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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Jessier Quirino - Um poeta do povo matuto
Paraibano de Campina Grande, o poeta, músico, arquiteto, declamador, Jessier Quirino diz que não se considera um estudioso, apenas um "prestador de atenção". Arquiteto por profissão, poeta por vocação e matuto por convicção, como ele mesmo se define, vive subindo nos palcos de todo país, para apresentar sua poesia declamada e os causos matutos.— Costumo dizer que, pra essas coisas das artes, sou eu e a torre de Pisa: sempre tive inclinação. Tirando as várias modalidades de desenho, que estudei até minha graduação em arquitetura, nunca tive nenhuma formação em artes. A poesia, a música, a literatura, a força cênica, tudo isto, veio aos poucos-pouquinhos e pelas beiras como quem come papa quente. Desde rapazote fazia isso muito à vontade, sempre imprimindo minha marca pessoal: Ou seja, declamava com uma manteiguinha a mais. Era a arma que eu usava para me impor diante dos colegas, aliviando toneladas de timidez. Os livros, que hoje já somam dez, resultaram da sua paixão pela literatura aliada à cultura nordestina. — Para os meus versos caseiros nunca pensei em encadernação livresca. Somente em 1996 publicamos o primeiro livro "Paisagem de Interior" pelas Edições Bagaço. Tive uma crítica positiva do jornalista Mário Hélio, do Jornal do Commércio, profissional criterioso, e talvez tenha sido este o "lá vem ele!" para que o público leitor atentasse para a chegada de um matuto palavreiro das bandas da Paraíba. Não esperava que minhas costuras literárias, de agulha ferrugenta, fossem ter a repercussão que tiveram. Sobre o papel da sua obra na afirmação da cultura popular, Jessier é modesto: — Venho fazendo uma poesia campeira, digamos, respeitosa às nossas tradições e de forma renovada; além, claro, de outros ensaiozinhos poéticos, músicas e textos com uma marca muito pessoal. O fato é que, de uma hora pra outra, vi minha casinha de duas águas entre mansões literárias e sendo discutida em roda acadêmica, sala de aula, e eu próprio defendendo a causa a golpes de declamações por todo o país, em teatros, saletas e salões. Percebo, entre os ouvintes, um sentimento de ser sua própria voz embutida num poema, num causo, num gesto e isso aumenta minha carga de responsabilidade. Penso, talvez, que seja mais uma bandeira hasteada em defesa das nossas riquezas matutas, ressaltando que sigo apenas remedando e, ao meu modo, a fala dos grandes mestres: Zé da Luz, Catulo [da Paixão Cearense], Patativa [do Assaré], Zé Laurentino, José Lins do Rego, Gonzaga, Jackson, Sivuca, Jacinto Silva, Elino Julião, Manezim Araújo, Jararaca e Ratinho, repentistas, entre tantos outros . Jessier se empolga e se emociona ao citar esses artistas populares, que ele tem como "verdadeiros símbolos da nossa resistência cultural". — Muitos desses mestres resistiram, cada um à sua maneira, às respectivas barreiras e "senões" impostas às suas obras, e nós vamos juntos. Acredito que ainda há certa resistência em alguns setores intelectualizados, com relação a essa coisa do dialetal matuto, a palavra plebéia, a deformação gramatical. No entanto, outras tradições populares, como o cordel (que não é necessariamente matuto) no meu entender, são bem respeitadas. No meu caso específico, há um elemento que quebra um pouco este ranço preconceituoso: é a presença de palco e a força declamatória. Em algumas situações, em território solene, antes de um recital, a platéia me recebe com feição de Rui Barbosa e no final me dá um abraço de cumpade. Referindo-se aos poetas do povo, o poeta que fez ressurgir com muita força a arte declamatória em palcos pelo país inteiro, diz: — Diferentemente do que possa lembrar, a poesia dita popular não é necessariamente algo simplório ou menos erudito. Talvez seja a que o povo elege como seu. Nessa ótica, podemos considerar Manuel Bandeira, Carlos Drummond, Vinicius de Morais e até mesmo Augusto do Anjos, de tão cantados e decantados, como sendo poetas populares. Imagino que é feito caminho de praça: o povo escolhe por onde quer passar, não necessariamente seguindo a trilha das pedras e a coisa vai por gravidade . A obra de Jessier Quirino retrata com humor e lirismo a vida simples do povo nordestino. Povo que está no centro de todas as suas atenções e preocupações. — Tenho percebido que aqueles que têm raízes interioranas e estão fora de suas bases por questões várias, estão com o sentimento de nordestinidade e suas almas matutas no patamar das alturas. O nosso artesanato, a nossa cachaça, a culinária etc., estão sendo estampados e respeitados em todo mundo. Observo, no entanto, que, por falta de uma boa educação, de conhecimento dos seus próprios valores, os verdadeiros matutos ficam um pouco à margem dessa trilha de auto-estima. Consomem, sem orientação pedagógica, um lixo cultural da pior espécie, impostos por uma mídia cada vez mais invasiva. E aí vai uma grande parcela dos jovens citadinos como agentes contaminadores e também consumidores desorientados. Acho que falta educação, para que possamos, definitivamente, destravar estes dois torcicolos imbecilizantes, que obrigam a olhar, um para o cristal importado, o outro para o lixo nativo, esquecendo a nobreza do barro de que somos feitos. Livros e discos na estante do poeta nordestinoJessier nasceu em Campina Grande, passa uns dias em João Pessoa e o resto do mês em Itabaiana, onde fixou residência desde 1983. Hoje consagrado de norte a sul e de leste a oeste do país como um dos mais dignos representantes da cultura popular nordestina, tem especial interesse na causa poética e na tradição oral do seu povo. Com uma presença de palco marcante e uma extraordinária memória, Jessier conquistou o público e a crítica dos lugares por onde passou.Jessier publicou, pelas Edições Bagaço, os livros Paisagem de interior, Agruras da lata dágua (poesia), O chapéu mau e o lobinho vermelho (infantil), Prosa morena (poesia), Política de pé de muro (folclore político popular), Bandeira nordestina e Berro Novo, além dos CDs Paisagem de interior 1 e Paisagem de interior 2. Prosa morena, Bandeira nordestina e Berro novo vêm com um CD encartado. Faça um fogão de quatro tijolos, ferva um caneco de café, sinta o cheiro da poesia, cutuque as oiças com o mindinho e bote o pau pra fuxicar — convida o autor. |
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Poetas e Poesias
Xondaro — A arte marcial dos guaranis
As grandes questões sobre a vida guarani — enigmas que atraem e fascinam — ainda não conseguiram ser respondidas de maneira aceitável A técnica propicia uma eficiência tal que, segundo os guaranis, os antigos guerreiros Xondaro conseguiam agarrar flechas em pleno vôo. Assim como a capoeira, que pode exercer a função de luta ou de dança — conforme as circunstâncias —, a Xondaro também possui um papel múltiplo. Luta, dança e canto. Porém, como música e dança, a Xondaro está totalmente integrada às experiências religiosas xamânicas, aparentemente não sendo exercitada isoladamente como folguedo. Guardiões da aldeiaO guarani Timóteo Verá Popyguá prestou um depoimento sobre o assunto, em 1998, que foi incluído no CD Memória Viva Guarani (Ñande Reko Arandu).Contou ele que os guaranis são iniciados na Xondaro — que ora ele identifica como dança e ora como exercício guerreiro — desde pequenos. E que o objetivo é desenvolver o equilíbrio do corpo e a saúde. Explicou que o principal treinamento “hoje em dia” envolve o ato de desviar-se (Obs: não esclareceu se antigamente o método centrava-se em outro ato). A antropóloga Deise Lucy Montardo pôde assistir a alguns desses treinos nas aldeias que visitou para elaborar sua tese de pós-graduação na USP, Através do mbaraka: música e xamanismo guarani.“No ritual observa-se um comportamento que remete, de nosso ponto de vista, à noção de artes marciais. Um dos treinamentos mais significativos efetuados nos rituais guaranis é o aprender a ‘desviar-se’ em danças/lutas. O comportamento de não se contrapor, característico dos Guarani, é trabalhado corporalmente”, relatou ela. Popyguá falou também da grande utilidade e eficiência da técnica no que se refere ao aprimoramento dos sentidos, da agilidade, do senso de direção — extremamente necessários para a vida na mata. Disse que o reflexo do guerreiro possibilitava a ele agarrar flechas no ar. Referiu-se também ao fato de que os praticantes da Xondaro são guardiões das aldeias e também dos rituais xamânicos, agindo como uma espécie de soldados da chamada casa de reza, bem como assistentes dos pajés. (...) O menino começa a dançar, começa a frequentar esta dança. Ele tem seu próprio equilíbrio no seu próprio corpo. Xondaro, hoje em dia, a gente pratica mais para desviar, para dançar, para ter equilíbrio e para ter saúde. A prática do Xondaro é comum entre os guaranis. Todas as noitesAs pessoas que vêem os guaranis vendendo artesanato nas calçadas sujas das cidades ou na beira das estradas, com suas roupas maltrapilhas, seu jeito tímido e encolhido, os olhos baixos, sua fala que é mais silêncio do que palavra — aparentemente conformados com um suposto destino trágico e inexorável — possivelmente não imaginam a força e a vitalidade espirituais que ainda restam a esses brasileiros originais.As pessoas não conjeturam a vontade de viver e a resistência à opressão que são refletidas em inúmeros aspectos de seu cotidiano nas ocas. Um desses aspectos é o ritual noturno. Pouca gente sequer sonha o que é uma noite numa aldeia guarani. Todos os dias, geralmente a partir das 4 da tarde, durante cerca de quatro horas — às vezes prolongando-se muito mais, indo até o nascer do sol — eles dançam, cantam, oram, curam. E executam a Xondaro. Principalmente como dança e música. O rito xamânico diário é denominado de purahéi pelos subgrupos mbyá e chiripá e de jeroky pelos subgrupos kaiová e nhandeva. Ali a Xondaro (ou Sondaro, como se escreve às vezes) aparece primeiramente como um exercício baseado no movimento de certos animais. “Sobre o Sondaro, (a antropóloga Maria Inês) Ladeira afirma que seu intuito é o aquecimento, isto é, esquentar o corpo para as rezas noturnas e proteger a opy; e que sua coreografia segue o princípio de três pássaros: o colibri (para aquecimento do corpo), o gavião (para evitar que o mal entre na opy) e a andorinha, cuja coreografia é uma luta onde um deve ‘derrubar’ o outro com os ombros ou esquivar-se de um possível tombo (para fortalecer os sondaro contra o mal)” — diz Deise Montardo em sua tese. Defesa também contra balaQuando se assiste a essas danças guaranis, de acordo com a antropóloga, “a associação com a noção que temos de lutas marciais é imediata. É comum a várias artes marciais a mimese de animais. No tai-chi, por exemplo, a maioria dos movimentos tem nomes de atos dos animais.”E prossegue: “Nestas danças/lutas, segundo (Ivori José) Garlet, quando dançadas dois a dois, a região a qual objetivam acertar é a dos ilíacos, ossos da bacia. Nas danças em roda, o yvyra’ija — o dançarino/guerreiro xondaro, ajudante do xamã— vai passando o popygua (instrumento composto por duas varas amarradas) por baixo dos pés das pessoas que vêm em sentido contrário, aumentando, aos poucos, a sua altura em relação ao chão.” Arthur Benite, guarani da aldeia do Morro dos Cavalos, em Palhoça (SC), contou à antropóloga que os mestres Xondaro, se treinam bastante, conseguem “se negar até de bala”, ou seja, defendem-se até de tiros. Segundo Benite, um dos treinamentos é feito no ritual noturno, quando o mestre fica no meio do círculo e chama um por um, da direita para a esquerda, para dançar. Agilidade, esperteza e alegriaCandida Graciela Chamorro Arguello, no artigo O rito de nominação numa aldeia mbyá-guarani do Paraná, publicado na revista Diálogos, da Universidade de Maringá (PR) deu mais detalhes sobre a prática Xondaro num ritual noturno:“Quase toda a aldeia já estava reunida em frente da casa de reza (opy), no início da tarde; os xondaro, porém, iniciaram sua dança somente às 15 horas. A dança iniciou-se ao som do violino de três cordas. Os integrantes se posicionaram em círculo. Embora mais suaves, seus movimentos lembravam a capoeira afro-brasileira. Os dançarinos alternavam o apoio de seus corpos sobre cada uma das pernas. O tronco era levemente inclinado ora para frente, ora para os lados, ora para trás. O corpo demonstrava a versatilidade de seus membros. Os braços, as pernas, o tronco, a cabeça, os ombros, com muita leveza, eram dirigidos em direção ao alvo: o corpo do outro. Semelhantemente, com a mesma destreza, cada xondaro tentava evitar que seu corpo fosse alcançado pelo ataque daquele que era seu ‘inimigo’. Os xondaro são homens (meninos, adolescentes e adultos) treinados fisicamente para a luta. (...) No relato de alguns, antigamente, esta dança era uma preparação para defesa, em caso de ataque dos brancos (jurua), por isso alguns traduzem o termo por ‘dança física’. (...) Ela desenvolve as crianças, tornando-as ágeis (irari) e espertas (imba’e kuaa), além de alegrar e divertir (ombovy’a) toda a comunidade. Indagados sobre a possibilidade desta dança ter sido aprendida de outros povos indígenas ou dos brancos, os Mbyá-Guarani de Palmeirinha são categóricos em afirmar que não. (...) Durante a dança, o líder do grupo enfrentou várias vezes o desafio dos dançarinos. Estes, um por um, sem sair do círculo, aproximavam-se dele e iniciavam uma luta corporal nos passos da dança. A dança foi ficando mais interessante, como se em cada gesto progredisse uma narrativa. O líder esquivava-se com facilidade dos movimentos que procuravam alcançá-lo. Nesse sentido, a dança dos xondáro se assemelha a um folguedo, cuja trama consiste em o líder se manter intocado, em ele não ser ‘ferido’. Assim, a dança se prolongou por quase três horas, incluindo algumas pausas. Nesse tempo, todos os que faziam parte do ritual demonstraram ser detentores de resistência e equilíbrio corporal (...)” Os ilustres desconhecidosQuando se defronta com fenômenos tão ricos como a Xondaro torna-se fácil constatar — como o fazem diversos antropólogos, etnógrafos, historiadores e arqueólogos — que parte notável da tradição indígena, tão vasta e complexa, ainda não foi devidamente estudada, compreendida e divulgada.Mesmo as culturas exaustivamente inventariadas, como a guarani, ainda constituem um desafio aberto. Egon Schaden, um dos maiores pesquisadores da temática guarani, costumava pregar que “é necessário se destruir o mito de que a sociedade Guarani já é bastante conhecida e se insistir na urgência de se retomar o estudo dessa cultura (...)”. Outro nome de grande expressão, o paraguaio León Cadogan, também dizia que os guaranis são tão conhecidos que até pareceria supérfluo um estudo a seu respeito. Porém, advertia ele, “este conhecimento é muito superficial”. O antropólogo Aldo Litaiff, da Universidade Federal de Santa Catarina, concorda com Cadogan: “Esta situação (de superficialidade) persiste atualmente”. O etnógrafo Bartomeu Meliá, talvez o maior investigador vivo da cultura guarani lamenta que “as grandes questões sobre a vida guarani — enigmas que atraem e fascinam — ainda não conseguiram ser respondidas de maneira aceitável.” Diversos fatores concorrem para essa realidade, mas o principal deles é a prática costumeira das classes dominantes de tentar ser sempre a escritora exclusiva da História, só estimulando estudos de temas que lhes interessam. E sob o enfoque que lhes interessa. Na outra ponta está o ressabiamento justificado do índio, que cansado de ser explorado e desprezado, ergue a cabeça com dignidade e se fecha em copas, preferindo não expor nem a si e nem a seus conhecimentos àqueles que nunca o ouviram com respeito. Afirma Meliá: “O rosto Guarani, deformado pelos preconceitos e multiplicado de mil formas pelos interesses dos tempos e das situações, que para os Guarani nunca deixaram de ser coloniais, esse rosto Guarani nega-se a aparecer e refugia-se numa palavra não escutada pela nossa sociedade, numa palavra que ele guarda no segredo de sua casa, no seu opy e no íntimo de suas entranhas”. |
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domingo, 27 de dezembro de 2009
Presidente Lula homologa mais de cinco milhões de hectares de Terras Indígenas
O Presidente Luis Inácio Lula da Silva assinou, na manhã desta segunda-feira, 21/12, a homologação de nove Terras Indígenas (TI). O ato aconteceu durante a cerimônia de lançamento do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e entrega do Prêmio Direitos Humanos 2009, no Palácio do Itamaraty. São mais de 5,1 milhões de hectares de florestas brasileiras preservadas como Patrimônio da União. Cinco TI’s estão localizadas no estado do Amazonas, duas no Pará, uma em Roraima e uma no estado do Mato Grosso do Sul. “Por mais que eu faça pelos povos indígenas, a dívida é histórica pois não há quantidade em dinheiro que pague; só pode ser revertida por meio de atitudes e gestos”, enfatizou Lula em seu discurso. Com o ato, aproximadamente sete mil indígenas de 29 etnias, além dos indígenas de recente contato e isolados, foram beneficiadas quanto ao reconhecimento dos seus direitos e o respeito aos usos, costumes e tradições indígenas. A desocupação de uma terra para o povo Tuxá, do estado da Bahia, também foi assinada.
A homologação é a penúltima etapa do reconhecimento de uma terra indígena, faltando apenas o registro em cartório. O Brasil tem hoje 663 Terras Indígenas entre homologadas, declaradas, delimitadas e em estudo, somando 107,618 milhões de hectares, o equivalente a 12,5% do território nacional.
Entre as TI’s homologadas, destaca-se Trombetas Mapuera, com quase quatro milhões de hectares de floresta amazônica, que será mais protegida e preservada. A garantia do uso da terra, que é de usufruto dos indígenas, também assegura a valorização do patrimônio cultural indígena e promove seus costumes tradicionais. Para o presidente da Funai, Márcio Meira, é importante lembrar que a cultura material e imaterial está ligada diretamente à terra: “para que os povos não esqueçam suas músicas, danças, comidas e artesanatos; que não esqueçam dos antepassados e da sua língua. Para que os mais novos escutem os mais velhos, que mantenham a tradição e o conhecimento antigo, aliado aos novos conhecimentos. Para sempre manter firme a memória dos povos indígenas. É isso que garante a terra aos indígenas, conforme previsto e reconhecido pela sociedade brasileira, na Constituição Federal”, destaca Meira.
Demarcação de Terra Indígena
Os processos de demarcação de uma Terra Indígena podem levar anos até chegar à homologação e ao registro na Secretaria de Patrimônio da União (SPU). Iniciam no órgão federal responsável pela política indigenista, Funai, que abre um processo para iniciar os estudos de identificação e demarcação, conforme consta nos artigos 231 e 232 da Constituição Federal. Todos os passos são publicados no Diário Oficial da União (DOU). Após a abertura de um processo, via edital assinado pelo presidente da Funai, publicado no DOU, os antropólogos da fundação iniciam os estudos de área. A partir de então, de acordo com o Decreto 1.775/96, que rege a legislação sobre as demarcações de TI’s, existem procedimentos chamados de contraditórios ou contestações: nesta fase, pessoas físicas ou jurídicas podem contestar os atos de demarcação. Os documentos contestatórios são encaminhados a Funai, que após análise, encaminha ao Ministério da Justiça, para avaliação jurídica. A partir de então, o ministro da Justiça assina a portaria declaratória que já confere aos indígenas o direito de usufruto da área. Passadas estas etapas, inicia o processo chamado de demarcação física das terras, onde técnicos da Funai, juntamente com uma equipe de indígenas da área em questão, começam a implantar os marcos demarcatórios que delimitam a terra indígena. Após este ato, o próximo passo é encaminhar a documentação jurídica à Casa Civil da Presidência da República, para então chegar às mãos do presidente da República. Segue, depois, à SPU para ter a TI registrada em cartório. Alguns exemplos marcaram a história das demarcações como o caso Raposa Serra do Sol, que levou 30 anos para ser considerado patrimônio da União com usufruto dos povos Wapichana, Macuxi, Taurepang, Patamona e Ingarikó, e mesmo depois de homologado, foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), por divergências quanto ao tamanho da TI.
Entre os anos de 2007 até agora, 39 portarias declaratórias foram publicadas no DOU.
Confira as Terras Indígenas Homologadas no dia 21/12/2009:Entre os anos de 2007 até agora, 39 portarias declaratórias foram publicadas no DOU.
Terra Indígena Anaro
Município: Amajari, no Estado de Roraima.
Superfície: 30.470ha. Perímetro: 90Km.
Sociedade Indígena: Wapichana.
População: 52, no ano de 2001
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n°824/PRES, de 11 de outubro de 2001, coordenado pelo antropólogo Jorge Manoel Costa e Souza.
Portaria Declaratória MJ n.º 962, de 22 junho 2006, Márcio Thomaz Bastos.
Terra Indígena Arroio-Korá
Município: Paranhos, no Estado de Mato Grosso do Sul.
Superfície: 7.205ha. Perímetro: 45Km.
Sociedade Indígena: Guarani Kaiowá e Ñandeva
População: 404, no ano de 2001
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n° 921/PRES, de 12 de novembro de 2001, coordenado pelo antropólogo Levi Marques Pereira.
Portaria Declaratória MJ n.º 2.363, de 15 de dezembro de 2006, Márcio Thomaz Bastos.
Terra Indígena Balaio
Municípios: São Gabriel da Cachoeira, no Estado do Amazonas
Superfície: 255.823ha. Perímetro: 270Km.
Sociedade Indígena: Tukáno, Yepamashã, Desána, Kobéwa, Pirá-Tapúya, Tuyúka, Baníwa, Baré, Kuripáko e Tariáno
População: 350, no ano de 2000
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n° 993/PRES, de 20 de setembro de 2000, coordenado pela antropóloga Eliane da Silva Souza Pequeno
Portaria Declaratória MJ n.º 2.364, de 15 de dezembro de 2006, Márcio Thomaz Bastos.
Terra Indígena Lago do Correio
Município: Santo Antônio do Içá, no Estado do Amazonas
Superfície: 12.369ha. Perímetro: 57Km.
Sociedade Indígena: Kokama e Tikuna
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n° 130/PRES, de 28 de fevereiro de 2003, coordenado pelo antropólogo Cássio Inglez de Souza.
Portaria Declaratória MJ n.º 1.394, de 14 de agosto de 2007, Tarso Genro.
Terra Indígena Prosperidade
Municípios: Tonantins, no Estado do Amazonas
Superfície: 4.806ha. Perímetro: 49Km.
Sociedade Indígena: Kokama
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n° 732/PRES, de 11 de junho de 2004, coordenado pelo antropólogo Edward Mantoanelli Luz.
Portaria Declaratória MJ n.º 1.391, de 14 de agosto de 2007, Tarso Genro.
Terra Indígena São Domingos do Jacarapi e Estação
Município: Jutaí e Tonantins, no Estado do Amazonas
Superfície: 133.630ha. Perímetro: 166Km.
Sociedade Indígena: Kokama
População: 428, no ano de 2001
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n° 701/PRES, de 27 de agosto de 2001, coordenado pela antropóloga Gislaine Disconzi.
Portaria Declaratória MJ n.º 1.804, de 16 de setembro de 2005, Márcio Thomaz Bastos.
Terra Indígena Trombetas Mapuera
Municípios: Caroebe, Faro, Nhamundá, Oriximiná, São João da Baliza e Urucará, no Estado do Amazonas
Superfície: 3.970.418ha. Perímetro: 1.562Km.
Sociedades Indígenas: Complexo cultural Tarumã/Parukoto (Karapawyana, Waiwai, Katuena, Hixkaryana, Mawayana, Xereu, Cikiyana, Tunayama, Yapîana, Pianokoto), Waimiri-Atroari, e Grupos Indígenas Isolados.
População: 2.805, no ano de 2002
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n° 981/PRES, de 18 de setembro de 2000, coordenado pelo antropólogo Ruben Caixeta de Queiroz.
Portaria Declaratória MJ n.º 1.806, de 16 de setembro de 2005, Márcio Thomaz Bastos.
Terra Indígena Zo'É
Município: Óbidos, no Estado do Pará
Superfície: 624.000ha. Perímetro: 463Km.
Sociedade Indígena: Zo'é
População: 178
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n° 309/PRES, de 4 de abril de 1997.
Portaria Declaratória MJ n.º 365, de 20 de abril de 2001, José Gregori.
Terra Indígena Las Casas
Municípios: Floresta do Araguaia, Pau D'arco e Redenção, no Estado do Pará
Superfície: 21.100ha. Perímetro: 63Km.
Sociedade Indígena: Kayapó
Identificação e Delimitação: GT constituído pela Portaria n° 992/PRES, de 6 de dezembro de 2001, coordenado pela antropóloga Juliana Gonçalves Melo.
Portaria Declaratória MJ n.º 1.991, de 23 de novembro de 2006, Márcio Thomaz Bastos.
Fonte: FUNAI
Como fazer tudo errado, Na "natureza"
Como fazer tudo errado
Imenso projeto de assentamento vira fazenda de gadoJosé Maria Tomazela
Serraria na cidade de Apuí (AM). Foto: José Luís da Conceição/AE
“No começo, todo dia chegavam caminhões e ônibus com gaúchos e catarinenses”, lembra o vice-prefeito de Apuí, Aminadao Gonzaga de Souza (PT). Na época, havia pouca restrição ao desmatamento. Os assentados podiam derrubar até 50% da mata, mas muitos botaram tudo abaixo. “O plano era incentivar o plantio de arroz, milho e café, mas o governo não deu condições”, diz Souza. O que deveria ser o novo celeiro do Amazonas só produziu madeira, extraída pelos assentados.
Anos depois, o governo Fernando Henrique Cardoso criou o Projeto Acari, que ampliou o antigo assentamento. Mais 3.500 lotes foram distribuídos, com fartura de recursos para amparar os assentados, todos sem-terra, que deveriam desenvolver seus plantios em harmonia com a floresta – só poderiam desmatar 20% do lote. De novo, faltaria assistência. “Era fim de governo, as famílias foram trazidas às pressas e jogadas na terra”, diz o ex-assentado Henrique da Luz Bezerra. “Foi um assentamento de mentira.”
Ele agüentou menos de dois anos. Depois de 38 malárias – sua mulher contraiu 30 –, Bezerra jogou a toalha. Hoje conta que milhares de assentados pegaram o dinheiro do governo, transferiram a titularidade dos lotes e foram embora. Assim, após consumir uma soma incalculável de dinheiro público, o ambicioso projeto de assentamento agrícola transformou-se numa grande fazenda de gado. Mais de 50% dos 11 mil lotes – ou 1 milhão de hectares – estão ocupados ilegalmente por fazendeiros, muitos deles autoridades dos municípios em volta.
O paranaense Euclides Motter, de 34 anos, era menino quando chegou lá. Em 1996, conseguiu um lote. Formou-se técnico agrícola e virou líder dos agricultores. Em 2005, assumiu a direção do Incra na região. “Encontramos mais de 4 mil lotes com fazendeiros.” A maioria desmatou mais do que podia; muitos negociaram o desmatamento com madeireiros. Motter autuou os ocupantes ilegais. No ano passado, o Ministério Público notificou os 56 maiores ocupantes – alguns têm até 50 lotes, entre eles, grandes pecuaristas, autoridades e até empresas agropecuárias.
Os pecuaristas criaram o Sindicato Rural do Sul da Amazônia e patrocinaram um lobby fortíssimo, conta Motter. “Invocaram leis fundiárias que permitem a regularização de até 500 hectares ocupados. Mas a legislação não vale para assentamentos.” Ele conta que muita gente enriqueceu à custa do governo, como um ex-prefeito que montou empresa para abrir estradas vicinais. Motter briga para reorganizar o assentamento, numa luta quixotesca: a única viatura do Incra está com o motor fundido e ele, ameaçado de morte.
Índios querem representantes no Legislativo em 2010
Tribos estão recrutando os principais puxadores de votos em suas regiões, reconhecidos pela articulação
BRASÍLIA - Divididos em 220 etnias, falando 180 línguas, os índios brasileiros estão se organizando para aumentar a representação política nas eleições de 2010. Eles somam mais de 700 mil, dos quais 150 mil eleitores, e querem mais protagonismo nas decisões do País para defender as suas bandeiras sem depender unicamente da tutela da Fundação Nacional do Índio (Funai) ou das bênçãos de igrejas. A ideia é eleger ao menos cinco deputados federais no País e uma bancada forte nas Assembleias Legislativas de 19 Estados onde estão mais organizados.
As tribos e seus caciques estão recrutando em suas regiões os principais puxadores de votos, reconhecidos pela articulação e eloquência, que serão lançados para a Câmara. Já estão definidos os nomes de Almir Suruí, em Rondônia, Sandro Tuxa, na Bahia, e Júlio Macuxi, em Roraima. Este último teve atuação destacada na pressão pela demarcação da reserva Raposa Serra do Sol em área contínua, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) este ano.
Os três devem sair pelo PV, partido preferencial dos indígenas. Podem, no entanto, optar por outro partido que ofereça melhores possibilidades de vitória, o que será avaliado pelos conselhos indígenas e pelas assembleias que serão realizadas nas diversas aldeias, entre este mês e março.
Vereadores
Na última eleição municipal, os índios já deram uma primeira mostra do seu potencial nas urnas, elegendo seis prefeitos e mais de 90 vereadores em várias partes do País. Em São Gabriel da Cachoeira (AM), o prefeito, o vice e todos os vereadores são índios. Localizada em região conhecida como Cabeça do Cachorro, a cidade tem 95% da população de origem indígena.
Em Roraima, foram eleitos prefeitos indígenas em Uiramutã e Normandia, ambos da etnia macuxi. São João das Missões (MG), Marcação (PB) e Barreirinha (AM) também têm prefeitos índios. "É muito positiva essa presença no processo político para legitimar a democracia brasileira", afirmou o presidente da Funai, Márcio Meira.
Em quatro Estados(Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia) onde têm maior nível de organização, os índios já decidiram que vão lançar candidatos a deputado federal, além de nomes competitivos para as Assembleias.
Em outros 18 Estados serão lançados candidatos a deputado estadual e, eventualmente, algum para federal.
sábado, 26 de dezembro de 2009
Funai encontra Garimpeiros encapuzados que atuam no rio Boia, no Amazonas
Cinco plataformas com dragas mecanizadas operam no Rio Boia.
Funcionários trabalhavam encapuzados, segundo diário.
Cinco balsas de garimpo de ouro estão trabalhando no Rio Boia, afluente do Rio Jutaí, no sudoeste do Amazonas. São dragas mecanizadas, operadas por pelo menos cinco funcionários cada, que puxam o cascalho do leito do rio e jogam em esteiras, criando enormes bancos de areia e desmatando suas margens. O garimpo nessas condições é crime ambiental.
As balsas foram encontradas no dia 20 pela expedição da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, realizada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista e acompanhada pelo Estado . Cerca de 30 funcionários, não identificados, estavam encapuzados dentro das balsas. O uso do mercúrio, altamente tóxico, é comum para finalizar o processo de extração do ouro. Os primeiros indícios da operação de balsas de garimpo no Rio Boia foram encontrados a 405 quilômetros ao sul da cidade de Jutaí (AM) no dia 11 de dezembro. Bancos de areia recém-formados indicavam que o leito do rio havia sido revolvido pelas dragas.
Subindo o rio em direção à sua nascente, porém, a situação é alarmante. A cerca de 500 quilômetros de Jutaí, balsas com pelo menos 25 metros de comprimento, dois andares, equipadas com braços mecanizados estão desmatando as margens e destruindo o leito do Boia. Nenhuma das lanchas de apoio tem nome registrado, fugindo à regulamentação da Capitania dos Portos.
O estrago feito pelas balsas é visível a partir do espaço. Imagem de satélite feita há um ano pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já mostrava o surgimento dos bancos de areia. Com a expedição da Frente Etnoambiental, ficou confirmado que os bancos são subproduto do garimpo ilegal. Até mesmo as águas do rio, escuras, mudaram de tonalidade por conta da operação das dragas.
A Marinha, a Polícia Federal e o Ibama já foram informados pelo indigenista Rieli Franciscato, chefe da expedição, sobre a operação do garimpo na região. As três instituições estudam realizar uma ofensiva conjunta para a retirada das balsas, mas não há previsão de início dos trabalhos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Funcionários trabalhavam encapuzados, segundo diário.
Cinco balsas de garimpo de ouro estão trabalhando no Rio Boia, afluente do Rio Jutaí, no sudoeste do Amazonas. São dragas mecanizadas, operadas por pelo menos cinco funcionários cada, que puxam o cascalho do leito do rio e jogam em esteiras, criando enormes bancos de areia e desmatando suas margens. O garimpo nessas condições é crime ambiental.
As balsas foram encontradas no dia 20 pela expedição da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, realizada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em parceria com o Centro de Trabalho Indigenista e acompanhada pelo Estado . Cerca de 30 funcionários, não identificados, estavam encapuzados dentro das balsas. O uso do mercúrio, altamente tóxico, é comum para finalizar o processo de extração do ouro. Os primeiros indícios da operação de balsas de garimpo no Rio Boia foram encontrados a 405 quilômetros ao sul da cidade de Jutaí (AM) no dia 11 de dezembro. Bancos de areia recém-formados indicavam que o leito do rio havia sido revolvido pelas dragas.
Subindo o rio em direção à sua nascente, porém, a situação é alarmante. A cerca de 500 quilômetros de Jutaí, balsas com pelo menos 25 metros de comprimento, dois andares, equipadas com braços mecanizados estão desmatando as margens e destruindo o leito do Boia. Nenhuma das lanchas de apoio tem nome registrado, fugindo à regulamentação da Capitania dos Portos.
O estrago feito pelas balsas é visível a partir do espaço. Imagem de satélite feita há um ano pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já mostrava o surgimento dos bancos de areia. Com a expedição da Frente Etnoambiental, ficou confirmado que os bancos são subproduto do garimpo ilegal. Até mesmo as águas do rio, escuras, mudaram de tonalidade por conta da operação das dragas.
Em vez de querer ensinar aos índios, o homem branco deveria ter a humildade para aprender
Índios Caiapós em São Jorge
Para falar do indígena começo com esse pensamento de Orlando Villas Boas. "Em vez de querer ensinar aos índios, o homem branco deveria ter a humildade para aprender com eles que o velho é o dono da história, o homem é o dono da aldeia e a criança é a dona do mundo". Na minha pouca convivência com indígenas aprendi lições que me acompanharão sempre: de como o índio sabe conviver com a terra, o meio ambiente e com o próximo. Embora se diferenciem no modo de falar , pintar o corpo e outros detalhes, os indígenas em todo planeta têm em comum o respeito pela criança, pelo velho e a vivência em grupo onde as decisões são coletivas. Indio, quando eles serão reconhecidos como a nação que tem lições para o homem que se diz civilizado e arrasa com a natureza? O homem branco continua com as ações impensadas contra o índigena e o meio ambiente. O avanço da tecnologia e o capitalismo a cada dia mais empurram o índio, os bichos para um abismo sem volta. Todos os dias devem ser lembradas as lições do krahô, do korubo e tantos outros que vivem ainda em pequenos torrões de terra amedrontados com um futuro que está nas mãos do homem branco. Nada melhor para refletir sobre sua situação com o texto que transcrevo aqui do indigenista Walter Sanches: "Os índios Avá-Canoeiro, habitantes da região de Serra da Mesa, norte goiano, compõem atualmente uma família de seis pessoas. Eram quatro, quando em julho de 1983 renderam-se aos fazendeiros locais. Perseguidos e dizimados, a sina dessa Etnia coloca hoje seus sobreviventes em circunstância atípica entre os demais e não menos aviltados povos indígenas brasileiros. Em 1990, quando cheguei para trabalhar no Posto Indígena de Atração Avá-Canoeiro, encontrei-os – quatro adultos e duas crianças – comendo açúcar cristal em panelas de alumínio e bebendo óleo de soja em copos de vidro, deliciados com as recentes descobertas gastronômicas e das quais ainda não haviam assimilado a prudência do uso. No posto da FUNAI existia um fogão à gás, e as mulheres, não raro, detinham-se diante dele, acariciando o bujão e sonhando ter um igual na “oca”. “Este fogo bonito, bom muito!” - murmuravam diante da chama azul. Iawí, único homem adulto do grupo (o outro era Trumak, seu filho, de 3 anos) sonhava, por sua vez, com uma casa de telhas francesas. “Buriti presta não”, costumava dizer, referindo-se aos telhados regionais feitos com a palha dessa palmeira, que, devido aos novos hábitos alimentares – leia-se sal e açúcar – tornavam-se o esconderijo/criatório escolhido por milhares de baratas infernizando a vida doméstica. Sua morada, que achávamos por bem continuar chamando de “oca”, não passava de um triste e frágil casebre coberto de folhas de zinco, entulhado de molambos e trastes inúteis, o lixo cultural adquirido da sociedade envolvente, não tendo para eles grande importância e sim para os répteis e insetos que dali faziam seus pontos de proliferação. Aceitavam como amigos, tutores ou anjos da guarda aqueles que devassavam e depredavam a terra indígena ainda não demarcada. Conviviam amistosamente com caçadores e pescadores vorazes, muitos vindos de longe no faro dos últimos tamanduás, tucanos e jaús, numa matança infernal a que eles, índios, entre a apatia e a perplexidade assistiam calados. Nunca, entretanto, demonstraram disposição para voltar à mata em busca da dignidade, da autonomia e do sossego perdidos; já traziam intransponível dependência da sociedade regional, etnocêntrica e perversa, mesmo assim arvorada em “aculturá-los”. E fugir, para onde? Onde quer que se escondessem haveria um minério a ser garimpado por estranhos, uma fazenda a ser instalada, estradas ameaçando romper a aldeia, eventos que para eles jamais trouxeram qualquer benefício, e, de concreto, apenas o genocídio. Como esperar uma reação libertadora daquela Nação mortalmente ferida, reduzida a quatro viventes, havendo travado seus primeiros contatos conosco somente nos anos 80, rendidos e traumatizados por nossa truculência emocional e tecnológica? Cabia-nos, evidentemente, garantir àquele pequeno grupo étnico o máximo de segurança para continuar vivo e conseguir transpor, com a força dos derradeiros resquícios culturais ainda mantidos, os grilhões da nova e sutil emboscada em que vieram a cair, porque o resto fazia parte de um passado cada vez mais remoto. Hoje, a Terra Avá-Canoeiro, ainda distante da homologação, serve de palco para a festa das hidrelétricas. Terrenos fundamentais para roçados submergiram a imensos lagos artificiais, enquanto longos e perigosos corredores de fios de alta tensão vão multiplicando-se dentro da “reserva”. Tudo sem qualquer ressarcimento efetivo e honesto que busque minimizar tamanha e indesejável interferência no mundo e na vida dos índios atingidos. E eles também sobreviveram a essa realidade, porém, não se reproduziram mais. A quem, de sã consciência, ocorreria deixar para seus filhos uma herança dessas?" Amigo continuo dizendo: ... durante séculos o homem branco deixou como herança para o indígena uma grande solidão e um futuro incerto |
Fonte: overmundo
Texto de sinvaline pinheiro Uruaçu, GO
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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
"Como não morrer de causas idiotas"
"A chefe do Departamento de Medicina Legal da Flórida, nos EUA, diz que a maioria das mortes pode ser evitada"
"Muita gente não sabe, mas deixar a janela do carro aberta quando se está em movimento aumenta o risco de danos mais graves em um acidente"
"Nossa dificuldade em manter uma dieta com alimentos ricos em fibras, como as frutas e verduras, nos leva a expor o corpo a perigos desnecessários"
Há 20 anos, a médica americana Jan Garavaglia, 53 anos, decidiu trocar o consultório pelo necrotério
Ela estava cansada de lidar diariamente com pacientes queixosos a sua frente. Apesar de todas as suas recomendações, eles resistiam e não mudavam de estilo de vida. Continuavam fumando, comendo mal, não se exercitavam. "Isso me deixava muito frustrada", diz a médica. Curiosa por natureza, ela decidiu que seria mais fascinante descobrir por que as pessoas morrem. Tornou-se legista, faz hoje mais de mil autópsias por ano e finalmente descobriu o que tanto queria. "Depois de anos trabalhando nessa área, descobri que morremos por causas idiotas", afirma. "São coisas tolas, que podem ser prevenidas, como os pequenos lapsos de atenção ocorridos enquanto dirigimos e falamos ao celular." Chefe do Departamento de Medicina Legal da Flórida, nos Estados Unidos, Jan também é conhecida como Dr. G, nome que adota no programa Medical examiner, exibido diariamente pelo canal Discovery Home & Health. A médica acaba de lançar o livro Como não morrer! (Ed. Prumo), no qual relata casos reais de pessoas que perderam a vida por simples descuidos. Da Flórida, ela falou à ISTOÉ.
ISTOÉ - Quais as lições que a sra. aprendeu nesses anos todos atuando como legista? Jan - Cada caso que investigo sempre me ensina algo. O corpo conta a história de como alguém viveu, morreu e de que forma a morte poderia ter sido evitada.
Durante meus 20 anos como legista, vi que muitas das mortes não precisavam ter acontecido.
Durante meus 20 anos como legista, vi que muitas das mortes não precisavam ter acontecido.
ISTOÉ - Por quê? Jan - Porque foram resultado de causas idiotas. Claro que algumas pessoas têm falta de sorte e desenvolvem uma doença ou sofrem um acidente que é totalmente inevitável, mas muitos constroem a sua má sorte. Lembro do caso de um homem de meia-idade com sobrepeso que nunca se preocupara em fazer um check-up. Um dia ele subiu os degraus de seu apartamento com algumas compras na mão e, quando entrou, sentou no sofá e morreu. A autópsia mostrou alterações há muito existentes no seu coração e rins e uma hemorragia no cérebro. Tudo causado por pressão alta, uma doença facilmente tratável que ele julgava não sofrer.
Outro caso do qual me lembro bem foi o de uma senhora que tropeçou no tapete de casa e quebrou o quadril.
Ela morreu dias depois, em decorrência de complicações causadas por essa queda. São dois exemplos clássicos de mortes evitáveis. O senhor, por exemplo, poderia ter ido ao médico ao menos uma vez. Provavelmente teria descoberto a hipertensão. E a senhora deveria ter tirado o tapete, recomendação bastante útil em residência de pessoas mais velhas, mais propensas a quedas.
Outro caso do qual me lembro bem foi o de uma senhora que tropeçou no tapete de casa e quebrou o quadril.
Ela morreu dias depois, em decorrência de complicações causadas por essa queda. São dois exemplos clássicos de mortes evitáveis. O senhor, por exemplo, poderia ter ido ao médico ao menos uma vez. Provavelmente teria descoberto a hipertensão. E a senhora deveria ter tirado o tapete, recomendação bastante útil em residência de pessoas mais velhas, mais propensas a quedas.
ISTOÉ - A sra. pode citar outros casos? Jan - Lembro de ter feito uma autópsia em um senhor que foi encontrado morto no quintal de casa. Vi como nossa dieta ocidental, pobre em fibras, havia devastado o cólon (parte final do intestino grosso) daquele homem, causando uma inflamação gravíssima que teve como resultado a sua morte. Nossa dificuldade em enriquecer a alimentação com frutas e verduras nos leva a situações como essa, em que expomos o corpo a perigos desnecessários.
ISTOÉ - Como não morrer prematuramente? Jan - Consigo ver várias maneiras de evitar mortes prematuras exatamente como os outros médicos veem maneiras de prevenir doenças. Como patologista, enxergo muitas coisas que a maioria das pessoas não vê. Nem sempre são os traumas ou as situações dramáticas que matam as pessoas, mas os pequenos lapsos de atenção ou aqueles julgamentos feitos com um milésimo de segundo de atraso. A vida é uma série de escolhas. Somadas à genética e à sorte, elas determinam nosso destino. Você pode controlar o que come, a velocidade com que dirige, pode escolher se vai ou não abusar das drogas ou da bebida. Digo sempre que não sou perita em entender os motivos que levam alguém a usar drogas ou posso não saber como tratar vícios. Mas sei como o álcool e as drogas podem levar alguém à morte.
ISTOÉ - Fazemos escolhas erradas e por isso morremos? Jan - Se você escolhe abusar do álcool, usar drogas e dirigir em alta velocidade, precisa estar consciente de que esses comportamentos podem matá-lo. Do mesmo modo que não cuidar do peso, não fazer atividade física ou alimentar-se mal. São escolhas que você faz conscientemente. Portanto, deveria saber as consequências básicas dessas decisões e no que elas podem resultar. Tomar as decisões corretas pode lhe dar a oportunidade de viver por mais tempo. Não acredito que a diferença entre a vida e a morte seja apenas uma questão de tempo
ISTOÉ - O que as pessoas podem fazer? Jan - É impossível escapar da morte. Mas você pode impedir que ela chegue prematuramente com atitudes simples. Muita gente não sabe, mas deixar a janela do carro aberta quando se está em movimento aumenta o risco de danos mais graves em um acidente. A pessoa pode ser arremessada para fora do carro com mais facilidade. Outros exemplos de boas atitudes são prender corretamente o cinto de segurança ou acelerar menos. Evitar o álcool é outra medida.
Pelo menos 40% das pessoas que morrem no trânsito apresentam álcool no organismo. A distração no trânsito também mata. Para algumas pessoas, o carro é o lugar perfeito para retocar a maquiagem ou falar ao telefone. A falta de atenção no trânsito é responsável por cerca 25% de todos os acidentes nos Estados Unidos. Outros conselhos são fazer mudanças sutis na dieta ou seguir as ordens do seu médico. Também precisamos aprender a ouvir o corpo, não ignorar os sinais que ele dá quando alguma coisa está errada.
Pelo menos 40% das pessoas que morrem no trânsito apresentam álcool no organismo. A distração no trânsito também mata. Para algumas pessoas, o carro é o lugar perfeito para retocar a maquiagem ou falar ao telefone. A falta de atenção no trânsito é responsável por cerca 25% de todos os acidentes nos Estados Unidos. Outros conselhos são fazer mudanças sutis na dieta ou seguir as ordens do seu médico. Também precisamos aprender a ouvir o corpo, não ignorar os sinais que ele dá quando alguma coisa está errada.
ISTOÉ - Isso significa fazer um check- up periodicamente?Jan - Compreendo que algumas pessoas não querem ou não podem pagar uma consulta médica. Mas sou da turma que defende o check-up anual. Mesmo que seja apenas para construir uma boa relação com o seu médico e conversar com ele sobre os cuidados com a saúde. Mas é uma oportunidade para verificar o colesterol, a pressão arterial e o açúcar no sangue. Esses assassinos silenciosos podem matar sem que você nunca tenha se sentido mal. Os primeiros sintomas podem ser fatais. Você terá vida longa se mantiver esses índices em níveis normais.
ISTOÉ - Que outras atitudes podemos adotar? Jan - O que você precisa saber sobre o remédio que o seu médico prescreveu? Muita coisa. Nenhum medicamento é 100% seguro para todo mundo. Mesmo aqueles vendidos sem prescrição médica podem causar efeitos adversos, especialmente se forem tomados de maneira incorreta.
Por exemplo: um único comprimido de aspirina pode resultar em um ataque de asma que ameace a vida de uma pessoa sensível a essa droga.
ISTOÉ - Em geral ocorrem mais mortes por acidentes ou por negligência em relação à saúde?
Jan - Nos Estados Unidos, 40% das mortes ocorrem por doença prematura, ou seja, são previsíveis. Outros 40% são por acidentes, 10% são por suicídios e outros 10% por homicídios.
ISTOÉ - Quem morre mais antes da hora: os homens ou as mulheres? Jan - Os homens. Eles costumam ignorar a saúde e abusar do álcool e das drogas. Além disso, os homens vão muito menos ao médico que as mulheres. Eles reprimem a dor, ignoram os sintomas e negam a doença. Também fazem escolhas estúpidas. Eles dirigem de modo agressivo ou sob influência de entorpecentes e por isso pagam com a própria vida.
Nos Estados Unidos, os acidentes, principalmente os automobilísticos, matam 35 mil homens a cada ano.
O dobro da quantidade de mulheres. Assombrosamente essas mortes ocorrem até os 44 anos.
ISTOÉ - Por que a sra. optou por trabalhar como legista? Jan - Meu professor de química na escola secundária me inspirou a me tornar médica. Mas fiquei desiludida durante a residência e percebi que a medicina não combinava com a minha personalidade. Gostava de compreender o funcionamento do corpo humano e de chegar ao diagnóstico. Mas lidar diretamente com reclamações de pacientes - muitas delas relacionadas com a maneira como eles estavam vivendo - me desgastou.
ISTOÉ - Mas essa realidade não faz parte da rotina do médico? Jan - Trabalhava em uma clínica na qual tratava pessoas que tinham principalmente doenças relacionadas ao estilo de vida, ao hábito de fumar, de não fazer exercícios, ao fato de estarem acima do peso. Ficava frustrada porque, apesar das minhas recomendações, poucos mudavam suas rotinas. Resolvi que seria mais fascinante descobrir por que as pessoas morrem.
ISTOÉ - Como é lidar tão de perto com a morte?Jan - O mundo da morte não é exatamente o que os meus pais imaginaram para mim. Mas amo juntar peças, usar o pensamento criativo e resolver mistérios. A morte nunca me preocupou, na verdade. Eu a vejo como uma parte natural da vida. Eduquei-me dentro dos preceitos da religião católica com um conjunto de valores morais bastante claros. Embora tenham me ensinado que há um céu e um inferno, nunca pensei muito sobre o que acontece conosco depois que morremos. Mas não acredito que passamos por este mundo apenas para terminarmos deitados numa laje. A morte tem muito a nos ensinar.
ISTOÉ - Por isso resolveu escrever o livro? Jan - Ao longo desses anos vivenciei muitas experiências que, tenho certeza, poderão ajudar as pessoas a compreender a sua saúde e a encarar de um novo jeito as consequências das decisões cotidianas que tomam. Assim, poderão cuidar melhor delas mesmas e daqueles que as cercam. Felizmente, percebo que essas ações têm impacto. No meu programa de tevê, o Medical examiner, recebo muitas cartas e comentários de espectadores afirmando que finalmente conseguiram relacionar de maneira concreta como seus comportamentos afetavam sua saúde.
ISTOÉ - E a sra.? Mudou algo na sua vida a partir de sua experiência? Jan - Estar rodeada pela morte me ensinou a viver uma vida mais saudável e feliz. Minha profissão também me ensinou muito sobre as pessoas e a condição humana. Mas a mais fundamental das lições foi sobre como a vida é preciosa.
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Orlando Villas Bôas: o encantador de gente
Ele suportou doenças como malária, picadas de insetos e as intempéries do tempo chuva e calor e a falta das comodidades mínimas urbanas para defender os direitos dos índios. "A cultura índigena representa um valor humano essêncial que, também deveria ser protegida".
Conquistar os direitos dos povos em um país cuja meta é o desenvolviemnto econômico, onde existem quadros de desigualdades sociais, talvez não haja no mundo algo muito semelhante aos fatos deste sertanista bem-sucedido no terreno financeiro e profissional. Sua autobiografia, Editora FTD, nos dá sensação de contemplar um monumento à humanidade. Os irmãos Villas Bôas começaram sua trajetória no sertão no período da ditadura Vargas, 1943. Porém, foi três anos antes da ditadura militar que aconteceu o seu maior feito, O Parque Indígena do Xingu, em 1961 criado no governo de pouco mais de seis meses de Jânio Quadros. Juntamente com seus irmãos Leonardo e Cláudio, orlando empenhou-se sem descanço durante seis décadas para mostrar a necessidade de política pública e o inestimável valor dos índios. Foi um trabalho continuado o realizado por ele, como também foram multíplas as qualidades e tarefas. Ele tinha habilidade no tato político, pois sabia que não seria o bastante ter idéias pouco compreendidas. por exemplo, para manter o parque seria preciso preservar fronteiras e vidas, vigiá-las. Era um confronto de interesses graúdos aos índios. Porém, sua firmeza e paciência para contornar situações incômodas, atravessando períodos autoritários e vários partidos políticos não devem ser substimadas. Um outro fato da vida de Orlando, foi o deslumbramento com os povos indígenas; um tipo de vida diferente da nossa, um povo solidário, comunitário, lúdico e artísticos. Tudo isso inserido à natureza e ao que é belo, como ele mesmo disse. Enquanto muitos rejeitaram e condenaram fingiam investigar e mergulhar nos costumes, orlando Villas Bôas, viu alí surgir pouco à pouco de dentro do verde inúmeros povos camuflados, em algumas ocasiões ameaçadores, mas logo mostravam sua grandeza e hospitalidade. Foi onde apaixonou-se por eles, e sua defesa em prol foi visceral, como da própria vida. Ele não se limitou apenas em buscar algo que livros já descreviam; soube lidar com os anseios e reivindicações dos nativos. Etnias fadadas ao desaparecimento no Alto Xingu como Matipu, Nahukwá, Trumai e Tixikão, e no Médio Xingu os Suyá, Juruna e Kayabi todos passaram por processo semelhantes, a proteção de Orlando.
Todos os índios do Xingu são conscientes da importância do trabalho realizado pelo sertanista. Os três irmãos: Orlando, Cláudio e Leonardo mantinham contato com o melhor da antropologia dos meados do século XX, pertenciam a um grupo intelectual raro, e ainda convidavam a participar de suas tarefas colegas como Darcy Ribeiro, e o médico Noel Nutels, este grupo foi responsável pela idéia de que a terra deveria ser preservada, como condição para garantia da vida dos índios. Coube aos Villas Boas, participar da elaboração deste princípio, e defender um mundo de povos desconhecidos. Dos três irmãos Orlando era quem mais circulava pelos meios civilizados, sensibilizando a todos que podia para defender os territórios indígenas. Enquanto isso os outros dois e sua esposa Marina, ficavam a postos para qualquer emergência.
Villas Bôas analfabetos
Ao se alistarem como trabalhador braçal na Fundação Brasil Central, os irmãos eram movidos inicialmente pelo espírito de aventura. Tornaram-se integrantes da Expedição Roncador - Xingu criada em 1943 com doações do governo paulista. Eles fingiram serem analfabetos e como tal foram admitidos. Em seis anos assumiram a chefia e, entregaram à Força Aérea Brasileira a rota que tornou possível ligação direta entre o Rio de Janeiro - Manaus. Tornam-se amigos de Gama Malcher [Serviço de Proteção aos índios] de Darcy Ribeiro, e Noel Nutels, fundador da rede de proteção sanitária da frente indígena, tendo no cume da pirâmide, a figura extraordinária de Cândido Mariano Rondon - o Marechal Rondon. Na cidade de Botucatu [bons ares em tupy] eles eram como qualquer outra criança que brinca, salta o quintal do vizinho para pegar frutas. A rua General Jardim foi sua última morada, mas é o largo em frente ao hospital que Misericórdia Botucatuense deixaram mais saudades. Porem, Orlando nasceu em Santa Cruz do rio Pardo, aos 12 de janeiro de 1914, o filho mais velho de Agnello e Arlinda. Quando tinha seis anos sua família muda-se para São Paulo / capital, acompanhando seu pai que, mesmo não sendo formado em direito, prestara um concurso e passou para o cargo de advogado provisionado, e poderia atuar no juízo da comarca. Orlandou estudou no Colégio Paulista, do afamado professor Rocha Campos, localizado na rua Brigadeiro Luís Antônio, próximo sua casa, na rua Genebra. Durante os meses de junho e julho, ele exercia uma função nada gloriosa, era capitão da "quadrilha" grupos rivais que brigavam, principalmente por causa dos balões. Guardou lembranças também da revolução de 1924, quando estudava no Externato Mattoso, no Largo do Arouche, onde ao passar viu a fachada da escola ser crivada por tiros.
Viagem através do mapa
Porem, com a morte de seu pai em 1940, mantenedor de seu pró-labore, Orlando mudara-se com os irmãos para a rua Teodoro Sampaio, região oeste paulistana, e foi trabalhar na Standard Oil do Brasil. Não deu para se manter por lá, mudara-se novamente, desta vez para uma pensão na rua Bento Freitas - esquina com a Marquês de Itu, região central. Neste período seu irmão Cláudio comprou um mapa do Brasil onde eles costumavam "viajar" todas às noites. A morte de seus pais foi um convite para aquele mundo distante, a Amazônia. Resolveu deixar de maneira brusca seu trabalho; não se despediu de ninguém. Pegou suas malas e rumou para estação, antes passou pelo Hotel Esplanada para falar ao ministro João Alberto, sobre possibilidades de ser incluído entre os contratados da expedição. O ministro disse sim. Pegou o trêm rumo a Uberlândia/MG, e de lá foi para Goiânia. Em uma jardineira seguiu até Goiás Velho, onde estudavam saída para o Araguáia. Os três irmãos remaram 23 dias subindo o rio. Após quase seis meses de caminhada por campos, matas e charcos eles chegaram ao fim da primeira etapa, 1945, chegaram na serra do Roncador. O primeiro contato foi com os índios Kalapalo e em seguída com os Kuikuro, Aweti entre outros. A partir daí toda comunidade indígena sabe da história humanitária de Orlando e seus irmãos. Em 2003, como sempre fazia, convidou os amigos para o Kuarup do Orlando, era a última homenagem dos índios do Parque, pois viria a falecer no dia 12 de dezembro.
Aqui fica minha homenagem a um grande Ser humano: Orlando Villas Bôas.
Conquistar os direitos dos povos em um país cuja meta é o desenvolviemnto econômico, onde existem quadros de desigualdades sociais, talvez não haja no mundo algo muito semelhante aos fatos deste sertanista bem-sucedido no terreno financeiro e profissional. Sua autobiografia, Editora FTD, nos dá sensação de contemplar um monumento à humanidade. Os irmãos Villas Bôas começaram sua trajetória no sertão no período da ditadura Vargas, 1943. Porém, foi três anos antes da ditadura militar que aconteceu o seu maior feito, O Parque Indígena do Xingu, em 1961 criado no governo de pouco mais de seis meses de Jânio Quadros. Juntamente com seus irmãos Leonardo e Cláudio, orlando empenhou-se sem descanço durante seis décadas para mostrar a necessidade de política pública e o inestimável valor dos índios. Foi um trabalho continuado o realizado por ele, como também foram multíplas as qualidades e tarefas. Ele tinha habilidade no tato político, pois sabia que não seria o bastante ter idéias pouco compreendidas. por exemplo, para manter o parque seria preciso preservar fronteiras e vidas, vigiá-las. Era um confronto de interesses graúdos aos índios. Porém, sua firmeza e paciência para contornar situações incômodas, atravessando períodos autoritários e vários partidos políticos não devem ser substimadas. Um outro fato da vida de Orlando, foi o deslumbramento com os povos indígenas; um tipo de vida diferente da nossa, um povo solidário, comunitário, lúdico e artísticos. Tudo isso inserido à natureza e ao que é belo, como ele mesmo disse. Enquanto muitos rejeitaram e condenaram fingiam investigar e mergulhar nos costumes, orlando Villas Bôas, viu alí surgir pouco à pouco de dentro do verde inúmeros povos camuflados, em algumas ocasiões ameaçadores, mas logo mostravam sua grandeza e hospitalidade. Foi onde apaixonou-se por eles, e sua defesa em prol foi visceral, como da própria vida. Ele não se limitou apenas em buscar algo que livros já descreviam; soube lidar com os anseios e reivindicações dos nativos. Etnias fadadas ao desaparecimento no Alto Xingu como Matipu, Nahukwá, Trumai e Tixikão, e no Médio Xingu os Suyá, Juruna e Kayabi todos passaram por processo semelhantes, a proteção de Orlando.
Todos os índios do Xingu são conscientes da importância do trabalho realizado pelo sertanista. Os três irmãos: Orlando, Cláudio e Leonardo mantinham contato com o melhor da antropologia dos meados do século XX, pertenciam a um grupo intelectual raro, e ainda convidavam a participar de suas tarefas colegas como Darcy Ribeiro, e o médico Noel Nutels, este grupo foi responsável pela idéia de que a terra deveria ser preservada, como condição para garantia da vida dos índios. Coube aos Villas Boas, participar da elaboração deste princípio, e defender um mundo de povos desconhecidos. Dos três irmãos Orlando era quem mais circulava pelos meios civilizados, sensibilizando a todos que podia para defender os territórios indígenas. Enquanto isso os outros dois e sua esposa Marina, ficavam a postos para qualquer emergência.
Villas Bôas analfabetos
Ao se alistarem como trabalhador braçal na Fundação Brasil Central, os irmãos eram movidos inicialmente pelo espírito de aventura. Tornaram-se integrantes da Expedição Roncador - Xingu criada em 1943 com doações do governo paulista. Eles fingiram serem analfabetos e como tal foram admitidos. Em seis anos assumiram a chefia e, entregaram à Força Aérea Brasileira a rota que tornou possível ligação direta entre o Rio de Janeiro - Manaus. Tornam-se amigos de Gama Malcher [Serviço de Proteção aos índios] de Darcy Ribeiro, e Noel Nutels, fundador da rede de proteção sanitária da frente indígena, tendo no cume da pirâmide, a figura extraordinária de Cândido Mariano Rondon - o Marechal Rondon. Na cidade de Botucatu [bons ares em tupy] eles eram como qualquer outra criança que brinca, salta o quintal do vizinho para pegar frutas. A rua General Jardim foi sua última morada, mas é o largo em frente ao hospital que Misericórdia Botucatuense deixaram mais saudades. Porem, Orlando nasceu em Santa Cruz do rio Pardo, aos 12 de janeiro de 1914, o filho mais velho de Agnello e Arlinda. Quando tinha seis anos sua família muda-se para São Paulo / capital, acompanhando seu pai que, mesmo não sendo formado em direito, prestara um concurso e passou para o cargo de advogado provisionado, e poderia atuar no juízo da comarca. Orlandou estudou no Colégio Paulista, do afamado professor Rocha Campos, localizado na rua Brigadeiro Luís Antônio, próximo sua casa, na rua Genebra. Durante os meses de junho e julho, ele exercia uma função nada gloriosa, era capitão da "quadrilha" grupos rivais que brigavam, principalmente por causa dos balões. Guardou lembranças também da revolução de 1924, quando estudava no Externato Mattoso, no Largo do Arouche, onde ao passar viu a fachada da escola ser crivada por tiros.
Viagem através do mapa
Porem, com a morte de seu pai em 1940, mantenedor de seu pró-labore, Orlando mudara-se com os irmãos para a rua Teodoro Sampaio, região oeste paulistana, e foi trabalhar na Standard Oil do Brasil. Não deu para se manter por lá, mudara-se novamente, desta vez para uma pensão na rua Bento Freitas - esquina com a Marquês de Itu, região central. Neste período seu irmão Cláudio comprou um mapa do Brasil onde eles costumavam "viajar" todas às noites. A morte de seus pais foi um convite para aquele mundo distante, a Amazônia. Resolveu deixar de maneira brusca seu trabalho; não se despediu de ninguém. Pegou suas malas e rumou para estação, antes passou pelo Hotel Esplanada para falar ao ministro João Alberto, sobre possibilidades de ser incluído entre os contratados da expedição. O ministro disse sim. Pegou o trêm rumo a Uberlândia/MG, e de lá foi para Goiânia. Em uma jardineira seguiu até Goiás Velho, onde estudavam saída para o Araguáia. Os três irmãos remaram 23 dias subindo o rio. Após quase seis meses de caminhada por campos, matas e charcos eles chegaram ao fim da primeira etapa, 1945, chegaram na serra do Roncador. O primeiro contato foi com os índios Kalapalo e em seguída com os Kuikuro, Aweti entre outros. A partir daí toda comunidade indígena sabe da história humanitária de Orlando e seus irmãos. Em 2003, como sempre fazia, convidou os amigos para o Kuarup do Orlando, era a última homenagem dos índios do Parque, pois viria a falecer no dia 12 de dezembro.
Aqui fica minha homenagem a um grande Ser humano: Orlando Villas Bôas.
A redescoberta da cultura terena
No limiar do segundo milênio, a nação Terena, uma das mais populosas de Mato Grosso do Sul, está conseguindo resgatar parte da cultura perdida há muitos anos, trazendo aos olhos da população a beleza de danças e brincadeiras que estavam desaparecidas das mentes e corações dos povos indígenas.
Esse resgate tímido surgiu há pouco mais de uma década em Campo Grande, com apresentação de um grupo de jovens dançarinos terena, que repercutiu no meio cultural e nas comunidades indígenas, criando um sentimento de valorização. Os rituais, de origem remota, já são praticados novamente na maioria das aldeias terena de Mato Grosso do Sul com maior intensidade que nas décadas de 70 e 80.
A dança apresentada pelo Grupo Tê representa dois agrupamentos guerreiros que, chefiados pelos respectivos caciques, dançam em filas paralelas e depois se separam. Em seguida, repetem os mesmos passos dançados anteriormente, mas cada lado procura executar melhor os diferentes movimentos durante o maior tempo, pondo a prova sua resistência.
O Grupo que resistir por mais tempo é o vencedor, e seu cacique é carregado em triunfo ao redor da aldeia por todos que tomaram parte na dança. Sempre participam guerreiros em número par vestidos com diademas e saiotes de penas de emas. Eles pintam o corpo de branco e preto, e tambores e flautas garantem a música e o ritmo necessários.
Outra luta é recuperar a língua tradicional, que em muitos lugares não é falada nem pela população terena. Já há uma geração que tenta resgatar o orgulho pela riqueza e diversidade cultural desta nação indígena que, de índole pacifica, vivia na região do grande Chaco, no Paraguai. Cultivavam milho, mandioca, fumo, batata doce, algodão e diversos tipos de abóboras, além de coletarem frutos silvestres regionais e mel.
Aos homens cabiam, além da lavoura, a cestaria, a caça e a pesca. As mulheres eram responsáveis pelos trabalhos domésticos e, além deles, por dois tesouros que ainda permanecem em várias comunidades: a confecção de peças de cerâmica e a fiação do algodão para confeccionar faixas e peças de roupas.
Fugindo dos Kadiwéo, os terena foram adentrando ao território brasileiro. A fuga pretendia preservar, principalmente, as mulheres, cuja beleza ainda hoje pode ser vista em diversas comunidades, e atraia os perseguidores inimigos.
A guerra do Paraguai também trouxe prejuízos à cultura terena. Muitos índios foram convocados para lutarem junto às tropas do Império Brasileiro. Foram convocados os “capitães”, ou caciques, para formarem batalhões e, juntamente aos Kadiwéos, combaterem os soldados paraguaios. O resultado foi desastroso para os índios, porque sofreram uma redução drástica de população. Ao voltarem para suas comunidades, receberam apenas os fardamentos e armas velhas.
Para piorar a situação, o governo brasileiro, alegando motivos estratégicos, construiu a estrada de ferro interligando a bacia do rio Paraguai com o Atlântico. Isto literalmente dissecou o território terena concluindo assim o processo de desintegração tribal.
Mas foi no final do século XIX que o povo terena passou a intensificar as relações de troca com a sociedade branca envolvente. Chegaram inclusive a serem os responsáveis pelo abastecimento de gêneros alimentícios para toda a região dos municípios de Miranda e Aquidauana. Até hoje têm grande importância na de produtos horti-frutíferos nessas cidade onde a atividade econômica predominante é a pecuária.
Geraldo Ferreira | Popular.inf.br
Esse resgate tímido surgiu há pouco mais de uma década em Campo Grande, com apresentação de um grupo de jovens dançarinos terena, que repercutiu no meio cultural e nas comunidades indígenas, criando um sentimento de valorização. Os rituais, de origem remota, já são praticados novamente na maioria das aldeias terena de Mato Grosso do Sul com maior intensidade que nas décadas de 70 e 80.
A dança apresentada pelo Grupo Tê representa dois agrupamentos guerreiros que, chefiados pelos respectivos caciques, dançam em filas paralelas e depois se separam. Em seguida, repetem os mesmos passos dançados anteriormente, mas cada lado procura executar melhor os diferentes movimentos durante o maior tempo, pondo a prova sua resistência.
O Grupo que resistir por mais tempo é o vencedor, e seu cacique é carregado em triunfo ao redor da aldeia por todos que tomaram parte na dança. Sempre participam guerreiros em número par vestidos com diademas e saiotes de penas de emas. Eles pintam o corpo de branco e preto, e tambores e flautas garantem a música e o ritmo necessários.
Outra luta é recuperar a língua tradicional, que em muitos lugares não é falada nem pela população terena. Já há uma geração que tenta resgatar o orgulho pela riqueza e diversidade cultural desta nação indígena que, de índole pacifica, vivia na região do grande Chaco, no Paraguai. Cultivavam milho, mandioca, fumo, batata doce, algodão e diversos tipos de abóboras, além de coletarem frutos silvestres regionais e mel.
Aos homens cabiam, além da lavoura, a cestaria, a caça e a pesca. As mulheres eram responsáveis pelos trabalhos domésticos e, além deles, por dois tesouros que ainda permanecem em várias comunidades: a confecção de peças de cerâmica e a fiação do algodão para confeccionar faixas e peças de roupas.
Fugindo dos Kadiwéo, os terena foram adentrando ao território brasileiro. A fuga pretendia preservar, principalmente, as mulheres, cuja beleza ainda hoje pode ser vista em diversas comunidades, e atraia os perseguidores inimigos.
A guerra do Paraguai também trouxe prejuízos à cultura terena. Muitos índios foram convocados para lutarem junto às tropas do Império Brasileiro. Foram convocados os “capitães”, ou caciques, para formarem batalhões e, juntamente aos Kadiwéos, combaterem os soldados paraguaios. O resultado foi desastroso para os índios, porque sofreram uma redução drástica de população. Ao voltarem para suas comunidades, receberam apenas os fardamentos e armas velhas.
Para piorar a situação, o governo brasileiro, alegando motivos estratégicos, construiu a estrada de ferro interligando a bacia do rio Paraguai com o Atlântico. Isto literalmente dissecou o território terena concluindo assim o processo de desintegração tribal.
Mas foi no final do século XIX que o povo terena passou a intensificar as relações de troca com a sociedade branca envolvente. Chegaram inclusive a serem os responsáveis pelo abastecimento de gêneros alimentícios para toda a região dos municípios de Miranda e Aquidauana. Até hoje têm grande importância na de produtos horti-frutíferos nessas cidade onde a atividade econômica predominante é a pecuária.
Geraldo Ferreira | Popular.inf.br
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KUARUP -manifestação cultural dos povos indígenas do Alto Xingu
O Kuarup é uma manifestação cultural dos povos indígenas do Alto Xingu – Kalapalo, Matipu, Nafukuá, Kuikuro, Waurá, Aweti, Kamayurá, Meynako e Yawalapiti – e é a maior festa indígena do país. Ele acontece anualmente no Parque do Xingu, sempre no período de estiagem. É a mais alta homenagem que esses índios prestam aos seus mortos importantes.
Para os índios que promovem a Kuarup, os mortos são representados por troncos, fincados no pátio da aldeia promotora da festa. Nos dias em que o Kuarup acontece, interdições são levantadas e permissões são outorgadas: quem quiser, pode se casar, a moça reclusa pode ser liberta, o luto dos parentes terminará e o status definitivo será afirmado àqueles cujo falecimento se vai honrar.
O Kuarup é realizado sempre na aldeia do morto e a família deste é a anfitriã da festa e se encarrega de prover a alimentação para as aldeias convidadas. Por isso, quando morre algum índio, os seus parentes precisam se organizar, pois a realização do ritual exige um grande aumento na produção de alimentos.
Nos primeiros momentos da festa, tocadores de flautas uruá cantam e dançam aos pares, percorrendo todas as casas da aldeia. Os pajés fazem suas rezas aos mortos sepultados no pátio da aldeia.
Os mensageiros pariat saem convidando outras aldeias. Os troncos são enfeitados numa cerimônia que é acompanhada por choros e lamentações, que se estendem por toda a noite.
Ao final do segundo dia o Kuarup termina, com uma luta de huka-huka. Os troncos são retirados e jogados no rio ou no lago. Durante a noite de lamentações, todos os lutadores ficam acordados; eles temem dormir e ter maus sonhos. Acreditam que isso irá atrapalhar o bom desempenho na luta do dia seguinte, que começa com o raiar do sol.
Fotos de Roberto Stuckert Filho
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
O ÍNDIO
O índio é um assunto sempre presente em nossas vidas. Muito se fala dele, seja por canais de comunicação, revistas, jornais ou por meio de nossa própria cultura. No entanto é importante ressaltar, que pouco se sabe sobre ele, seu modo de viver, suas tradições, seus hábitos e crenças. Estima-se que atualmente existam cerca de 300 mil índios em território brasileiro, número este que nos faz refletir quando pensamos nos quase 6 milhões que existiam em nosso país antes da chegada dos colonizadores. Para compreendermos melhor esta situação basta dizer que se todos os índios brasileiros fossem colocados no Mineirão seriam necessários pouco mais que dois clássicos para comportar a população indígena. O caso mais grave de nossos dias se encontra no Paraná com os Avás-canoeiros tribo da qual só restam três membros.
O encontro de raças caracterizou-se por um grande massacre não só de vidas, mas de uma belíssima cultura. Extinguiu-se línguas, mitos, costumes, conhecimentos, técnicas e artefatos. Sem dúvida um patrimônio cultural que jamais será recuperado. Na realidade podemos afirmar que desde a chegada dos portugueses no Brasil até os dias de hoje, tem havido uma luta constante contra o índio. Luta na qual só existe um ganhador. A vitória é daquele que se julga civilizado. Um outro fenômeno importante de se destacar é a assimilação de seus membros na sociedade brasileira, o que contribui sem dúvida no decrescimento da população indígena.
Em meados da década de 30 o etnógrafo Claude Levi Stauss esteve no Brasil e registrou suas observações em seu livro Tristes Trópicos. Podemos verificar nesta passagem a imposição de uma outra cultura à Tribo dos Tibagy até então localizada nos estados do Paraná e Santa Catarina. “ Com grande decepção minha os índios do Tibagy não eram, portanto, nem totalmente índios “verdadeiros” nem, principalmente, “selvagens”. ... Ao encontra-los menos intactos do que contava, ia descobrir que eram mais secretos do que aquilo que podia esperar da sua aparência exterior. Eram uma ilustração perfeita dessa situação sociológica que tende a tornar-se exclusiva do observador da Segunda metade do século XX, a de primitivos aos quais a civilização fora brutalmente imposta e que deixam de interessar logo que se encontra eliminado o perigo que pareciam constituir. A sua cultura, formada em parte por antigas tradições que resistiram à influência dos brancos..... e por outra parte por contributos da sociedade moderna...”
O contato entre duas civilizações que diferem entre si, tende a gerar impressões, imagens e interpretações, buscando melhor compreensão e entendimento do ”outro”, o que nem sempre condiz com a realidade propriamente dita. De certa forma, em localidades de pouca aproximação e contato com tribos indígenas como os centros urbanos, a imagem do índio é enaltecida e romântica. Já em localidade onde o há proximidade com aldeias, a imagem da sociedade indígena é pouco valorizada chegando a ser negativa. Isto se deve ao antagonismo de interesses uma vez que ambiciam dos mesmos recursos.
É necessário entende-los e respeita-los. Compreender que os índios abrangem populações muito diferentes entre si, que a categoria não se define somente por oposição aos brancos ou como um grupo homogêneo. Diferem-se do ponto de vista de costumes, organização, estruturas habitacionais, línguas, porte físico e vários outros aspectos. Por exemplo: Os índios do alto Xingu apresentam uma estatura mediana e mais corpulenta em relação aos grupos Tupi que são sensivelmente mais baixos. Há aqueles que plantam, outros que se apoiam na coleta de recursos difundidos no meio ambiente em que vivem, já outros utilizam-se da caça para se alimentarem, muitos são nômades, outros não. Muitos dispõem suas aldeias em forma de circulo outros em forma de ferradura. Enfim é necessário compreender estas diferenças, conhece-los a fundo para buscar as soluções que garantam sua prosperidade futura e assegurem-lhe o direito de viver de acordo com seus costumes.
Os índios sem dúvida permeiam nosso imaginário como um mito, uma lenda em nossa cultura, mas a verdade é que nunca foram propriamente valorizados e respeitados. Pelo contrário, são ridicularizados como foi o Cacique Mario Juruna , político que nunca fora ouvido e sim abandonado em Brasília. Sacrificaram suas vidas em prol dos brancos. Muitos foram heróis de nossa história, porém não há livro que relate suas façanhas, nem daqueles que ajudaram os portugueses a ampliar nosso território, a conquistar terras, como Tibiriça, que salvou São Paulo (SP); Araribóia, que venceu os franceses, ou Felipe Camarão, que derrotou os holandeses.
Fazemos aqui nossas homenagens a estes homens, mulheres e curumins. Vamos apreciar suas vidas, valorizar sua cultura e quem sabe nos tornamos um pouco índio, um pouco mais livres e menos dependentes. Não precisa de muito, vamos seguir seus exemplos e sermos amáveis com nossas crianças, que tal se passarmos a respeitar nosso meio ambiente e dele somente retirar o necessário. Vamos nessa brincar como os animais, pisar no chão, respeitar a natureza como suporte de nossa vida social, não apenas como um recurso ambiental mas também um recurso sócio cultural. E que sabe assim encontraremos o tão necessário equilíbrio, equilíbrio este que pode garantir nossa sobrevivência neste mundo que teimamos em destruir.
O encontro de raças caracterizou-se por um grande massacre não só de vidas, mas de uma belíssima cultura. Extinguiu-se línguas, mitos, costumes, conhecimentos, técnicas e artefatos. Sem dúvida um patrimônio cultural que jamais será recuperado. Na realidade podemos afirmar que desde a chegada dos portugueses no Brasil até os dias de hoje, tem havido uma luta constante contra o índio. Luta na qual só existe um ganhador. A vitória é daquele que se julga civilizado. Um outro fenômeno importante de se destacar é a assimilação de seus membros na sociedade brasileira, o que contribui sem dúvida no decrescimento da população indígena.
Em meados da década de 30 o etnógrafo Claude Levi Stauss esteve no Brasil e registrou suas observações em seu livro Tristes Trópicos. Podemos verificar nesta passagem a imposição de uma outra cultura à Tribo dos Tibagy até então localizada nos estados do Paraná e Santa Catarina. “ Com grande decepção minha os índios do Tibagy não eram, portanto, nem totalmente índios “verdadeiros” nem, principalmente, “selvagens”. ... Ao encontra-los menos intactos do que contava, ia descobrir que eram mais secretos do que aquilo que podia esperar da sua aparência exterior. Eram uma ilustração perfeita dessa situação sociológica que tende a tornar-se exclusiva do observador da Segunda metade do século XX, a de primitivos aos quais a civilização fora brutalmente imposta e que deixam de interessar logo que se encontra eliminado o perigo que pareciam constituir. A sua cultura, formada em parte por antigas tradições que resistiram à influência dos brancos..... e por outra parte por contributos da sociedade moderna...”
O contato entre duas civilizações que diferem entre si, tende a gerar impressões, imagens e interpretações, buscando melhor compreensão e entendimento do ”outro”, o que nem sempre condiz com a realidade propriamente dita. De certa forma, em localidades de pouca aproximação e contato com tribos indígenas como os centros urbanos, a imagem do índio é enaltecida e romântica. Já em localidade onde o há proximidade com aldeias, a imagem da sociedade indígena é pouco valorizada chegando a ser negativa. Isto se deve ao antagonismo de interesses uma vez que ambiciam dos mesmos recursos.
É necessário entende-los e respeita-los. Compreender que os índios abrangem populações muito diferentes entre si, que a categoria não se define somente por oposição aos brancos ou como um grupo homogêneo. Diferem-se do ponto de vista de costumes, organização, estruturas habitacionais, línguas, porte físico e vários outros aspectos. Por exemplo: Os índios do alto Xingu apresentam uma estatura mediana e mais corpulenta em relação aos grupos Tupi que são sensivelmente mais baixos. Há aqueles que plantam, outros que se apoiam na coleta de recursos difundidos no meio ambiente em que vivem, já outros utilizam-se da caça para se alimentarem, muitos são nômades, outros não. Muitos dispõem suas aldeias em forma de circulo outros em forma de ferradura. Enfim é necessário compreender estas diferenças, conhece-los a fundo para buscar as soluções que garantam sua prosperidade futura e assegurem-lhe o direito de viver de acordo com seus costumes.
Os índios sem dúvida permeiam nosso imaginário como um mito, uma lenda em nossa cultura, mas a verdade é que nunca foram propriamente valorizados e respeitados. Pelo contrário, são ridicularizados como foi o Cacique Mario Juruna , político que nunca fora ouvido e sim abandonado em Brasília. Sacrificaram suas vidas em prol dos brancos. Muitos foram heróis de nossa história, porém não há livro que relate suas façanhas, nem daqueles que ajudaram os portugueses a ampliar nosso território, a conquistar terras, como Tibiriça, que salvou São Paulo (SP); Araribóia, que venceu os franceses, ou Felipe Camarão, que derrotou os holandeses.
Fazemos aqui nossas homenagens a estes homens, mulheres e curumins. Vamos apreciar suas vidas, valorizar sua cultura e quem sabe nos tornamos um pouco índio, um pouco mais livres e menos dependentes. Não precisa de muito, vamos seguir seus exemplos e sermos amáveis com nossas crianças, que tal se passarmos a respeitar nosso meio ambiente e dele somente retirar o necessário. Vamos nessa brincar como os animais, pisar no chão, respeitar a natureza como suporte de nossa vida social, não apenas como um recurso ambiental mas também um recurso sócio cultural. E que sabe assim encontraremos o tão necessário equilíbrio, equilíbrio este que pode garantir nossa sobrevivência neste mundo que teimamos em destruir.
São Paulo é campeão da I Copa Indígena de Futebol
Time da cidade de São Paulo de Olivença (AM) terminou invicto.
O time São Paulo de Olivença conquistou o título de campeão da 1ª Copa Indígena de Futebol do Amazonas, neste domingo (6). A final foi disputada contra o Autazes e terminou com o placar de 1 a 0, gol marcado pelo atacante Evanir, logo aos 7 min do 1º tempo, no Estádio Vivaldo Lima, o Vivaldão, em Manaus.
O jogo também marcou o encerramento do Fórum Amazonas Indígena (Forind) e fechou as atividades oficiais do Vivaldão, antes de ser demolido para a construção de uma nova arena para a Copa do Mundo de 2014.
Evanir será conhecido como o último jogador a marcar gol no estádio Vivaldão, que não abrigará mais jogos de futebol. Estudante do ensino médio e produtor rural, ele dedicou a façanha aos companheiros de time. "O grupo merece essa vitória. Minha família também", disse.
No jogo preliminar, o time do Barreirinha goleou o Benjamin Constant por 10 a 3 e ficou com a terceira colocação. Apesar da derrota, o goleiro Alberney Mura, do Autazes, foi o menos vazado da competição, em seis partidas disputadas. Ele sofreu apenas um gol, o da partida final.
A Copa Indígena de Futebol contou com a participação de dez seleções, representando 25 povos amazonenses. As outras seis equipes que estiveram no torneio foram Manaus, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Iranduba, Borba e Nhamundá.
O artilheiro da Copa Indígena de Futebol foi o atacante César Silva, do Barreirinha, com sete gols.
Os jogadores receberam R$ 2 mil de premiação. Os atletas que ficaram com a segunda colocação vão receber R$ 1 mil. "Foram precisos 40 anos para que um governo reconhecesse que os indígenas também deram sua colaboração para o futebol", disse o secretário da Seind, Jecinaldo Sateré-Mawé.
Altor: Glauco Araújo
Estádio Vivaldão será demolido para construção de arena da Copa 2014.
O jogo também marcou o encerramento do Fórum Amazonas Indígena (Forind) e fechou as atividades oficiais do Vivaldão, antes de ser demolido para a construção de uma nova arena para a Copa do Mundo de 2014.
Evanir será conhecido como o último jogador a marcar gol no estádio Vivaldão, que não abrigará mais jogos de futebol. Estudante do ensino médio e produtor rural, ele dedicou a façanha aos companheiros de time. "O grupo merece essa vitória. Minha família também", disse.
Time do São Paulo de Olivença. Em pé, da esquerda para a direita: Juracyr Mafra (técnico), Lupe (auxiliar-técnico), Dario, Valdimar, Washington, Renan, Francisco, José Nonato, Nequinho, Wagner e Sílvio. Agachados: Evanir, Anivaldo, Renato, Nailson, Jhonderson, Oleís e Luís Felipe (Foto: Divulgação/Seind)
No jogo preliminar, o time do Barreirinha goleou o Benjamin Constant por 10 a 3 e ficou com a terceira colocação. Apesar da derrota, o goleiro Alberney Mura, do Autazes, foi o menos vazado da competição, em seis partidas disputadas. Ele sofreu apenas um gol, o da partida final.
A Copa Indígena de Futebol contou com a participação de dez seleções, representando 25 povos amazonenses. As outras seis equipes que estiveram no torneio foram Manaus, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Iranduba, Borba e Nhamundá.
O artilheiro da Copa Indígena de Futebol foi o atacante César Silva, do Barreirinha, com sete gols.
São Paulo de Olivença foi campeão invicto da Copa Indígena de Futebol (Foto: Divulgação/Seind)
Altor: Glauco Araújo
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