domingo, 20 de setembro de 2009

Índios isolados no Acre correm risco de desaparecer, alerta indigenista

Devastação no Peru empurra tribos para o Brasil, diz José Carlos Meirelles.
Invasão de território pode causar confronto entre comunidades.


Iberê ThenórioDo Globo Amazônia, em São Paulo


As últimas comunidades indígenas brasileiras que nunca tiveram
contato com o homem branco correm risco de desaparecer. Elas
vivem no Acre, na divisa com o Peru, e suas terras estão sendo
invadidas por tribos peruanas também isoladas, que fogem da ação
de madeireiros em seu país.
Segundo o sertanista José Carlos Meirelles, que há
20 anos monitora as três tribos brasileiras que vivem sem
contato, a invasão dos territórios pode causar conflitos entre
os povos. “O pau pode estar comendo dentro do mato e a gente não
vai nem ficar sabendo”, afirma.

Foto: Gleylson Miranda/Funai

 

Tribo isolada que foge para o Brasil tem cerca de
80 pessoas. (Foto: Gleylson Miranda/Funai)

Meirelles, que vive na região e sobrevoa essas tribos pelo menos
uma vez por ano, conta que os índios peruanos começaram a
aparecer no território brasileiro há cerca de dois anos. Ele diz
que é muito difícil de ver as pessoas durante os vôos, mas pelo
número de malocas avistadas calcula que a tribo estrangeira
tenha cerca de 80 indivíduos. “Quando o avião chega perto deles,
eles desaparecem. Alguém de avião já deve ter dado tiro, soltado
bomba”, avalia.

Foto: Gleylson Miranda/Funai

Como nunca tiveram contato com brancos ou mesmo índios de outras
etnias, os povos isolados do Peru encaram todos que encontram
como inimigos. “Eles chegam aqui, vêem os brancos e pensam que
são os madeireiros, iguais aos de lá. Aí eles atacam a gente,
com toda razão”, relata o sertanista, que já foi alvo de flechas
dos indígenas.
Além dos índios brasileiros isolados, outras
tribos que vivem na região também correm perigo. Em entrevista
ao Globo Amazônia, os líderes indígenas Moisés
e Bekni Ashaninka, que também moram no Acre, relataram que temem
conflitos com os isolados, já que eles os confundem com índios
da mesma etnia que trabalham no desmatamento no Peru.
Segundo Meirelles, que trabalha para a Fundação
Nacional do Índio (Funai), o governo brasileiro pouco pode fazer
além de pressionar o Peru para fiscalizar a retirada ilegal de
madeira em seu território. Ele diz que o lado brasileiro já está
todo demarcado com terras indígenas, e não há ameaças deste
lado. “Os índios estão vindo de lá para cá porque aqui está
tranqüilo”, afirma.Para o sertanista, a melhor forma de os
brasileiros ajudarem a evitar o conflito entre as tribos é
pararem de comprar mogno, desestimulando a atividade madeireira
na região. Essa madeira é o principal produto retirado das
florestas peruanas. No Brasil, o corte da espécie já é proibido.


fonte:globo.com

 


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