A partir de dezembro Mato Grosso passará a contar com mais 280 profissionais preparados para o exercício da docência (magistério intercultural). Ao longo de cinco anos, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) – juntamente com entidades parcerias como Funai, Secretarias Municipais de Educação, Conselho de Educação Indígena, e os Institutos Mawu e Oprint, trabalhou na formação desses profissionais por meio do projeto Haiyô. Hoje, Mato Grosso conta com 66 unidades estaduais destinadas ao atendimento de 31 comunidades indígenas.Juarez Paimy, do povo Rikbaktsa, da cidade de Brasnorte, é um desses novos profissionais. Ele conta que as dificuldades superadas foram inúmeras para conclusão dos cinco anos de formação. Cita, por exemplo, o fato de não possuir na época do início das aulas do Projeto Haiyô, o ensino fundamental completo. “Entretanto, ajudei na construção das políticas e hoje já atuo como professor titular em minha aldeia”. Na Escola Estadual Indígena Myhinykyta Skiripe ele leciona para 46 estudantes de 6 a 18 anos. Ele avalia ainda que “o respeito e a autonomia para com as comunidades tornaram-se um diferencial em Mato Grosso”. São empregados para o processo de ensino e aprendizagem uso das línguas nativas e de metodologias adequadas, além de calendário diferenciado e materiais didáticos específicos.Ele fala que “o Juarez de hoje e o de cinco anos atrás não são os mesmos”. E ainda completa “a cabeça mudou muito. Estou terminando o projeto, sendo diplomado. Dentro da comunidade a minha situação também é diferente, já que o professor é um espelho dos anseios do povo. A comunidade pede ajuda para o cacique e à mim também. Tenho consciência de que vivemos em um mundo globalizado e é fundamental manter o respeito às culturas, mas sem perder as oportunidades que nos são ofertadas”, sintetiza.
Os participantes do Projeto Haiyô foram previamente escolhidos nas respectivas aldeias e o programa foi pensado em dez etapas para que o processo de formação fosse realizado com um currículo completamente diferenciado respeitando as especificidades do público.Para 2011Em consonância à implantação de uma nova política educacional visando a descentralização e autonomia às escolas indígenas em Mato Grosso, em 2011 caberá às unidades o trabalho de formação dos novos profissionais.
A expectativa, conforme o coordenador da Educação Indígena em Mato Grosso, Félix Aduboenau, “os indígenas estarão implementando autonomia tanto na área educacional, como administrativa e pedagógica. Nós já temos o primeiro curso em Ensino Médio Integrado em funcionamento na região de Confresa, com o povo da aldeia Tapirapé”.Todo o recurso a ser empregado na formação será descentralizado para a escola. A implantação dessa nova política de formação contempla o fortalecimento das práticas democráticas. “Tenho certeza de que se trata de um marco na política educacional pautada no respeito às especificidades do seu público. O professor, por muitas vezes, acaba se distanciando de suas origens e tenho a certeza de que esse novo modelo promove a ratificação cultural", finaliza Félix Aduboenau.