segunda-feira, 28 de junho de 2010

Indios da etnia Dessana



Foto de V_tor Santana

A etnia Desana está localizada na bacia do Uaupés junto a outros 16 grupos indígenas. Eles se autodenominam Umukomasã. Habitam principalmente o Rio Tiquié e seus afluentes Cucura, Umari e Castanha; o Rio Papuri e seus afluentes Turi e Urucu; além de trechos do Rio Uaupés e Negro (inclusive cidades da região). Existem aproximadamente 30 divisões entre os Desana, entre chefes, mestres de cerimônia, rezadores e ajudantes. Os Desana são especialistas em certos tipos de cestos trançados, como apás grandes (balaios com aros internos de cipó) e cumatás. Sua população é estimada em 1531 indígenas.
Línguas
A família lingüística Tukano Oriental engloba pelo menos 16 línguas, dentre as quais o Tukano propriamente dito é a que possui maior número de falantes. Desse modo, o Tukano passou a ser empregado como língua franca, permitindo a comunicação entre povos com línguas paternas bem diferenciadas e, em muitos casos, não compreensíveis entre si. As outras línguas desta família são faladas por populações menores, predominando em regiões mais limitadas. É o caso do Desana em comunidades localizadas no Tiquié, Papuri e afluentes.
Características
Os Tukano compõem um sistema sócio-político flexível, cuja integração se dá através de redes de intercâmbio recíproco envolvendo visitas, trocas, casamentos e rituais. Os Tukano compartilham uma área geográfica contínua e um mesmo modo de vida básico, que inclui a caça e coleta, mas no qual predomina a pesca e a agricultura de coivara, sendo a "mandioca brava" o principal produto. Falam línguas muito próximas no que diz respeito à gramática e ao vocabulário. Esses povos têm ainda estilos de ornamentação corporal semelhantes e, embora as palavras e melodias possam ser diferentes, usam os mesmos instrumentos musicais e a sua música, danças e cantos têm uma base comum.
Os mitos explicam as origens do cosmos, descrevendo um mundo perigoso e indiferenciado, sem limites precisos de tempo e espaço, sem diferença entre gente e animal. As narrativas míticas explicam como os feitos dos primeiros seres geraram as feições da paisagem e como o mundo se tornou paulatinamente seguro para a emergência dos verdadeiros seres humanos. Essas narrativas compartilhadas entre os povos do Uaupés expressam uma compreensão comum do cosmos, do lugar dos seres humanos nele e das relações que deveriam existir entre diferentes povos, bem como entre eles e outros seres. Para eles, O universo é feito de três camadas básicas: céu, terra e "mundo inferior". Cada camada é um mundo em si, com seus seres específicos e podendo ser entendidos tanto em termos abstratos como concretos.
Cada um dos grupos indígenas tem direitos sobre um território específico ou trecho de rio com características e potenciais diferentes. Cada grupo é tradicionalmente associado à produção de artefatos específicos; assim, os Desana fabricam cestos, os Tuyuka canoas etc. Essa produção especializada constitui um aspecto da identidade grupal e mobiliza os cerimoniais de troca que são um dos principais componentes das atividades rituais características da região. Em tais festas, os diferentes grupos se reúnem para dançar, beber caxiri, exibir os seus ornamentos de penas, recitar as linhagens de seus antepassados e trocar os seus produtos.


Organização Social
Os indivíduos tukano pertencem ao grupo de seu pai e falam a sua língua, mas devem se casar com membros de outros grupos, idealmente falantes de outras línguas. Externamente, os grupos são equivalentes, mas distintos; internamente, cada um consiste em um número de clãs hierarquicamente ordenados. Os clãs de mais alto grau tendem a viver em lugares mais favoráveis nas partes mais baixas dos rios, enquanto os clãs de menor grau freqüentemente vivem nas áreas de cabeceiras ou as partes mais altas dos rios. A classificação do clã também tem os seus correlatos rituais: os clãs de posição mais alta, são "chefes" que patrocinam os principais rituais e controlam os ornamentos de dança do grupo e os Yurupari; os clãs de posição mediana são especialistas de danças e cânticos; abaixo deles são os xamãs; e o grau mais baixo é ocupado pelos clãs servos que por vezes são identificados com os semi-nômades Maku que vivem nas zonas interfluviais.
Quando uma mulher se casa, ela deixa a sua maloca natal e vai morar junto com seu marido. Simbolicamente, a maloca reproduz em miniatura o universo e seus habitantes constituem tanto uma réplica quanto um precursor do ideal de organização clânica acima descrita. Seguindo essa lógica, o filho mais velho e irmão maior é geralmente o chefe da maloca, e não raro os seus irmãos menores são dançarinos, cantadores ou xamãs, cujos papéis costumam corresponder à ordem de nascimento. Esses líderes são indivíduos que possuem um grande conhecimento esotérico e se mobilizam para manter e aumentar os bens sagrados de sua maloca, podendo disponibilizar os recursos necessários para patrocinar os rituais. Tais capacidades rituais prestam-se a fortalecer sua posição política.

O ciclo da vida
Os Tukano compartilham uma noção de reencarnação segundo a qual, quando uma pessoa morre, um aspecto de sua alma volta para a "casa de transformação", local de origem do grupo. Depois, a alma volta ao mundo dos vivos encarnada em um recém-nascido que recebe o seu nome. As pessoas recebem o nome de um parente recentemente falecido do lado paterno. Cada grupo possui um conjunto limitado de nomes pessoais que vão sendo retransmitidos a cada geração. O aspecto visível dessas "almas-nomes" são os cocares de penas usados pelos dançarinos, que também são enterrados com os mortos. As mulheres não dão à luz na maloca, mas numa roça no interior da floresta, rio acima e atrás da casa. O recém-nascido é primeiramente lavado no rio e depois levado para dentro da maloca pela porta traseira, a "porta das mulheres". Confinado dentro da casa por cerca de uma semana com seu pai e mãe, ele é então banhado de novo no rio e recebe um nome.


Especialistas religiosos
Entre os Tukano, a religião não é concebida como um domínio discreto, mas sim como uma dimensão de todo conhecimento, experiência e prática. Para sobreviver e prosperar, bem como assegurar o bem-estar de si e de sua família, todos os adultos precisam de alguma habilidade para manejar e controlar as forças de criação e destruição que os cercam. Os homens adultos devem conhecer tanto os recursos naturais do território quanto suas propriedades espirituais, combinando afazeres rotineiros com procedimentos rituais, com competência tanto para caçar e pescar quanto para fazer encantações para que a carne e o peixe possam ser comidos com segurança. De modo semelhante, as mulheres devem controlar a esfera material e espiritual de produção e reprodução de suas roças, cozinhas e corpos, como uma totalidade integrada. Na Amazônia, freqüentemente se referem aos especialistas rituais com poderes especiais e acesso a conhecimentos esotéricos como "xamãs".
Para agir com êxito todos os homens adultos devem ser em alguma medida xamãs. Aqueles que são reconhecidos publicamente como tal têm maior conhecimento ritual e uma habilidade especial para "ler" o que está por trás das narrativas sagradas, optando por desenvolver habilidades e conhecimento em favor dos outros, sendo reconhecidos como especialistas. Assim, os "xamãs" são aqueles que se destacam dos demais - mas sempre há outros esperando nos bastidores. Com raras exceções, os especialistas rituais são homens - mas a capacidade das mulheres de menstruar e gerar filhos é considerada como o equivalente feminino ao poder dos homens sobre os ornamentos de penas e os Yurupari. Assim, é possível dizer que se os homens adquiram as suas habilidades xamânicas através da cultura, as mulheres já são "xamãs" por natureza. Não é de se admirar então que, na mitologia tukano, o Povo do Universo, os heróis ancestrais que abrem o caminho para a criação da humanidade, sejam gerados por uma divindade feminina conhecida como "A Velha da Terra" em Tukano e Desana.


Ritual
O ciclo anual é pontuado por uma série de festas coletivas, cada uma com seus cantos, danças e instrumentos musicais apropriados, que marcam eventos importantes do mundo humano e natural - nascimentos, iniciações, casamentos e mortes, a derrubada e o plantio de roças e a construção de casas, as migrações dos peixes e pássaros, e a disponibilidade de frutas silvestres e outros alimentos colhidos. Essas assembléias rituais são denominadas "casas", termo que significa ao mesmo tempo um evento ritual, um grupo de pessoas e um mundo simbólico. As festas assumem três formas básicas: caxiris (festas de cerveja), dabukuris ou intercâmbio cerimonial, e os ritos de Yurupari envolvendo flautas e trombetes sagrados.
Os rituais envolvendo os instrumentos musicais sagrados de Yurupari são a expressão mais plena da vida religiosa dos índios, pois englobam e sintetizam vários temas-chave: ancestralidade, descendência e identidade grupal, sexo e reprodução, relações entre homens e mulheres, crescimento e amadurecimento, morte, regeneração e integração do ciclo de vida humano com o tempo cósmico. Quando os instrumentos estão juntos e são tocados, o ancestral volta à vida, de modo que aqueles que os tocam assumem as identidades dos ancestrais clânicos e entram em contato direto com seus respectivos pais (originários). Esse processo anula a separação vigente entre passado e presente, mortos e vivos, ancestrais e descendentes, restabelecendo a ordem primordial dos mitos de origem. Os instrumentos Yurupari somente podem ser vistos e manuseados pelos homens adultos.
Há dois tipos de ritual de Yurupari, um evento anual mais sacralizado e elaborado que marca o começo do ano, e o outro realizado periodicamente durante o ano para marcar a maturação de diferentes espécies de frutos de árvores. No segundo, os homens de uma comunidade presenteiam os de uma outra - geralmente os seus irmãos - com grandes quantidades de frutos silvestres, trazendo-os para o interior da casa acompanhados dos sons berrantes dos trombetes enquanto as mulheres e crianças permanecem atrás de telas nos fundos. Ao anoitecer, as telas são removidas e as mulheres voltam a se juntar aos homens. Eles dançam a noite inteira até amanhecer e então distribuem os frutos entre os presentes.
Como na agricultura de coivara, na qual a fertilidade e a vida humana vêm da queima anual da floresta, esse conjunto de mito e ritual significa que vida e morte se sucedem como as estações, que os humanos mortais alcançam a imortalidade através de seus filhos, que a periodicidade das mulheres é como a das estações, que o crescimento dos homens e das árvores resultam de um único processo, e que, no final das contas, a fertilidade dos seres humanos e do cosmos estão interligadas em um grande sistema.

Fonte:Agência de Notícias Cavaleiro de Jorge e Asjor.
Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros

domingo, 27 de junho de 2010

Assine a nova petição para proteger as florestas brasileiras.

Filie-se

Olá, ciberativista
Código Florestal: o jogo segue

É época de Copa, as atenções de todo o mundo estão voltadas para a África do Sul. Mas, a mobilização para impedir mudanças no Código Florestal continua. Aqui no Brasil, da-lhe vuvuzela no ouvido dos políticos.
Assine a nova petição para proteger as florestas brasileiras.
Assine a petição
No dia 28 de junho, Comissão Especial da Câmara criada para botar abaixo o Código Florestal vai votar o projeto. É a nova oportunidade que temos de dizer não. Agora, a bola está nos pés do deputado Michel Temer (PMDB-SP). presidente da Câmara dos Deputados, ele pode brecar a investida da bancada ruralista contra nossas florestas. Como candidato à vice-Presidência do país, é a hora de exigirmos de Temer seu posicionamento sobre uma lei que vai determinar se o verde de nossa bandeira continuará a existir.

Não é exagero. Caso a proposta da bancada ruralista seja aprovada, pelo menos 85 milhões de hectares de floresta que hoje estão protegidos por lei vão ficar vulneráveis às motosserras. Num cálculo conservador, essa brecha faz com que 31,5 bilhões de toneladas de CO₂ saiam das matas brasileiras direto para a atmosfera. São sete vezes mais do que a meta de redução com que o governo brasileiro se comprometeu mundialmente até 2020.
Além de legitimar mais desmatamento para o futuro, o relatório ainda anistia quem devastou ilegalmente no passado. E passa para os estados o poder de decidir como bem entender as áreas que devem ou não ser preservadas. Inúmeros pesquisadores foram à imprensa dizer que a nova proposta é a sentença de morte para nossas florestas. E como consequência, também dos rios e do equilíbrio climático mundial.
Por isso, como brasileiros, é nosso dever defender que o Código Florestal permaneça intocado. O ano eleitoral já começou. Exija que o tema saia das quatro paredes, onde deputados em fim de mandato tentam decidir sozinhos o futuro do país. Peça a Michel Temer que pare a proposta dos ruralistas e que torne o Código Florestal um assunto a ser amplamente debatido durante as eleições. Não só entre políticos, mas, principalmente, pela população. Vuvuzela neles!
Rafael Cruz
Abraços,
Rafael Cruz
Rafael Cruz
Coordenador de campanha
Greenpeace




sábado, 19 de junho de 2010

Indios da etnia Nambikwara

Famosos na história da etnologia brasileira por ter sido contactado "oficialmente" pelo Marechal Rondon e estudados pelo renomado antropólogo Claude Lévi-Strauss, os Nambikwara hoje vivem em pequenas aldeias, nas cabeceiras do Juruena, Guaporé e (anteriormente rios) Madeira .
Introdução
Linguagem
Os dados populacionais
História do contato
Grupos e critérios de adesão
Ritual da puberdade feminina
aspectos Contemporânea (Mamaindê)
Fontes de informação

Eles habitam tanto o cerrado ea floresta amazônica, bem como as áreas de transição entre estes dois ecossistemas. Os Nambikwara ocuparam uma extensa região no passado e mostrou uma acentuada mobilidade espacial. Possuindo uma cultura material aparentemente simples e uma cosmologia universo extremamente complexo e cultural, os Nambikwara ter preservado sua identidade através de uma mistura de indiferença e de abertura para o mundo.

  • Outros Nome:  Nambiquara

  • Onde estão: Mato Grosso, Rondônia

  • Quantos 1,682 (Renisi, 2008)

  • Família Linguística: Nambikwara







"Eu olhei para uma sociedade reduzida à sua expressão mais simples. Nambikwara do que foi o ponto que eu encontrei apenas os homens. " Claude Lévi-Strauss, Tristes Trópicos.

Vocabulário "Nhambiquara"
Tarefa difícil é a obtenção de vocabulários de uma tribo como a dos Nhambiquaras, que se tem conservado fora do contato dos civilizados. Não se pode contar, nem ao menos, com o concurso de intérpretes indígenas. E, assim, nunca se tem a certeza de que o índio tenha compreendido exatamente o que se lhe pergunta, nem de que a sua resposta seja a mais adequada. Também muito embaraçosa, porque toda pessoal, é a questão da grafia do que se tem por bem ouvido. Os seguintes vocábulos foram conseguidos dos índios do Juína:                Português           Nambiquara
(grafia atualizada)   (grafia do original)
mão                   - naïquecê
  peito                 - nônocá
  nariz                 - nouánênê
  olho                  - nôssenê
  orelha                - urêia (1)
  que é isto?           - irunditiá
  sol                   - iruquecê




   Índios de Campos Novos:
cabelo - toaïniquecê olho - toaïentsê fronte - toaïanaquicê nariz - toaïnequetancê boca - toaïucê barba - toaïtucê dente - toaïecê língua - toaï-hu-herê orelha - toaïnanecê pescoço - toaïerecê peito - toaïnocacarê saliência mamária - toaïnunquecê costela - toaïnintecê clavícula - toaïcracecê ventre - toaïcatanicê umbigo - toaïnentecê pênis - toaïquicê testículos - toaïquinancê coxa - toaïniquicê perna - toaïcucecê pé - toaïnquicê mão - toaïtolocê polegar - toaïtacê indicador - toaïquetecê dedo médio - toaïquenôráneacê anular - toaïquidutecê dedo mínimo - toaïquecacê unha - toaïcanaquecê faca - iurê rifle - uquecê terçado - odiguenacacaicê arco - duducacê flecha - arainzê colar - iêriquicê contas do colar - caunriquecê cordão - areinancê roupa - uárinquárinzê pano - cuinanzê palha do teto - hêrênanzê couro - unuterararê pau - issucê chifre - ununatacê caneco - catecê mesa - ericorocê fogo - anicê terra - inquinecê sol - utianezê algodão - cunhatecê feijão - cadaquenacê fumo - etecê milho - queiáquicê farinha - oriquenazê açúcar - duiacê água - hôreacê homem - nhaurarocê trabalhador da Comissão*- toánucê mulher - êdarudacê criança - oáidicê cachorro - oáirurê remédio - oraireacê branco - êcênanzê amarelo - uaicêdiceditenanzê azul - uaiúreúquenazê preto - uáririrê vermelho - ôrêhedenazê sim - eraintenezê não - raintecê

(1) Bem se percebe, nesse vocábulo, alguma influência próxima ou remota dos civilizados.
[*] Comissão de Linhas Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas.

"Instituto Socioambiental (ISA)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ministro da Justiça dá (mal) prosseguimento a acordo com AIR

O ministro da justiça, Luiz Paulo Barreto, deu cumprimento ao seu acordo com os índios do Acampamento Indígena Revolucionário ao enviar o Memorando 1375 à presidência da Funai ordenando que seja criada uma unidade gestora como Coordenação Regional na cidade de São Luís e que sejam movidas as coordenações regionais de Maceió para Garanhuns e de Chapecó para Curitiba.

A coisa complicou. Acho que o ministro fez isso em acordo tácito com as possibilidades da atual direção da Funai, que não quer mexer muitos pauzinhos para criar três novas coordenações regionais. Três novas coordenações regionais precisarão de 3 DAS3, 3 DAS2 e 9 DAS1. Compromentimentos políticos em Brasília dificultariam essas disponibilizações, daí porque a atual direção da Funai vem tentando convencer as lideranças indígenas a esperar a criação de novos DAS por medida provisória do presidente Lula. É claro que as lideranças indígenas não aceitam isso porque é, mais uma vez, enrolação.

Pior: problema ainda mais evidente é que nem os índios de Alagoas vão aceitar isso, nem tampouco os de Chapecó!

Que enrascada!

Aló, alô, Ministro Luiz Paulo, fala sério! O acordo foi outro e esse emenda é pior do que o soneto!




Fonte: Blog do Mércio

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Indios da etnia Avá-Canoeiro





Eles eram milhares, hoje são pouco mais de 20
Crianças Avá de
 Minaçu(GO) e da Ilha do Bananal (TO)
OS Avá-Canoeiros são um povo tupi que ocupava amplos domínios, ao longo do médio e baixo rios Tocantins e Maranhão, atualmente parte Estado de Goiás e parte Estado do Tocantins. Chegaram a somar 5 mil pessoas, porém, hoje somam apenas 22 indivíduos, distribuídos na reserva de Minaçu, em Goiás, e Ilha do Bananal, no Rio Araguaia, no Tocantins. São um povo em extinção e um retrato desses 500 anos de Brasil.



FRENTES de contato da Fundação Nacional do Índio (Funai) tentam há 10 anos encontrar outros avás no nordeste goiano e sudoeste tocantinense, mas nenhum 'novo' índio foi localizado. Em outra frente, o Instituto de Pré-História e Antropologia da Universidade Católica de Goiás (UCG) e o chefe do posto da Funai de Minaçu, Valter Sanchez, vêm promovendo encontros entre os dois grupos, em uma tentativa de aproximá-los, estreitar as amizades e, quem sabe, poder ver, em alguns anos, casamentos entre os adolescentes, o que pode significar uma esperança de perpetuação desse povo.



OS DOIS grupos têm a mesma história triste e violenta. A situação atual é resultado de séculos de guerra dos canoeiros - nome dado graças à sua habilidade de usar canoas - contra as sucessivas levas de homens brancos que, munidos do diferencial de terem armas de fogo, invadiram suas terras para transformá-las em fazendas.




 ESSA invasão começou a ganhar força no século 18 e gerou tantos confrontos e genocídios que, já em 1860, os avás estavam tão reduzidos que não podiam mais lutar contra os invasores. Mesmo assim, a coragem e a determinação canoeiras iriam atravessar o tempo. Cem anos depois - na década de 60 do nosso século - as lutas continuavam. Foi, então, em Campinaçu, norte de Goiás, que aconteceu o último e definitivo episódio contra a nação canoeira. Fazendeiros armados até os dentes fizeram uma emboscada contra a última aldeia avá que ainda existia e promoveram um genocídio. Eram centenas de índios, mas só sobreviveram os poucos que conseguiram fugir, entre eles alguns dos dois grupos de hhoje. Desde, então, tornaram-se o que Dulce chama de "povo invisível", pois passaram a não deixar pistas e nem a ser vistos.



O GRUPO DE MINAÇU é inteiramente avá e foi contatado em 1983, perto da aldeia atual. Vive na reserva de 38 mil hectares, junto ao Rio Tocantins, dos quais 3 mil foram ocupados pela usina hidrelétrica de Serra da Mesa, que lhes paga royalties. Têm casas de alvenaria, comida boa, assistência e os seus cachorros têm até carteira de vacinação. Com quatro adultos, um adolescente e uma criança, são, a começar dos nomes (Iawi, Tuia, Nakwatxa...), a memória viva do que sua nação foi um dia. São eles também os únicos que ainda falam um pouco da língua avá, mantêm alguns dos rituais e plantam e caçam. Contudo, as constantes fugas pelo mato e o fato de os bebês chorarem e denunciaram suas presenças fizeram com que o grupo passassem a evitar filhos. Depois do nascimento dos dois jovens (Trumak, 11 anos, e Putdjawa, 9), decidiram não ter mais filhos. E não falam mais sobre o assunto.



BLOG do netunoO GRUPO DA ILHA do Bananal, no Rio Araguaia, vive uma situação menos confortável e mais aculturada. Apareceram para a sociedade nacional em dois momentos. Em 1973, cinco deles foram contatados e, um ano depois, outros quatro apareceram. Eram seis adultos e três crianças. Após alguns meses, quatro dos adultos morreram de gripe. Os sobreviventes foram transferidos de lugar para lugar até serem colocados em definitivo na aldeia de Canoanã, no Bananal, onde vários povos indígenas convivem. Com o tempo, misturaram-se com alguns deles, particularmente os Javaés e os Tuyás, o que resultou em novos filhos - todos batizados com nomes de brancos, como Angélica, Cilene e Diego. 





  DE INÍCIO não foi fácil. Os Javaés não aceitavam os canoeiros, pois sempre foram inimigos históricos. Aos poucos, o quadro mudou. Os avá foram ocupando seus espaços, mas isso não impediu que, ainda hoje, sejam discriminados e tratados como subalternos e que vivam na miséria e no abandono. A sua dieta, por exemplo, entre ano sai ano, se resume ao máximo a arroz, farinha e peixe. Os mais antigos sonham em viver na Mata Azul, uma exuberante formação vegetal no sul do Estado do Tocantins, onde seus antepassados, que viveram dias de glória ali, estão sepultados. A área, contudo, já foi incorporada ao 'sistema produtivo nacional'.



NESSE contexto, parecem não haver motivos para que os avá do Bananal não queiram ir para a reserva em Minaçu, como propõe a UCG e o posto da Funai local, mas as coisas não são tão simples. Mesmo com origens comuns, os dois grupos tiveram destinos diferentes, o que resulta em nuances de valores, identidades e convivências. "É preciso promover encontros periódicos para que os vínculos sejam maiores", explica Dulce. Os resultados desses esforços só serão revelados pelo futuro. Os dois grupos podem tornar-se mais que amigos, porém nada garante que vão se unir e virar parentes. Em todo caso, se unirem, as chances de não se extinguirem como nação indígena continuarão pequenas; se não se unirem, a extinção torna-se uma questão de tempo. Pouco tempo.



[ava_canoeiro.jpg]

O GRUPO DE MINAÇU é inteiramente avá e foi contatado em 1983, perto da aldeia atual. Vive na reserva de 38 mil hectares, junto ao Rio Tocantins, dos quais 3 mil foram ocupados pela usina hidrelétrica de Serra da Mesa, que lhes paga royalties. Têm casas de alvenaria, comida boa, assistência e os seus cachorros têm até carteira de vacinação. Com quatro adultos, um adolescente e uma criança, são, a começar dos nomes (Iawi, Tuia, Nakwatxa...), a memória viva do que sua nação foi um dia. São eles também os únicos que ainda falam um pouco da língua avá, mantêm alguns dos rituais e plantam e caçam. Contudo, as constantes fugas pelo mato e o fato de os bebês chorarem e denunciaram suas presenças fizeram com que o grupo passassem a evitar filhos. Depois do nascimento dos dois jovens (Trumak, 11 anos, e Putdjawa, 9), decidiram não ter mais filhos. E não falam mais sobre o assunto.



O GRUPO DA ILHA do Bananal, no Rio Araguaia, vive uma situação menos confortável e mais aculturada. Apareceram para a sociedade nacional em dois momentos. Em 1973, cinco deles foram contatados e, um ano depois, outros quatro apareceram. Eram seis adultos e três crianças. Após alguns meses, quatro dos adultos morreram de gripe. Os sobreviventes foram transferidos de lugar para lugar até serem colocados em definitivo na aldeia de Canoanã, no Bananal, onde vários povos indígenas convivem. Com o tempo, misturaram-se com alguns deles, particularmente os Javaés e os Tuyás, o que resultou em novos filhos - todos batizados com nomes de brancos, como Angélica, Cilene e Diego.




"Histórias de Avá, o povo invisível" (diretor Bernardo Palmeiro)






A história da tribo Avá-Canoeiro, ameaçada de extinção. O filme mostra a busca de outros quatro grupos que ainda vivem isolados na região, sem nenhum contato com o branco (a 500 quilômetros da capital). E o esforço na tentativa de preservar sua cultura.
Reprodução autorizada mediante citação da TV Câmara





Algumas palavras do Vocábulo dos avá-canoeiros





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