domingo, 18 de outubro de 2009

KUARUP







   O Kuarup é uma manifestação cultural dos povos indígenas do Alto Xingu – Kalapalo, Matipu, Nafukuá, Kuikuro, Waurá, Aweti, Kamayurá, Meynako e Yawalapiti – e é a maior festa indígena do país. Ele acontece anualmente no Parque do Xingu, sempre no período de estiagem. É a mais alta homenagem que esses índios prestam aos seus mortos importantes.













    Para os índios que promovem a Kuarup, os mortos são representados por troncos, fincados no pátio da aldeia promotora da festa. Nos dias em que o Kuarup acontece, interdições são levantadas e permissões são outorgadas: quem quiser, pode se casar, a moça reclusa pode ser liberta, o luto dos parentes terminará e o status definitivo será afirmado àqueles cujo falecimento se vai honrar.










   O Kuarup é realizado sempre na aldeia do morto e a família deste é a anfitriã da festa e se encarrega de prover a alimentação para as aldeias convidadas. Por isso, quando morre algum índio, os seus parentes precisam se organizar, pois a realização do ritual exige um grande aumento na produção de alimentos.









 O ritual é realizado durante dois dias. Várias atividades são executadas nos dias que o precedem :    a preparação dos alimentos derivados da mandioca, a busca dos troncos e o preparo dos ornamentos que vão, no ápice da festa, enfeitá-los.














Nos primeiros momentos da festa, tocadores de flautas uruá cantam e dançam aos pares, percorrendo todas as casas da aldeia. Os pajés fazem suas rezas aos mortos sepultados no pátio da aldeia.










Os mensageiros pariat saem convidando outras aldeias. Os troncos são enfeitados numa cerimônia que é acompanhada por choros e lamentações, que se estendem por toda a noite.









Ao final do segundo dia o Kuarup termina, com uma luta de huka-huka. Os troncos são retirados e jogados no rio ou no lago. Durante a noite de lamentações, todos os lutadores ficam acordados; eles temem dormir e ter maus sonhos. Acreditam que isso irá atrapalhar o bom desempenho na luta do dia seguinte, que começa com o raiar do sol.











Fotos de Roberto Stuckert Filho


Hakani, Enterrada Viva – A história de uma sobrevivente

Fotos Photoon e arquivo pessoal

A índia Hakani, em dois momentos. Ao lado, abraça a mãe adotiva, Márcia, no seu aniversário de 12 anos. Acima, aos 5, em sua tribo: altura e peso de 7 meses.

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HAKANI, Uma menina chamada sorriso

Hakani nasceu em 1995, filha de uma índia suruwaha. Seu nome significa sorriso e seu rosto estava sempre iluminado por um sorriso radiante e contagioso. Nos primeiros dois anos de sua vida ela não se desenvolveu como as outras crianças – não aprendeu a andar nem a falar. Seu povo percebeu e começou a pressionar seus pais para matá-la. Seus pais, incapazes de sacrificá-la, preferiram se suicidar, deixando Hakani e seus 4 irmãos órfãos.

A responsabilidade de sacrificar Hakani agora era de seu irmão mais velho. Ele levou-a até a capoeira ao redor da maloca e a enterrou, ainda viva, numa cova rasa. O choro abafado de Hakani podia ser ouvido enquanto ela estava sufocada debaixo da terra.

Em muitos casos, o choro sufocado da criança continua por horas até cair finalmente um profundo silêcio – o silêncio da morte. Mas para Hakani, esse profundo silêncio nunca chegou. Alguém ouviu seu choro, arrancou-a do túmulo, e colocou nas mãos de seu avô, que por sua vez levou-a para sua rede. Mas, como membro mais velho da família, ele sabia muito bem o que a tradição esperava dele.


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O avô de Hakani tomou seu arco e flecha e apontou para ela. A flechada errou o coração, mas perfurou seu ombro. Logo em seguida, tomado por culpa e remorso, ele atentou contra a própria vida, ingerindo uma porção do venenoso timbó. Para Hakani, ainda não era a hora de cair o profundo silêncio; mais uma vez ela sobreviveu.

Hakani, tinha apenas dois anos e meio de idade e passou a viver como se fosse uma amaldiçoada. Por três anos ela sobreviveu bebendo água de chuva, cascas de árvore, folhas, insetos, a ocasionalmente algum resto de comida que seu irmão conseguia para ela. Além do abandono, ela era física e emocionalmente agredida. Com o passar do tempo Hakani foi perdendo seu sorrido radiante e toda sua expressão facial. Mesmo assim o profundo silêncio não caiu sobre ela. Finalmente foi resgatada por um de seus irmãos, que a levou até a casa de um casal de missionários que por mais de 20 anos trabalhava com povo suruwahá.


Esse casal logo percebeu que Hakani estava terrivelmente desnutrida e muito doente. Com cinco anos de idade ela pesava 7 quilos e media apenas 69 centímetros. Eles começaram a cuidar de Hakani como se ela fosse sua própria filha. Eles cuidaram dela por um tempo na floresta, mas sabiam que sem tratamento médico ela morreria. Para salvar sua vida, eles pediram ao governo permissão para levá-la para a cidade.

Em apenas seis meses recebendo amor, cuidados e tratamento médico, Hakani começou a andar e falar. Aquele sorriso radiante voltou a iluminar seu rosto. Em um ano seu peso e sua altura simplesmente dobraram. Hoje Hakani tem 12 anos, adora dançar e desenhar. Sua voz, antes abafada e quase silenciada, hoje canta bem alto – uma voz pela vida.



Kamala e Amala, criadas por lobos!

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Certa vez, lendo o livro A árvore do conhecimento, dos biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela, espantei-me com a informação de que duas meninas de uma aldeia bengali, no norte da Índia, haviam sido criadas por lobos.


Quando elas foram encontradas, uma tinha oito anos e a outra, cinco. Obviamente, não falavam, e seus rostos eram pouco expressivos. Não sabiam andar de pé, mas se moviam rapidamente de quatro.



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  Apreciavam carne crua, tinham hábitos noturnos e repeliam o contato humano, preferindo os cachorros e os lobos. Ao serem encontradas, gozavam de perfeita saúde, 
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mas a separação da família lupina provocou-lhes profunda depressão, levando uma delas à morte.
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Mais surpreso fiquei ao ler um relato mais detalhado sobre este caso dramático, acompanhado de muitas fotos, num blog mexicano, o Marcianitos Verdes (links), de Luís Ruiz Noguez. Vale a pena acompanhar aqui a história de Kamala e Amala. Si è vero...

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjioWH8BrzJ_uV6nNw87aZm25p7Vafm5yHOFOrVnf6Ji9fr0TeWHQaBzioN46m-PRVSsWeLScP9FjTEpRBqzSTzGZ-oKi2LHnNJmplAk8q7cldgPKjb691JokBJJTskVQYLyndGO0anq7U/s400/bello.jpg
Depois disso, torna-se ainda mais discutível afirmar que existe uma "natureza humana", distinta da de outras espécies animais.
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Mais de duas mil razões para preservar




O número de plantas ameaçadas de extinção no Brasil é muito maior do que o da lista oficial. Chamada "Plantas raras do Brasil", a obra - produzida por 175 cientistas de 55 instituições nacionais e internacionais - lista 2.291 espécies de plantas que só ocorrem no território nacional. Para os pesquisadores, todas as plantas listadas no livro são consideradas ameaçadas, seja por queimadas, desmatamento ou urbanização. A lista oficial das espécies ameaçadas da flora brasileira, apresentada em 2008 pelo Ministério do Meio Ambiente, relaciona 472 espécies em perigo. País tem 15% das espécies da Terra
A publicação, resultado de uma parceria entre a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, e a organização ambientalista Conservação Internacional, aponta também 752 áreas de relevância biológica. Elas são consideradas estratégicas para a preservação da biodiversidade do país, que possui 15% da flora mundial. Por isso, são chamadas de áreas-chaves para a biodiversidade (ACBs).
O livro - cujo lançamento oficial acontecerá nesta quinta-feira, em Feira de Santana, durante o 60 Congresso Nacional de Botânica - traz outro alerta: metade dessas áreas, que cobrem 16% do território nacional, o equivalente a 140 milhões de hectares, está degradada.
- Quando se discute como combinar desenvolvimento e preservação, é fundamental termos informações confiáveis sobre a biodiversidade do país - diz José Maria Cardoso da Silva, da Conservação Internacional.
Confiáveis, mas conflitantes. Segundo o representante da Conservação Internacional, as diferenças entre os números apresentados no livro e aqueles listados pela MMA se devem ao que chama de "estratégia conservadora" do ministério.
- Na época da divulgação da lista do MMA, já houve contestação desse número de apenas 472 espécies ameaçadas - diz ele, explicando por que classifica espécies raras como espécies ameaçadas. - Nosso critério foi aceitar que se essas plantas são raras elas estão automaticamente em perigo, já que a pressão é muito grande.
A Região Sudeste é a que concentra o maior número de espécies de plantas ameaçadas, com $para os estados de Minas Gerais (550) e Rio de Janeiro (250), respectivamente primeiro e terceiro lugar da lista. A Bahia (484) vem em segundo lugar. A maior parte das plantas está no domínio da Mata Atlântica, onde vivem cerca de 70% dos brasileiros e cuja área original foi reduzida a 7,26%.
- Como há uma grande variação ambiental no país, as estratégias para a conservação dessa flo$têm que incluir grandes áreas protegidas - afirma Cardoso. - No caso da Mata Atlântica, ela exemplifica uma distribuição urbana que ocorreu sem critério. Biodiversidade da Bahia se destaca
Para contrapor isso, existem as chamadas áreas-chaves. Pela Convenção da Diversidade Biológica, da qual o Brasil foi um dos primeiros signatários, há o compromisso global de se chegar a 2010 com pelo menos 10% do planeta em áreas protegidas.
- Dificilmente o Brasil vai contribuir para que essa meta seja atingida - assegura o representante da Conservação Internacional. - Mais da metade desses corredores da biodiversidade está degradada. Na verdade, 75% dessas áreas-chave têm menos de 10% de proteção, ou seja, estão em áreas protegidas, sejam parques, reservas, terras indígenas ou Reservas Particulares de Proteção Natural.
Segundo a publicação, que vai virar também um site ( http://www.plantasraras.org.br/ ), a Bahia, que tem o segundo maior número de plantas raras (e ameaçadas), é também o estado com o maior número de áreas estratégicas.
- Isso ocorre devido à grande complexidade biológica da Bahia, onde há Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado - explica Cardoso. - O ideal era que cada estado tivesse uma política de preservação e o governo federal atuasse como um maestro dessas ações. Se nada for feito, vamos ter uma megaextinção de plantas brasileiras.


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