município de São João das Missões, quando Rosalino Gomes de Oliveira, pai do professor José Nunes de Oliveira, foi assassinado. 

Coletâneas de contos tradicionais, que pertencem ao extenso universo ficcional do sertão mineiro, transmitidos, oralmente, de geração a geração.
  
Os textos foram escritos num esforço conjunto dos professores, que ouviram, gravaram e traduziram, na forma escrita, histórias e casos dos seus pais, avós, tios, enfim, daqueles que detêm os saberes tradicionais na aldeia. 

Pela escrita, eles pretendem constituir, esteticamente, novas imagens de sua comunidade. Escrever, para eles, é antes o ato político de dar um sentido para sua existência, junto à sociedade brasileira.

 Se os Xacriabá perderam, à força, sua língua, agora eles se ' apoderam da língua portuguesa, dando-lhe uma entonação cabocla.  

Como pesquisadores e professores das escolas Xacriabá, estes novos autores apontam para uma outra cena literária: a produção comunitária do livro, livre do princí pio da autoria, enraizada na oralidade. 

A grafia como um gesto de reafirmação da força política de quem, na conquista do próprio território, transforma as penas em poesia

Durante dois anos, os professores Xacriabá em formação, no Programa de Implantação das Escolas Indígenas deMinas Gerais, realizaram uma pesquisa, nas suas aldeias,sobre as tradições de seu povo. Esse trabalho resultou na escrita de três tipos de texto:



  
 Narrativas, em verso, de acontecimentos e fatos importantes na vida da comunidade Xacriabá: a luta pela posse da terra, a morte do líder Rosalino, a formação dos professores.

 Narrativas, em prosa, do massacre ocorrido em 1987,na aldeia Sapé, no município de São João das Missões,quando Rosalino Goms de Oliveira, pai do professor JoséNunes de Oliveira, foi assassinado.

— Coletâneas de contos tradicionais, que pertencem ao extenso universo ficcional do sertão mineiro, transmitidos,oralmente, de geração a geração.

  Os textos foram escritos num esforço conjunto dos professores, que ouviram, gravaram e traduziram, na formaescrita, histórias e casos dos seus pais, avós, tios, enfim,daqueles que detêm os saberes tradicionais na aldeia.
  Pela escrita, eles pretendem constituir, esteticamente,novas imagens de sua comunidade.
 
 Escrever, para eles, é antes o ato político de dar um sentido para sua existência,junto à sociedade brasileira.

 Se os Xacriabá perderam, à força, sua língua, agora eles se' apoderam da língua portuguesa, dando-lhe uma entonação cabocla.
 
 Como pesquisadores e professores das escolas Xacriabá,estes novos autores apontam para uma outra cena literária: a produção comunitária do livro, livre doprincípio da autoria, enraizada na oralidade.
 
 A grafia como um gesto de reafirmação da força política de quem, na conquista do próprio território, transforma as penas em poesia

      Para isso eu dou terras,
      p'ros índios morar
      Daqui para Missões cabeceira de Alagoinhas
      Beira do Peruaçu até as Montanhas
      p'ra índio não abusar de fazendeiro nenhum
      eu dou terra com fartura p'ro índio morar.
      A missão para a morada
      0 brejo para o trabalho
      Os campos gerais para as meladas e caçadas
      B as margens dos rios para as pescadas.
      Dei, registrei, selei
      Pago os impostos
      Por cento e sessenta réis

  Assim é que traduziram, em versos, um documento. Um dia,no Curso de Formação, no Parque Rio Doce, estávamos lendo
  O que é literatura, de Marisa Lajolo (Coleção Primeiros Passos, Editora Brasiliense). 
  
 Creuza Nunes Lopes, professora Xacriabá, foi encarregada de transmitir oralmente aos colegas os resultados da sua leitura, suas reflexões sobre o tema tratado no livro. 
  O que ela fez?
  
 Foi lá na frente da turma e declamou versos que eram, literalmente, o texto ensaístico de Marisa Lajolo. 
  A turma aplaudiu. 
  
 Nós, professoras da UFMG, entendemos finalmente que a leitura é também a tradução do texto em uma cadência, um ritmo que não é outro senão o da tradição poética à qual pertencemos. 
  
 Assim, a História, a Geografia, a Literatura, a Filosofia, as Ciências Naturais, a Matemática, vão entrando pelos ouvidos e saindo em ritmo Xacriabá, em forma de livros para serem lidos em voz alta, decorados, recontados, em volta de uma fogueira, nas noites bonitas do cerrado, ou, quem sabe, numa boa sala de aula.


Maria Inês de Almeida 
Profa, de Literatura Brasileira UFMG
1- MARIZ, Alceu Cotia (et alli). 1982. Relatório de viagem à área Indígena xacriabá FUNAI. P.16

Vocabulário Xacriabá
Aiató dadamá                             olho
Amiotsché                                   banana
Angrata                                       avó eavô
Bacotong/ B i c o n g                    fi l h a
Balozinha                                     menina/mulher
D'agrí                                           mulher
Estragó                                        sol
D'ateà                                          perna
D'atohá                                        boca
cornek a n é                                 a r c o
Cudaió            criou                     tamanduá bandeira
Cudaió                                         porco do mato
Ukú                                             onça
Inscgiutú                                       tio
Lavazar/manãmam                        fumo
Nhionosso                                    cacau
Ingrá                                             filho
Etiké                                             flecha
D'agrang                                       cabeça
D'ahaschi                                      cabelo
Goabsang                                     cão
Grí                                               casa
Oaitomorim                                  estrela
Oá                                               lua
Oté                                              árvore
Kupaschú                                     farinha
Kuú                                             água
Kutsché                                       fogo
Nchatari                                       mãe
Notsché                                        milho.
Mamang                                       pai
Churer                                          anta


Leia o Texto completo no scribd

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Desejo os tecidos dos céus




Desejo os tecidos dos céus

Fossem meus os tecidos bordados dos céus,
Ornamentados com a luz dourada e prateada,
E os azuis e negros e pálidos tecidos
Da noite, da luz, da meia-luz,
Eu os espalharia debaixo dos teus pés:
Mas eu, pobre, tenho apenas os meus sonhos;
Eu espalhei os meus sonhos debaixo dos teus pés;
Pisa suavemente, pois é sobre os meus sonhos que pisas.

William Butler Yeats

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Jessier Quirino - Um poeta do povo matuto

Paraibano de Campina Grande, o poeta, músico, arquiteto, declamador, Jessier Quirino diz que não se considera um estudioso, apenas um "prestador de atenção". Arquiteto por profissão, poeta por vocação e matuto por convicção, como ele mesmo se define, vive subindo nos palcos de todo país, para apresentar sua poesia declamada e os causos matutos.








Eu sou um prestador de atenção. Observo as coisas com olhos e faro de rastrejador e vou escolhendo palavras para colocar na minha poesia, nos meus escritosgosta de dizer, acrescentando que o a sua vida artística começou cedo.
— Costumo dizer que, pra essas coisas das artes, sou eu e a torre de Pisa: sempre tive inclinação. Tirando as várias modalidades de desenho, que estudei até minha graduação em arquitetura, nunca tive nenhuma formação em artes. A poesia, a música, a literatura, a força cênica, tudo isto, veio aos poucos-pouquinhos e pelas beiras como quem come papa quente.   Desde rapazote fazia isso muito à vontade, sempre imprimindo minha marca pessoal: Ou seja, declamava com uma manteiguinha a mais. Era a arma que eu usava para me impor diante dos colegas, aliviando toneladas de timidez.
Os livros, que hoje já somam dez, resultaram da sua paixão pela literatura aliada à cultura nordestina.
Para os meus versos caseiros nunca pensei em encadernação livresca. Somente em 1996 publicamos o primeiro livro "Paisagem de Interior" pelas Edições Bagaço. Tive uma crítica positiva do jornalista Mário Hélio, do Jornal do Commércio, profissional criterioso, e talvez tenha sido este o "lá vem ele!" para que o público leitor atentasse para a chegada de um matuto palavreiro das bandas da Paraíba. Não esperava que minhas costuras literárias, de agulha ferrugenta, fossem ter a repercussão que tiveram.
Sobre o papel da sua obra na afirmação da cultura popular, Jessier é modesto:
— Venho fazendo uma poesia campeira, digamos, respeitosa às nossas tradições e de forma renovada; além, claro, de outros ensaiozinhos poéticos, músicas e textos com uma marca muito pessoal. O fato é que, de uma hora pra outra, vi minha casinha de duas águas entre mansões literárias e sendo discutida em roda acadêmica, sala de aula, e eu próprio defendendo a causa a golpes de declamações por todo o país, em teatros, saletas e salões. Percebo, entre os ouvintes, um sentimento de ser sua própria voz embutida num poema, num causo, num gesto e isso aumenta minha carga de responsabilidade. Penso, talvez, que seja mais uma bandeira hasteada em defesa das nossas riquezas matutas, ressaltando que sigo apenas remedando e, ao meu modo, a fala dos grandes mestres: Zé da Luz, Catulo [da Paixão Cearense], Patativa [do Assaré], Zé Laurentino, José Lins do Rego, Gonzaga, Jackson, Sivuca, Jacinto Silva, Elino Julião, Manezim Araújo, Jararaca e Ratinho, repentistas, entre tantos outros .
Jessier se empolga e se emociona ao citar esses artistas populares, que ele tem como "verdadeiros símbolos da nossa resistência cultural".
Muitos desses mestres resistiram, cada um à sua maneira, às respectivas barreiras e "senões" impostas às suas obras, e nós vamos juntos. Acredito que ainda há certa resistência em alguns setores intelectualizados, com relação a essa coisa do dialetal matuto, a palavra plebéia, a deformação gramatical. No entanto, outras tradições populares, como o cordel (que não é necessariamente matuto) no meu entender, são bem respeitadas. No meu caso específico, há um elemento que quebra um pouco este ranço preconceituoso: é a presença de palco e a força declamatória. Em algumas situações, em território solene, antes de um recital, a platéia me recebe com feição de Rui Barbosa e no final me dá um abraço de cumpade.
Referindo-se aos poetas do povo, o poeta que fez ressurgir com muita força a arte declamatória em palcos pelo país inteiro, diz:
— Diferentemente do que possa lembrar, a poesia dita popular não é necessariamente algo simplório ou menos erudito. Talvez seja a que o povo elege como seu. Nessa ótica, podemos considerar Manuel Bandeira, Carlos Drummond, Vinicius de Morais e até mesmo Augusto do Anjos, de tão cantados e decantados, como sendo poetas populares. Imagino que é feito caminho de praça: o povo escolhe por onde quer passar, não necessariamente seguindo a trilha das pedras e a coisa vai por gravidade .
A obra de Jessier Quirino retrata com humor e lirismo a vida simples do povo nordestino. Povo que está no centro de todas as suas atenções e preocupações.
Tenho percebido que aqueles que têm raízes interioranas e estão fora de suas bases por questões várias, estão com o sentimento de nordestinidade e suas almas matutas no patamar das alturas. O nosso artesanato, a nossa cachaça, a culinária etc., estão sendo estampados e respeitados em todo mundo. Observo, no entanto, que, por falta de uma boa educação, de conhecimento dos seus próprios valores, os verdadeiros matutos ficam um pouco à margem dessa trilha de auto-estima. Consomem, sem orientação pedagógica, um lixo cultural da pior espécie, impostos por uma mídia cada vez mais invasiva. E aí vai uma grande parcela dos jovens citadinos como agentes contaminadores e também consumidores desorientados. Acho que falta educação, para que possamos, definitivamente, destravar estes dois torcicolos imbecilizantes, que obrigam a olhar, um para o cristal importado, o outro para o lixo nativo, esquecendo a nobreza do barro de que somos feitos.




Livros e discos na estante do poeta nordestino

Jessier nasceu em Campina Grande, passa uns dias em João Pessoa e o resto do mês em Itabaiana, onde fixou residência desde 1983. Hoje consagrado de norte a sul e de leste a oeste do país como um dos mais dignos representantes da cultura popular nordestina, tem especial interesse na causa poética e na tradição oral do seu povo. Com uma presença de palco marcante e uma extraordinária memória, Jessier conquistou o público e a crítica dos lugares por onde passou.
Jessier publicou, pelas Edições Bagaço, os livros Paisagem de interior, Agruras da lata dágua (poesia), O chapéu mau e o lobinho vermelho (infantil), Prosa morena (poesia), Política de pé de muro (folclore político popular), Bandeira nordestina e Berro Novo, além dos CDs Paisagem de interior 1 e Paisagem de interior 2.
Prosa morena, Bandeira nordestina e Berro novo vêm com um CD encartado.
Faça um fogão de quatro tijolos, ferva um caneco de café, sinta o cheiro da poesia, cutuque as oiças com o mindinho e bote o pau pra fuxicar convida o autor.

Autor:Paulo Gonçalves do Jornal A Nova Democracia