Processo semelhante deverá ocorrer com os 300 guarani mbyá residentes em Krukutu e os 900 moradores da Aldeia da Barragem, as duas situadas
O anel viário vai circundar São Paulo com o objetivo de fazer com que o trânsito de mercadorias e passageiros não passe dentro da capital.
Juntas, as três aldeias da capital paulista têm 1.400 índios. A Dersa concederá cerca de 300 hectares em terras, no valor aproximado de R$ 6 milhões, divididos em duas áreas. Uma das propriedades ficará com a comunidade do Jaraguá e outra beneficiará as aldeias Krukutu (300 habitantes) e da Barragem (900 habitantes), ambas em Parelheiros.
Segundo o administrador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Bauru, Amaury Vieira, as terras compensam "impactos indiretos" nas comunidades da construção do empreendimento.
- Minimamente, você tem que tentar garantir que as comunidades indígenas não sofram impacto dessa obra que é importante, mas que não pode passar por cima de todo mundo e ficar por isso mesmo.
A Dersa nega, no entanto, que o Rodoanel seja responsável por impactos prejudiciais nas aldeias.
- Todos os estudos mostraram um impacto da metrópole sobre as comunidades, não que pudesse ser atribuído ao Rodoanel - ressaltou o gerente de Gestão Ambiental da Dersa, Marcelo Barbosa.
Barbosa afirma que os cerca de 300 hectares serão doados para amenizar o problema da falta de espaço que as aldeias indígenas da capital sofrem.
- Por um acordo com o Ministério Público, entendemos que poderíamos colaborar para melhorar a situação das aldeias - disse.
O antropólogo Daniel Pierri discorda que o Rodoanel não traga problemas aos guarani.
- Acho que os impactos são enormes - avaliou.
Ele afirma , entretanto, que parte dos recursos naturais da região do Jaraguá havia sido comprometida antes da obra.
- A nascente que passa dentro da comunidade era limpa, hoje é totalmente poluída pelo esgoto da região, antes mesmo do Rodoanel.
Nas aldeias da zona sul há, segundo o antropólogo, uma ocupação crescente das terras utilizadas tradicionalmente pelos índios.
- Cada ano que passa, a cidade vai chegando mais perto. Toda a área de uso deles [os guarani], antiga e documentada, vai se restringindo cada vez mais.
Uma das lideranças do Jaraguá, Pedro Luís Mecena, acredita que construção do trecho oeste do Rodoanel aumentou as pressões sobre a terra indígena, a menor do país. Ele atribui a construção da via, a 4 quilômetros dos indígenas, ao aumento do número de empresas e residências nos bairros próximos à aldeia. Para Mecena, a aldeia de 1,7 hectare está sendo espremida pela metrópole de São Paulo.
- A gente se sente muito preso dentro da comunidade. Ela é pequena, o Rodoanel está trazendo moradores ao redor e isso acaba espremendo a aldeia - reclamou o índio, que é vice-presidente da Associação República Guarani Amba Vera.
Essa proximidade com a cidade é um dos motivos que impedem que as aldeias sejam expandidas de maneira contínua.
- Evidente que o ideal seria que essas terra fossem aumentadas na mesma região, mas essa é uma dificuldade que se tem na Grande São Paulo - ressaltou o administrador da Funai..
Problema é antigoSegundo Pedro Luís Mecena, o processo de ocupação em torno da aldeia teria começado com a construção da Rodovia dos Bandeirantes, inaugurada em 1978, cinco anos antes da identificação da terra indígena. A estrada, que liga a capital ao interior, passa ao lado da comunidade. Em meio às casas feitas com retalhos de madeirite e compensado, pode-se ouvir nitidamente o som do tráfego intenso da rodovia.
Apesar de as moradias da comunidade do Jaraguá serem semelhantes às encontradas em favelas urbanas, o guarani falado pelas crianças e adultos da aldeia demonstra o caráter diferenciado da comunidade. Ali existe também um Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI), onde são ministradas atividades escolares na língua indígena e em português.
A religião e o convívio em língua indígena seriam as práticas que estariam ameaçadas pela ocupação ao redor da aldeia. Segundo Mecena, o contato direto com os não indígenas atrapalha o dia a dia da comunidade e inibe os índios de ficarem "à vontade".
Os índios também se "ressentem" da dificuldade para transmitir conhecimentos tradicionais relativos à agricultura e às plantas medicinais, relatou o antropólogo Daniel Peirri. "Eles têm dificuldade de transmitir boa parte dos conhecimentos que estão ligados com a mata e com o plantio por conta desse adensamento demográfico grande e a falta de espaço", contou.
A quantidade reduzida de terras da aldeia consegue apenas abrigar as casas dos índios. Não é possível plantar e produzir, atividades que fazem falta aos mais velhos, de acordo com Mecena. Ele afirma que são os membros mais idosos que mais sentem necessidade do modo de vida "mais tradicional". Atualmente, a comunidade se sustenta basicamente pela venda de artesanato em diversos pontos da cidade e com os salários de alguns índios que têm trabalho fixo.
Assim que houver o mínimo de infraestrutura na nova área, os membros mais idosos da aldeia Jaraguá deverão começar a se mudar para o novo local. Para Mecena, a migração de parte dos índios deixará a comunidade mais confortável.
O líder se queixa de não ter havido estudos para avaliar os impactos do Rodoanel no Jaraguá.
- Quando a Dersa fez o Rodoanel Mário Covas não consultou a comunidade indígena do Jaraguá. Não fez um levantamento ambiental, não fez um levantamento antropológico para dizer se a gente ia sofrer com esse impacto - ressaltou.
O gerente de Gestão Ambiental da empresa afirmou que como a comunidade do Jaraguá "já está integrada no tecido urbano", fica difícil fazer uma avaliação de quais seriam os impactos do trecho oeste do Rodoanel. Ele destacou o fato de nenhum órgão ter se manifestado sobre a existência dos índios na época da construção dessa parte da via.
Fonte:Agência Brasil
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