quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Obra do Madeira esbarra em tribos indígenas


Há três semanas, máquinas do consórcio Madeira Energia iniciaram as obras para a construção da hidrelétrica de Santo Antônio,

Usina-Hidrelétrica-Santo-Antônio,-no-Rio-Madeira,-em-Rondônia-2_Marcello-Casal-JR-ABr no Rio Madeira, em Rondônia, um dos principais empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas a obra, orçada em cerca de R$ 10 bilhões e considerada essencial para se evitarem apagões, pode esbarrar em um problema de cunho antropológico e até sofrer atrasos. Relatório interno da Fundação Nacional do Índio (Funai) obtido pelo GLOBO aponta referências a, pelo menos, cinco grupos de índios isolados na área de abrangência da usina.
Um dos grupos estaria a apenas 14 quilômetros do canteiro central da hidrelétrica. Eles viveriam numa área já considerada de uso restrito, chamada Jacareúba Katawixi. Referências são indicações da existência de grupos indígenas que nunca tiveram contato com não-índios. Pelo entendimento interno da Funai, índios isolados não devem ser contatados, a menos que estejam sob risco de morte. Experiências anteriores mostram que o encontro entre índios isolados e não-índios é desastroso, devido ao choque cultural e à transmissão de doenças, entre outros problemas.
- Se for constatada a presença dos índios, as obras não seguirão o calendário deles (empresas do consórcio Madeira Energia, as principais sendo a Odebrecht e a estatal federal Furnas) – afirmou Elias Bígio, coordenador-geral de Índios Isolados da Funai.


A informação sobre referências de índios tão próximos do canteiro de obras surpreendeu o gerente de Sustentabilidade do Madeira Energia, Ricardo Márcio, encarregado de ajustar o empreendimento às exigências socioambientais. Márcio disse que sabia das referências aos índios isolados e que o Madeira já se comprometera a financiar as expedições para confirmar a presença deles. Mas ele sustenta que a Funai nunca mencionou indícios da existência de índios em Jacareúba Katawixi.
- Gostaria que a Funai nos formalizasse isso. Quatorze quilômetros não são nada. Isso muda tudo – disse o executivo.
Brasil pode ser condenado por crime, diz sertanista
O sertanista Sidney Possuelo, ex-presidente da Funai e um dos maiores especialistas do país no assunto, é ainda mais incisivo. Para ele, é inaceitável que a Funai tenha concordado com a liberação das obras antes mesmo de iniciar os estudos de campo para checar a presença dos índios na região. Possuelo entende que a construção da hidrelétrica deve ser suspensa imediatamente. Caso contrário, o governo federal pode ser denunciado em tribunais internacionais por um possível massacre de povos indefesos.
- O governo pode ser condenado em fóruns internacionais por ações imprevidentes contra povos indígenas. Por isso, pesa grande responsabilidade para a Funai em bater o pé e dizer: não tem canteiro de obras até que se verifique se os índios existem.
As referências aos índios isolados constam no documento “Plano de Trabalho”, elaborado pelos servidores da Funai Ester Silveira, Antenor Vaz e Altair Algayer em 14 de julho, um mês antes de Ibama e Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) liberarem as obras. Pelo relatório, “os grupos isolados e as terras onde habitam, passíveis de serem atingidos” pela usina, estão localizados às margens esquerda e direita do Rio Madeira. Três grupos viveriam em Rondônia e outros dois habitariam trechos da floresta no estado do Amazonas.
Entre estes grupos estariam cerca de 150 índios sirianós e um número não calculado de índios uru weu wau wau. Sobre os demais grupos, a Funai diz nada saber. Por falta de informações seguras, todos eles aparecem nos estudos vinculados aos números 12, 45, 46 e 47. São as referências geográficas de onde estariam vivendo esses índios. Um deles é associado à sigla “s/n”, ou seja, seria um grupo sobre o qual ainda não se tem idéia da localização.

- Existem referências de índios na terra Jareúba Katawixi. Essa terra está a 14 quilômetros do lugar onde vai ser construído o canteiro de obras. Essa área sofrerá impacto direto. Mas a definição de áreas indígenas só pode ser feita depois da conclusão dos estudos – argumentou Bígio, da Funai.
Em março deste ano, representantes da Funai e do Madeira acertaram que o consórcio financiaria expedições para localizar, identificar e definir medidas de proteção aos índios isolados. Esta seria uma das condicionantes para a concessão da licença ambiental. Mas a promessa ainda não saiu do papel, e, para a Funai, não há mais condições técnicas de iniciar as expedições neste ano.
Funai foi favorável ao início das obras, afirma Ibama

Estudos dessa natureza demoram de dois a três anos. As expedições devem localizar os índios, descobrir hábitos e costumes e, a partir daí, definir as áreas de que necessitam para a sobrevivência. Cada grupo tem suas peculiaridades.
- O Brasil está na base do “tudo ao mesmo tempo agora”, tomando decisões ligeiras premido por previsões catastróficas do tipo novos apagões, e beneficiando empreiteiros queixou-se o procurador regional (Rondônia) da República, Alexandre Camanho.
A Aneel informou que concedeu licença a partir de relatório de impacto ambiental favorável do Ibama. Em nota, o Ibama transfere à Funai a responsabilidade sobre a questão indígena. Segundo o Ibama, a licença só foi assinada “após a manifestação favorável daquela Fundação”. No texto, acrescenta que “não houve oposição por parte do órgão competente para a continuidade do processo, apenas foi recomendada a implementação do plano por ele elaborado, que foi acatado”.
Fonte: O Globo

Informação interessante sobre a existência de índios isolados nas proximidades do canteiro de obras da UHE Santo Antônio, no rio Madeira:
O Parecer Técnico n.º 014/2007 do Ibama, que negou a Licença Prévia para as usinas do Madeira, na p. 103, afirma: “Os Katawixi, por outro lado, estão mais próximos que qualquer outro grupo indígena identificado no EIA, cerca de 9 km.” Na conclusão, o mesmo documento reitera: “Neste sentido, é necessário ampliar o diagnóstico e incorporar os assentamentos da reforma agrária Joana D’Arc I, II e III, em processo de legalização pelo Incra/RO, comunidades ribeirinhas como Porto Seguro e Engenho Velho, e outras identificadas nas Audiências Públicas e no Relatório oferecido pelo Ministério Público; a adequada identificação e caracterização das pessoas que sobrevivem da atividade garimpeira; A Terra Indígena Jacareúba/Katawixi, no Estado do Amazonas, os povos indígenas Kaxarari, na região de Extrema, os indígenas sem-contato do igarapé Karipuninha e outros povos presentes na real área de influência direta/indireta; a incorporação das áreas a jusante como potencialmente impactadas, a caracterização destes impactos e as medidas de mitigação cabíveis; e demais aspectos considerados neste Parecer.”

Rio Madeira (RO) - foto ONG Rio Madeira Vivo 

Povos indígenas representam um terço da população mais pobre do mundo, diz ONU

Os índios representam cerca de um terço das 900 milhões de pessoas que vivem em extrema pobreza em áreas rurais no mundo, segundo o primeiro relatório mundial sobre a situação dos povos indígenas da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado nesta quinta-feira, no Rio. Baseado no Censo de 2000, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o estudo afirmou que há cerca de 370 milhões de índios no mundo.
"A situação crítica é pobreza, analfabetismo e indígenas que não são reconhecidos pelos seus governos em algumas regiões do mundo africano, asiático e até mesmo árabe. Eles [índios] são excluídos do poder econômico e político como acontece no Brasil. Um índio não consegue ser presidente da Funai [Fundação Nacional do Índio]", disse o articulador dos Direitos Indígenas na ONU, Marcos Terena, durante entrevista nesta quinta-feira, no Rio.

De acordo com o relatório, as taxas de pobreza dos povos indígenas estão acima do resto da população em vários países da América Latina. São eles: Paraguai, 7,9 vezes maior; Panamá, 5,9; México, 3,3; Guatemala, 2,8; e Brasil, 2,5 vezes maior.

O estudo destaca que no Brasil, Bolívia e Chile, mais da metade da população indígena vive em áreas urbanas. Apenas no Brasil, há 12 povos indígenas isolados, sem contato com outras sociedades, na Amazônia.

"50% dos índios no Brasil vivem em áreas urbanas. Isso criou um aumento dos índices de pobreza, porque os índios precisam de emprego, mas muitas vezes não conseguem se manter na área urbana. A questão educacional também é um agravante", afirmou Terena.

A ONU aponta ainda que os trabalhadores indígenas ganham a metade dos salários dos não-indígenas devido a fatores de discriminação e qualidade de ensino. Segundo o estudo, a maior diferença de salário para cada ano adicional de escolaridade entre indígenas e não-indígenas na América Latina existe na Bolívia.

O relatório da ONU sobre a situação dos povos indígenas no mundo foi apresentado simultaneamente em Nova York, Bruxelas, Canberra, Manila, México, Moscou, Pretoria, Bogotá e Rio de Janeiro.

Autora: DIANA BRITO

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aldeia no AM ganha escola de xamanismo

Para conservar práticas espirituais, aldeia no AM ganha escola de xamanismo

Saber tradicional inclui cura de doenças desconhecidas pela ciência.
Antropólogo conseguiu apoio nos EUA para construção de maloca.


A influência de culturas externas ameaça a tradição do xamanismo entre os índios. Para tentar salvar os conhecimentos tradicionais dos baniwas, foi criada na aldeia Uapuí, na Terra Indígena Alto Rio Negro, no noroeste do Amazonas, uma escola para que novas gerações aprendam as técnicas de cura espiritual criadas ao longo de séculos por esse povo da floresta. A inauguração aconteceu no final do ano passado.

(Foto: Michel C. Wright/Divulgação)

Foto: Michel C. Wright/Divulgação

Mulheres baniwas receberam visitantes com dança para a inauguração da escola de xamanismo na aldeia Uapuí. 

“É uma escola para revitalização do conhecimento dos índios baniwas”, explica o antropólogo Robin Wright, da Universidade da Flórida, nos EUA, que passou anos procurando patrocínio para o projeto, até conseguir apoio da Fundação para Estudos Xamânicos, sediada na Califórnia.


 

Manuel da Silva, o Mandu, xamã da mais alta graduação entre os índios da região, que dirige a escola junto com seu irmão Mário.  (Foto: Michel C. Wright/Divulgação)  

Foto: Michel C. Wright/Divulgação

Foto: Michel C. Wright/DivulgaçãoWright conta que a chegada de missionários cristãos à região da Cabeça do Cachorro, onde fica a aldeia Uapuí, levou muitos índios a abandonarem suas crenças tradicionais.

Os pajés, a quem os índios atribuem o poder da cura por meio do mundo espiritual, foram perseguidos e acusados de práticas satânicas. Isso fez com que eles permanecessem somente em aldeias mais isoladas.

Os xamãs passam anos estudando para conseguir entrar em transe e, segundo acreditam os índios, buscar no mundo dos espíritos a receita de cura de cada doença, que então se dá com ingredientes naturais. “É um sistema de crença que nós não temos”, comenta Wright.






Segundo o pesquisador, a formação de novos pajés é importante porque eles conhecem a cura para doenças específicas da área do noroeste da Amazônia, causadas por fungos, plantas ou animais, entre outros, que não foram estudados pela ciência.

Na maloca construída com apoio americano na aldeia Uapuí, um grupo inicial de 12 alunos de diferentes aldeias baniwas vai estudar por pelo menos dois anos para se iniciar na pajelança, embora a aquisição dos conhecimentos tradicionais seja algo que leva a vida toda entre os xamãs.
Autor:Dennis Barbosa Do Globo Amazônia, em São Paulo 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Índios das etnias Xavante e Caiapó entram em conflito durante protesto

Funai não soube informar os motivos da briga, que teria deixado um ferido.
Índios fazem protesto em Brasília contra reestruturação da Funai.


Índios das etnias Xavante e Caiapó entraram em conflito nesta quarta-feira (13) durante manifestação em frente à Fundação Nacional do Índio, em Brasília. Lideranças indígenas estão reunidas desde segunda-feira (11) em frente à Funai para protestar contra um decreto que reestrutura o órgão. Durante o conflito na manhã desta quarta, um índio Xavante teria ficado ferido. A Funai não soube informar o que motivou a briga, pois os funcionários da fundação estão impedidos de entrar no prédio sede desde terça-feira (12).

A assessoria da Funai disse, no entanto, que provavelmente o conflito foi provocado por desavenças culturais. "Os povos indígenas são completamente diferentes entre si nas suas culturas e tradicições. Essas diferenças podem, às vezes, provocar conflitos", afirmou.

Protesto 
 O decreto que causou indignação aos povos indígenas foi lançado, segundo o governo, para dar mais agilidade à fundação e prevê a criação de 3,1 mil cargos até 2012 - hoje, a instituição tem 2,4 mil funcionários. Segundo os líderes indígenas, contudo, a reestruturação é prejudicial aos seus povos.

A assessoria da Funai informou que o presidente do órgão, Márcio Meira, está negociando separadamente com cada liderança indígena para evitar desavenças entre os índios e solucionar o impasse.

A principal reclamação é a de que a reforma acaba com os postos indígenas. Essas pequenas instalações, às vezes com apenas um funcionário, ficam próximas às aldeias, prestando assistência no dia-a-dia dos índios. “Os postos dão proteção às áreas indígenas. Agora não vão mais proteger nosso território”, afirma o cacique xavante Arnaldo Tsererowe, de Mato Grosso.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A exposição indígena norte-americanos de Edward Sheriff Curtis



Indios 2O Espaço Cultural Unifor promove, até o dia 24 de janeiro de 2010, uma mostra fotográfica de 60 fotos com história e encantos dos povos indígenas norte-americanos. As fotografias foram feitas pelo fotógrafo americano Edward S. Curtis.
Na mostra, o visitante poderá ainda assistir a um filme de Anne Makepeace sobre a obra de Curtis e seu relacionamento com os indígenas americanos contemporâneos. As obras, a maior e mais completa coleção de Curtis no mundo, vieram do acervo pessoal de Christopher Cardozo, amplamente conhecido como a maior autoridade mundial em Edward Curtis e sua obra fotográfica.
>> Quem é Edward Sheriff Curtis
Nasceu no estado de Wisconsin (EUA), no ano de 1868. Seu interesse por fotografia aumentou depois que sua família se mudou para uma região no oeste dos Estados Unidos, chamada Puget Sound, perto de Seattle, no estado de Washington.
CurtisCurtis ficou fascinado com os índios norte-americanos de Puget Sound e, embora não tenha estudado além da oitava série do curso primário, aprendeu a arte fotográfica sozinho e se tornou um homem bem informado. Entre 1901 e 1930, fotografou cerca de 80 nações indígenas norte-americanas e produziu mais de quatro mil imagens.
Serviço:
Exposição fotográfica Edward S. Curtis: Legado Sagrado
Visitação: de 20 de novembro a 24 de janeiro
Onde: Espaço Cultural Unifor Anexo
Visitação gratuita: de terça a sexta, das 10h às 20h, sábados e domingos, das 10h às 18h
 

Informações pelo telefone: (85) 3477 3239 e agendamento de visitas guiadas pelo telefone: (85) 3477 3319
Indios 1