segunda-feira, 18 de julho de 2011

IPOL realiza encontro: o INVENTÁRIO DA LÍNGUA GUARANI MBYA em debate

Lideranças Guarani, representantes de instituições e especialistas envolvidos direta ou indiretamente no Inventário da Língua Guarani Mbya (ILG) se reúnem em Florianópolis, nos dias 26 e 27 de julho próximo, para discutir os resultados do estudo e seus desdobramentos para a promoção da língua Guarani Mbya. Com o Inventário, a língua Mbya fará parte dos bens imateriais reconhecidos pelo IPHAN/MinC como patrimônio da nação brasileira, gozando de políticas de salvaguarda e promoção.

O ILG foi concebido como um projeto piloto para – juntamente com outros 7 projetos contemplando línguas de imigração, de sinais, indígenas de poucos falantes e afrobrasileira – consolidar a proposta de criação do Inventário Nacional da Diversidade Lingüística (INDL), instruída pelo relatório do Grupo de Trabalho da Diversidade Lingüística (GTDL), publicado em 2007.
Em 2006, seminários legislativos e audiências públicas marcaram o inicio das discussões para a criação do INDL, culminando com sua instituição por meio do Decreto 7.387 assinado em 9 de dezembro de 2010 pelo então presidente Lula.
Destinado a reunir informações variadas sobre a língua e seus usos sociais nas aldeias, e registrando em áudio e vídeos depoimentos e palavras, o trabalho do inventário foi sistematizado em um relatório detalhado que será debatido no encontro.
De acordo com o relatório interno da equipe executora do ILG, “em uma tradição monolínguista, como a brasileira, em que a única língua legitimada pelas aparelhagens do Estado foi a língua portuguesa, pouco se estruturou como campo de conhecimento sobre e nas demais línguas praticadas no país. São praticamente ausentes informações sistematizadas sobre estas línguas. De modo geral, está disponível apenas o número de indígenas pertencentes à determinada etnia, informação a partir da qual se pressupõe a língua por eles falada. no caso das línguas faladas por índios, por exemplo, mesmo quando há dados linguísticos por etnia ou território indígena, não estão disponíveis dados sobre a situação sociolingüística das demais possíveis línguas faladas nessas comunidades”.
A língua Guarani Mbya, embora seja uma das línguas indígenas mais bem documentada, carece também de informações nestes campos. O inventário, embora não extensivo, contempla informações sobre aspectos não diagnosticados até o momento pelos estudos e pesquisas disponibilizados, os quais serão tomados como foco de debate no Encontro. Com elas, os Guarani Mbya estarão ainda mais instrumentalizados para fixar o futuro de sua língua no contexto do plurilinguismo brasileiro.
O Brasil – ao contrário do que se possa imaginar – convive com uma pluralidade equivalente a 210 línguas faladas em todo território. Delas, 180 são indígenas, tendo marcado – ainda que pouco se diga a respeito – todo o processo de formação do país. Agora, o INDL cria um novo mecanismo de gestão lingüística, e com ele, informações sociolinguísticas que irão conceder mais acesso aos novos esforços de registro da riqueza linguística brasileira.
O encontro está sendo promovido pelo IPOL – Instituto de Investigação e desenvolvimento em Política Lingüística, instituição responsável por executar o Inventário em 69 aldeias dos seis estados das regiões sul e sudeste (ES, RJ, SP, PR, SC, RS) através de uma pesquisa que se iniciou em 2009, com o apoio do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (CFDD) da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça. 
F.Chimicatti
Fonte: Blog do IILP

sexta-feira, 8 de julho de 2011

“fazer reviver a vida”

Teko Ñemoingo

Quando pensamos em sustentabilidade, geralmente pensamos em mudar nossos hábitos de consumo e nossa relação com o meio ambiente. Mas a dimensão social, que compreende o respeito à diversidade e empoderamento de grupos excluídos também é parte vital desse enorme desafio que o planeta tem pela frente.
Uma das comunidades que tem se destacado na luta pela defesa de seus valores e cultura é a população indígena, que atualmente conta com 460 mil índios - quantia que representa 0,25% da população brasileira. Além destes, outros 190 mil já não vivem mais em aldeias, mas nem por isso deixaram para trás suas crenças ou a condição de indígenas.
Garantir que seus direitos sejam respeitados e permitir que seus valores e costumes não morram não é uma responsabilidade apenas desses povos. Isso depende de todos aqueles que querem construir um mundo melhor, ou seja, de cada um de nós.
Pensando nisso, a Organização Social e Etno Cultural Teko Ñemoingo Oscip Guarany, com sede em Foz do Iguaçu, no Paraná, está realizando um projeto de valorização da língua guarani, o Dicionário Audio-Visual da Língua Guarani do Mercosul. O projeto é longo e complexo, ainda está no início, mas certamente tem grande valor. Partindo do pressuposto de que todo brasileiro sabe falar guarani, a ideia da entidade é difundir a língua e assim afastar o perigo de sua extinção, além de nos tornar mais próximos da cultura indígena, compreendendo um pouco mais o modo de viver e de pensar dos primeiros habitantes do país – com quem temos muito a aprender sobre a relação com o meio ambiente e o próximo, ou seja, como levar uma vida sustentável em todas as dimensões.
- E para quem ficou interessado em conhecer palavras da língua guarani, que é falada por mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo, há uma plataforma visual de traduções, criada pelo estudante paraguaio Diego Alejandro Gavilán Caballero, do Colegio Técnico Nacional de Assunção.
Os dois dicionários, porém, por enquanto não dão conta de traduzir o significado de expressões belíssimas como a do título deste post: “Teko Ñemoingo”, como consta no nome da ONG paranaense, significa “fazer reviver a vida” – muito apropriado para relacionar sustentabilidade com cultura guarani.


Mario Vilela / Fundação Nacional do Índio (Funai) /
Mario Vilela / Fundação Nacional do Índio (Funai)


fonte: Gazeta do Povo

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Belo Monte vergonha Mundial, Ibama fecha os olhos para os impactos sócioambientais que atingirão milhares.

"Clik na imagem para ampliar e ler"
O Ministério Público Federal (MPF) caracterizou a decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de conceder a Licença de Instalação à Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará como ato “no limite da irresponsabilidade”. Ajuizada no último dia 6, a ação do MPF pede a suspensão da licença para o início das obras em função do descumprimento das condições prévias exigidas pelo próprio Ibama para preparar a região para os impactos.
Para conceder a licença – a despeito de seu próprio parecer técnico que constatou inúmeras irregularidades no cumprimento das condicionantes – o Ibama criou conceitos inexistentes na lei, como condicionantes “em cumprimento” ou “parcialmente atendidas”.  Foi o caso, por exemplo, das obras de saneamento nas regiões onde ficarão os canteiros da obra que deveriam estar prontas para a concessão da licença, mas que sequer foram iniciadas.  Ao invés de considerar que a condicionante não havia sido atendida, a mera apresentação de um projeto para concluí-la em março de 2012 fez com que fosse considerada como condicionante “em cumprimento”.
Outra condicionante fundamental, como a implantação prévia de saneamento para controle da água em Altamira (PA), foi considerada como “parcialmente atendida”, uma vez que sua conclusão está prevista para 2014. Até lá, haverá contaminação e eutrofização (leia-se apodrecimento) das águas dos igarapés que banham a cidade.
Decisões, no mínimo, irresponsáveis, como atesta o MPF, têm se tornado a tônica das ações de fiscalização e controle ambiental nos últimos anos. Desde a criação de conceitos elásticos para permitir a instalação das usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, a flexibilização das normas de licenciamento ambiental têm sido a resposta encontrada pelo governo para garantir a execução dos projetos que considera prioritários, a revelia de sua aceitação pela sociedade. E, pior, fechando os olhos para os impactos socioambientais que atingirão milhares de moradores da região, centenas dos quais necessitam diretamente dos recursos naturais dos territórios que serão modificados radicalmente com a obra.
A ideia de que “quinze ou vinte milhões de pessoas não podem impedir o progresso de 185 milhões de brasileiros”, conforme afirmou em 2009 um dos diretores da Eletrobrás, justifica a flexibilização da normativa ambiental. Além disso, ganha aceitação social na medida em que evoca um discurso recorrente nos meios empresariais e em alguns setores do governo que afirmam que o licenciamento prejudica o desenvolvimento do país.
Além de alimentar uma velha percepção já popularizada de que ações de proteção ambiental impedem a geração de empregos e crescimento econômico, essa ideia implica a perigosa aceitação por parte da sociedade de que o acesso aos direitos de alguns grupos pode ser flexibilizado em detrimento do suposto benefício do conjunto da sociedade.
O resultado tende a ser o esgarçamento dos laços que unem a sociedade brasileira e a perda das bases sociais e ambientais que garantem a manutenção dos meios de vida, trabalho e reprodução social de inúmeros cidadãos que vivem em regiões distantes dos centros de poder.
Um processo de licenciamento sério deveria dar visibilidade à perspectiva dos grupos diretamente afetados e promover uma discussão com a sociedade focada no produto – a energia, no caso de Belo Monte – antes de reafirmar a necessidade da obra. Se a necessidade manifesta é de gerar energia, deve ser estabelecido um debate sobre qual o tipo de energia e quais as formas social e ambientalmente seguras de obtê-la, garantida a participação dos potencialmente atingidos tanto na definição da necessidade do empreendimento quanto na concepção de alternativas técnicas. Essa perspectiva é partilhada por um conjunto de organizações que se articulam na Rede Brasileira de Justiça Ambiental.
A entrada, em abril, da Vale, maior consumidora de energia elétrica do país, no consórcio, responsável pela construção de Belo Monte, demonstra que o destino da energia gerada não será dado prioritariamente ao atendimento da demanda residencial como poderia fazer crer o argumento do diretor da Eletrobrás.
A expansão de setores intensivos no uso de energia – como as atividades mineradoras – na Amazônia, aliada ao ainda pouco explorado potencial hidrelétrico da região têm feito com que a construção de usinas de grande porte sejam priorizadas pelo governo e executadas a revelia dos critérios e normas de proteção social e ambiental estabelecidos pelo próprio Estado.
Sete dias após a concessão da Licença de Instalação de Belo Monte, o Ibama admitiu que está elaborando uma proposta de redução de sete unidades de conservação no vale dos rios Tapajós e Jamanxim, no Pará, uma das áreas mais preservadas e mais biodiversas da floresta amazônica, para permitir a construção de outras seis hidrelétricas.
A fim de evitar o constrangimento de não cumprir com suas próprias exigências, como em Belo Monte, o Ibama se apressa em alterar os instrumentos de proteção que garantem o cumprimento de sua missão. A irresponsabilidade parece já não conhecer limites.
* Julianna Malerba é mestre em Planejamento Urbano e Regional e coordenadora do Núcleo Justiça Ambiental e Direitos, da FASE. É também membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental.
Por Julianna Malerba
fonte: boletim da fase

terça-feira, 21 de junho de 2011

"Alguns povos indígenas do Brasil, Etnias, famílias e locais onde vivem"

Embora tenham diminuído significativamente desde a chegada dos portugueses (1500), ainda existem vários povos indígenas habitando o território brasileiro. Cada um com sua cultura, língua, arte, religião, hábitos, tradições, mitos e costumes. Abaixo uma relação dos principais povos indígenas brasileiros.
 



Nome do povo
(em português)
Família ao qual pertencem
ou Tronco Linguístico
Estados brasileiros
onde habitam
Aicanãs Aicanã Roraima
Ajurus Tupari Roraima
Amanaiés Tupi-guarani Pará
Anambés Tupi-Guarani Pará
Aparai Karíb Pará
Apiacás Apiacá Mato Grosso
Apurinã Aruák Amazonas
Arapaso Tucano Amazonas
Arara Karíb Pará
Arara Pano Acre
Araras-do-aripuanã Tupi-Arara Mato Grosso
Aruás Língua aruá Rondônia
Campas Aruák Acre e Peru
Assurinis-do-tocantins Tupi-Guarani Pará
Assurinis-do-xingu Tupi-Guarani Pará
Avás-canoeiros Tupi-Guarani Tocantins e Goiás
Guajás Tupi-Guarani Maranhão
Auetis Língua aueti Mato Grosso
Bacairis Karíb Mato Grosso
Borun Borun e português Minas Gerais e Bahia
Barás Tukano Amazonas  
Barasanas Tukano Amazonas  
Baré Nheengatu Amazonas  
Bororos Bororo Mato Grosso
Chamacocos Samuko Mato Grosso do Sul
Chiquitanos Chiquito Mato Grosso
Cintas-largas Tupi Mondé Rondônia e Mato Grosso
Denis Arawá Amazonas
Desanos Tukano Amazonas  
Enáuenês-nauês Aruák Mato Grosso
Fulniôs Yatê Pernambuco
Gavião Mondé Mondé Rondônia
Paracatejê-gavião Timbira Oriental Pará
Pucobié-gavião Maranhão
Guajajaras Tupi-Guarani Maranhão
Guaranis Tupi-Guarani RS/SC/PR/SP/RJ/MS/ES
Guatós Guató Mato Grosso do Sul
Hupda Maku Amazonas  
Ikpeng Karib Mato Grosso
Ingarikó Karíb Roraima
Jabutis Jaboti Rondônia
Jamamadis Arawá Amazonas
Jarauaras Arawá Amazonas
Javaés Karajá Tocantins
Jiahuis Tupi-Guarani Amazonas
Jumas Tupi-Guarani Amazonas
Kaapor Tupi-Guarani Maranhão
Caiabis Tupi-Guarani Mato Grosso e Pará
Caingangues São Paulo, Paraná e Santa Catarina
Caixanas Português Amazonas
Kalapalos Karíb Mato Grosso
kamayurás  Tupi-Guarani Mato Grosso
Cambebas Tupi-Guarani Amazonas
Cambiuás Português Pernambuco
Canamaris Katukina Amazonas
Apaniecras-canelas Maranhão
Rancocamecras-canelas Maranhão
Canindés Português Ceará
Canoês Kanoê Rondônia
Carajá Karajá Mato Grosso, Tocantins
Karapanã Tukano Amazonas
Karapotó Português Alagoas
Karipuna Tupi-Guarani Rondônia
Caripunas-do-amapá Creoulo Francês Amapá
Cariris Português Ceará
Cariris-xocós Português Alagoas
Caritianas Arikem Rondônia
Araras-caros Ramarama Rondônia
Karuazu Português Alagoas
Katukina Katukina Amazonas
Katukina Pano Acre e Amazonas
Katxuyana Karib Pará
Kaxarari Pano Amazonas e Rondônia
Kaxinawá Pano Acre e Peru
Kaxixó Português Minas Gerais
Caiapós Mato Grosso
Quiriris Português Bahia
Cocamas Tupi-Guarani Amazonas
Korubo Pano Amazonas
Craós Timbira oriental Tocantins
Crenaques Krenak Minas Gerais
Cricatis Maranhão
Kubeo Tukano Amazonas
Kuikuro Karib Mato Grosso
Kulina Madihá Arawá Acre, Amazonas  
Culinas-pano Pano Amazonas
Kuripako Aruak Amazonas
Curuaias Munduruku Pará
Kwazá Kwazá Rondônia
Macurap Tupari Rondônia
Makuna Tukano Amazonas
Macuxis Karib Roraima
Matipus Karib Mato Grosso
Matis  Pano Amazonas
Maxacalis Maxacali Minas Gerais
Meinacos Aruak Mato Grosso
Miranha Bora Amazonas
Miritis-tapuias Tukano Amazonas
Mundurucus Munduruku Pará
Muras Mura Amazonas
Nauquás Karib Mato Grosso
Nambiquaras Nambikwara Mato Grosso e Rondônia
Nukini Pano Acre
Ofaiés Ofaié Mato Grosso do Sul
Oro-uins Txapakura Rondônia
Paiter Mondé Rondônia
Palicures Aruak Amapá
Panará (Krenhakarore) Jê Mato Grosso e Pará
Pancararés Português Bahia
Pankararu Português Pernambuco
Pankaru Português Bahia
Parakanã Tupi Guarani Pará
Parecis Aruak Mato Grosso
Parintintins Tupi-Guarani Amazonas
Patamona Karib Roraima  
Pataxó Português Bahia
Pipipãs Português Pernambuco
Pirarrãs Mura Amazonas
Piratapuias Tukano Amazonas
Pitaguaris Português Ceará
Potiguaras Potiguara e português Paraíba
Poianauas Pano Acre
Ricbactas Rikbaktsa Mato Grosso
Sakurabiat Tupari Rondônia
Sateré-Mawé Mawé Amazonas e Pará
Shanenawa Pano Acre
Suruís Tupi-Guarani Pará
Suiás Mato Grosso
Tabajaras Português Ceará
Tapaiúnas Mato Grosso
Tapirapés Tupi-Guarani Mato Grosso
Tapuias Português Goiás
Tarianas Aruak Amazonas
Terenas Aruak Mato Grosso do Sul
Ticunas Ticuna Amazonas
Tiriós Karíb Pará
Torás Txapakura Amazonas
Truká Português Pernambuco
Trumai Trumai Mato Grosso
Tsunhuns-djapás Katukina Amazonas
Tucanos Tukano Amazonas
Tumbalalá Português Bahia
Tuparis Tupari Rondônia
Tupinambás Português Bahia
Tupiniquins Português Espírito Santo
Tuiúcas Tukano Amazonas
Umutinas Bororo Mato Grosso
Amondauas Tupi-Guarani Rondônia
Uaimiris-atroaris Karib Roraima e Amazonas
Uapixanas Aruak Roraima
Uarequenas Aruak Amazonas
Uassus Português Alagoas
Uaurás Aruak Mato Grosso
Uaianas Karib Pará
Xakriabás Minas Gerais
Xambioás Karajá Tocantins
Xavantes Mato Grosso
Xetás Tupi-Guarani Paraná
Caiapós-xicrins Kayapó Pará
Xipaias Juruna Pará
Xukuru Português Pernambuco
Xukuru Kariri Português Alagoas
Yaminawa Pano Acre
Ianomâmis Yanomami Roraima, Amazonas
Iaualapitis Aruak Mato Grosso
Iecuanas Karib Roraima
Jurunas Juruna Pará e Mato Grosso
Zoés Tupi-Guarani Pará
Zorós Mondé Mato Grosso
Suruuarrás Arawá Amazonas
Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus à América havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegava 5 milhões de nativos, aproximadamente. Estes índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia).

Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.
A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses. 
O primeiro contato entre índios e portugueses em 1500 foi de muita estranheza para ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Sabemos muito sobre os índios que viviam naquela época, graças a Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral ) e também aos documentos deixados pelos padres jesuítas.
Os indígenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caça, da pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, bata-doce e principalmente mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio).
Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara. Não conheciam o cavalo, o boi e a galinha. Na Carta de Caminha é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha.
As tribos indígenas possuíam uma relação baseada em regras sociais, políticas e religiosas. O contato entre as tribos acontecia em momentos de guerras, casamentos, cerimônias de enterro e também no momento de estabelecer alianças contra um inimigo comum.
Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale lembrar que índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Desta madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (oca). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica também era muito utilizada para fazer potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era muito usado para fazer pinturas no corpo.
A organização social dos índios
Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.
Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios. 
A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprender desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem pratica e vinculada a realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.
Os contatos entre indígenas e portugueses
Como dissemos, os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu trabalho. 
O canto que se segue foi muito prejudicial aos povos indígenas. Interessados nas terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. Para tomar as terras, chegavam a matar os nativos ou até mesmo transmitir doenças a eles para dizimar tribos e tomar as terras. Esse comportamento violento seguiu-se por séculos, resultando no pequenos número de índios que temos hoje.
A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu serviço. A cultura indígena era considera pelo europeu como sendo inferior e grosseira. Dentro desta visão, acreditavam que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os índios seguirem a cultura européia. Foi assim, que aos poucos, os índios foram perdendo sua cultura e também sua identidade.





Religião Indígena
Cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados. Porém, todas as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas. O pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do cadáver ficavam os objetos pessoais. Isto mostra que estas tribos acreditavam numa vida após a morte.
Principais etnias indígenas brasileiras na atualidade e população estimada 
Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Yanomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara (7.700).
Fonte: Funai (Fundação Nacional do Índio) e Sua Pesquisa.com

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"XUCURU, OS INDÍOS PERNAMBUCANOS"

ÍNDIOS XUKURU DO ORORUBÁ
ritual do Toré

Os Xucuru (ou Xukuru), com uma população atual de cerca de 3.500 índios, vivem na serra do Ororubá, numa área de 26.980 hectares, no município de Pesqueira.

De acordo com vários pesquisadores, o nome da serra Ororubá possui diversas origens e significados: seria uma corruptela de uru-ybá – fruta dos urus, onomatopaico de várias pequenas perdizes; viria de "orouba", uma palavra oriunda do cariri; seria de origem tupi, vindo de uru-ubá – fruta do pássaro ou ser corruptela de arara-ubá ou, ainda, poderia dizer respeito à expressão designativa da primeira tribo tapuia-cariri localizada na serra.

Sua presença na serra do Ororubá, vem desde a época da colonização portuguesa, como o comprovam alguns documentos. Provavelmente nunca tenham se afastado do local.

Em 1879, como aconteceu com outras aldeias que ainda sobreviviam à invasão do seu território, houve a extinção da aldeia Xukuru pelo Governo. O grupo passou então a sobreviver vagando pela serra.

Foram alvo de perseguições, como a proibição de seus ritos religiosos e da prática do uso de ervas medicinais para curar suas doenças. Porém, a indefinição de seus limites territoriais foi, no entanto, o que mais afetou a existência do grupo. Seu território foi demarcado em 1995, mas o processo de regularização fundiária ainda não foi concluído, ocasionando muitos conflitos pela posse da terra.

Os remanescentes Xukuru que sobreviveram ao processo de perseguições sistemáticas e expropriação de suas terras conservaram poucos traços étnicos e culturais. O toré é dançado em poucas ocasiões, não falam mais sua língua nativa, salvo algumas palavras ainda conhecidas pelos mais velhos como, lombri= água; lomba=terra; clariu= estrela; amum= farinha; echalá= fava; maiu= panela; xigó = milho; chrichaú= feijão; memengo= bode, entre outras.

O grupo está distribuído em 18 aldeias: São José, Afeto, Gitó, Brejinho, Canabrava, Courodanta, Bentevi, Lagoa, Santana, Caípe, Caetano, Caldeirão, Pé de Serra, Oiti, Pendurado, Boa Vista, Cimbres e Guarda.

Cada aldeia é constituída por um grupo de famílias, habitando cada uma na sua casa. Toda a aldeia possui um representante, que leva os problemas da sua comunidade para o cacique, que é o representante dos Xucuru como um todo.

Vivem, essencialmente, da agricultura de subsistência, horticultura, fruticultura e do artesanato de bordados de renascença feitos pelas mulheres da tribo.

As principais culturas são milho, feijão, fava e mandioca, porém o que garante a sobrevivência dos índios é a fava, por ser de custo mais baixo que o feijão, sendo colhida durante todo o verão.

Os Xukuru revivem, anualmente, suas tradições mítico-religiosas por ocasião das festas de Nossa Senhora das Montanhas e de São José. Apesar de não serem festas indígenas, servem de motivo para que os índios revivam costumes próprios da sua cultura, através das danças, cantigas em dialeto misturado com português e o cultivo das lendas sobre a tribo, como a que diz: "Nos tempos dos índios inocentes, encontraram a imagem de Nossa Senhora num tronco de jucá, os padres levaram, então, a Santa para a igreja, mas a santa voltou para o tronco de Jucá".

Segundo dizem, é neste local que se realiza o ritual dos caboclos: os homens, vestidos com trajes de palha de milho, com flautas e bastões, dançam no local durante toda a noite.




ROLIM XICÃO
FONTES CONSULTADAS:
Prof. Dr. Edson Hely Silva - UFPE

AS COMUNIDADES indígenas de Pernambuco. Recife: Instituto de Desenvolvimento de Pernambuco-Condepe, 1981.

SÁ, Marilena Araújo de. "Yaathe" é a resistência dos Fulni-ô. Revista do Conselho Estadual de Cultura, Recife, Ed. especial, p.48-54, 2002.

SOUZA, Vânia Rocha Fialho de Paiva e. As fronteiras do ser Xukuru. Recife: Fundaj. Ed. Massangana, 1998. 
BLOG DA PROFESSORA SUNAMITA OLIVEIRA