domingo, 17 de abril de 2011

Índios ainda conseguem manter tradições seculares em Angra

Felipe de Souza
Índios da aldeia Sapukai, em Angra, convivem com a modernidade e tradições ancestrais

Entre dois mundos: Índios da aldeia Sapukai, em Angra, convivem com a modernidade e tradições ancestrais


Na próxima terça-feira  (19) será comemorado o Dia do Índio no Brasil, primeiros habitantes da terra que começou a ser colonizada há mais de cinco séculos, quando os portugueses chegaram ao litoral brasileiro promovendo um processo de migração que se estenderia até o início do século XX, e aos poucos foram estabelecendo-se nas terras que eram ocupadas pelos povos indígenas.
O processo de colonização levou à extinção muitas sociedades que viviam no território dominado, seja pela ação das armas ou em decorrência do contágio por doenças trazidas dos países distantes, ou, ainda, pela aplicação de políticas visando a "assimilação" dos índios à nova sociedade implantada, com forte influência europeia.
Embora não se saiba exatamente quantas sociedades indígenas existiam no local que seria batizado como Brasil à época da chegada dos europeus, há estimativas sobre o número de habitantes nativos naquele tempo, que variam entre um e dez milhões de indivíduos.
Números que servem para dar uma idéia da imensa quantidade de pessoas e comunidades inteiras exterminadas ao longo desses 511 anos, como resultado de um processo de colonização baseado no uso da força, por meio das guerras e da política de assimilação.
Uma das poucas aldeias a resistirem ao passar dos séculos é a Sapukai, no Bracuhy, em Angra dos Reis. Um de seus membros é o cacique João da Silva - que atende pelo nome Verá Mirim (Relâmpago Pequeno) na língua guarani -, de 94 anos, que está na aldeia há vinte e três anos.
A reserva - que foi demarcada há vinte e três anos, segundo o cacique - ainda mantém os antigos costumes indígenas.
- Desde a chegada de Pedro Álvares Cabral a cultura, religião e linguagem já existiam. Portanto mantemos os antigos costumes, como a dança e nossos rituais. Nossas crianças aprendem primeiramente a linguagem guarani, depois dos 12 anos é que elas são alfabetizadas em português - explicou João, que veio de Santa Catarina.
- Eu morava em Santa Catarina e meus pais foram para Porto Seguro na Bahia. Cheguei aqui há vinte e três anos, quando a área foi demarcada - afirmou.
O cacique também falou sobre a situação dos índios no Brasil.
- Antigamente o índio era desrespeitado, hoje isso mudou um pouco. Nós já existíamos antes da chegada dos colonizadores. A maior dificuldade para os indígenas é a demarcação da terra.
Sobre a lenda de que os índios seriam selvagens, o cacique desmistificou o fato.
- As tribos guaranis são pacíficas, caçamos apenas para comer.
Os habitantes da reserva plantam e colhem o que é necessário, e alguns realizam a venda de artesanatos na região central de Angra dos Reis.
A aldeia Sapukai possui uma unidade de saúde, em apoio ao atendimento indígena. No local também existe uma escola para o ensino de jovens e adultos, a EJA (Educação de Jovens e Adultos) Guarani. Da reserva se têm uma vista para a paradisíaca Baía da Ilha Grande.
Data foi criada na década de 40
O Dia do índio, 19 de abril, foi criado pelo então presidente Getúlio Vargas através do decreto-lei 5540, de 1943, e relembra o dia, em 1940, no qual várias lideranças indígenas do continente resolveram participar do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. Eles haviam boicotado os dias iniciais do evento, temendo que suas reivindicações não fossem ouvidas pelos "homens brancos".
Durante este congresso foi criado o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, que tem como função zelar pelos direitos dos indígenas na América.
O Brasil não aderiu imediatamente ao instituto, mas após a intervenção do Marechal Rondon apresentou sua adesão e instituiu o Dia do Índio no dia 19 de abril.

Wagner Rodriguez
Angra dos Reis

Fonte:  Diário do Vale

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